Saúde e Bem-Estar

Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo

Dia da Atividade Física: conheça famílias que se uniram para sair do sedentarismo

Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo
06/04/2018 07:00
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Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.

A fruta não cai longe do pé. O ditado pode parecer clichê, mas diz muito sobre a influência da família sobre as pessoas. E quando o assunto é saúde não poderia ser diferente: seja para o bem, seja para o mal, a herança familiar pode ser determinante na vida de todos.
A genética, claro, tem seu papel, afinal pesquisas já provaram que muitas doenças podem passar de uma geração a outra. No entanto, além dos genes, a rotina a que se é exposto ao longo dos anos pode fazer com que algumas pessoas tenham vidas saudáveis enquanto outras não. Tanto é verdade que há 30 anos o Ministério da Saúde criou um programa voltado à saúde familiar, e cada vez mais estudos mostram a influência de se dividir a casa com pais, irmãos e filhos no bem-estar físico e mental.
Um desses estudos, feito por pesquisadores da Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, aponta que o risco de morte entre homens solteiros é 32% maior que entre os casados. Entre as mulheres, as solteiras têm 23% mais risco de morrer que as que têm um parceiro. Outra pesquisa, feita da Dinamarca, indicou que o risco de AVC aumenta conforme o estado civil: é 16% maior entre solteiros, 21% entre viúvos e 34% maior entre divorciados, comparando-se aos casados. O motivo, segundo os dados, é simples: quem tem um companheiro em casa conta com um suporte, que pode garantir o bem-estar e ajudar em caso de crises ou até mesmo de acidentes.

Rotina do Bem

Mas é nas escolhas do dia a dia que se observa o quanto o fator família é importante para a saúde, seja ela física, seja ela mental. Na casa da empresária Suellyn Lobo, de 32 anos, exercícios e alimentação regrada garantem mais qualidade de vida para os cinco moradores, além de aproximá-los. “Nós vamos juntos para a academia, sempre almoçamos e jantamos juntos, nos fins de semana vamos ao parque. Temos muitos assuntos em comum, ao contrário de muitas famílias, que se sentam à mesa com seus celulares e mal conversam”, fala Suellyn, que corre e pratica musculação.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
A rotina de exercícios quase diária começou por influência do marido, o médico pediatra Marcelo Lobo, de 44 anos. “Os esportes sempre fizeram parte do meu dia a dia. Na adolescência eu jogava vôlei e participava de campeonatos, mas acabei parando quando comecei a faculdade de Medicina. Depois retornei para acompanhar minha filha mais velha na natação e desde então não parei mais”, conta ele. E não parou mesmo: no ano passado, Marcelo completou sua primeira maratona. Suellyn fez meia maratona, 21 quilômetros.
E os filhos não ficam atrás: Isabelle, de 17 anos, já fez parte da Federação Estadual de Natação, Luísa, 15, faz musculação e outras aulas na academia que frequentam e o caçula, Leonardo, de 10 anos, faz parte da Federação de Natação desde o ano passado. “Eu não tive uma infância ativa, mas quis que com meus filhos fosse diferente. Com certeza eles terão mais qualidade de vida e levarão isso para o futuro”, orgulha-se Suellyn.

Família unida, sedentarismo combatido

Este envolvimento familiar é fundamental para manter o sedentarismo longe, garante Alejandro Ormeño, técnico responsável pelo Centro de Treinamento Sulgiro, especializado em treino funcional. “No centro, cerca de 70% dos nossos alunos têm alguém da família que treina também. Geralmente quem vêm primeiro são as mulheres. Logo elas começam a sentir os resultados e trazem os maridos, os filhos. E um vai incentivando o outro”, conta.
No caso do empresário Gérson Carlos da Silva, de 51 anos, aluno de Ormeño, o incentivo vem da esposa, Danielli, 47, e dos filhos, Júlio Cezar, 21, e Luiz Gustavo, 18.
“Eu e minha esposa sempre praticamos esportes, é algo natural na nossa família. A Danielli faz pilates e zumba atualmente, e os meninos já fizeram natação, jiu jitsu, tênis e futebol, e hoje praticam treinamento funcional”, conta.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
E agora Gérson, que já completou 13 meias-maratonas e inúmeras provas mais curtas, tem um novo parceiro de corrida. “Eu e o mais velho já fizemos duas provas de 10 quilômetros juntos e sempre que podemos treinamos. Além de nos incentivarmos um ao outro, temos um relacionamento melhor, mais papo. Isso com certeza nos une como família.”

Bons hábitos à mesa

Quando o assunto é alimentação, a influência é ainda mais forte. “Há vários estudos que demonstram que na gravidez e na amamentação vai se criando uma memória de paladar. O que a mãe come antes é depois reconhecido pela criança”, explica Flavia Auler, coordenadora do Curso de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

“Atualmente se fala muito nos primeiros mil dias de vida, que compreendem os nove meses de gestação e os dois primeiros anos da criança, já que este período é crucial no desenvolvimento. Isso não implica em colocar a criança em uma redoma, mas quanto mais tarde a criança for apresentada a alimentos não saudáveis, como doces e ultraprocessados, menos riscos ela vai correr futuramente”, salienta Flavia.

A professora de balé Daniele Coelho, 41 anos, mãe do pequeno Gael, de 2 anos e meio, tem plena consciência disso e faz questão de que em casa se cultivem bons hábitos desde cedo. “Eu sempre fui do mundo da “besteira”, almoçava salgadinho com refrigerante. Mas quando engravidei, pensei: eu tenho que dar um jeito de meu filho seguir o que é certo e vou fazer desde já. Hoje o Gael é o máximo na alimentação! Come direitinho, quase não come doce, é até meio “natureba”. Acho que ele já nasceu assim, mas eu também direcionei e a escola ajudou”.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
A escola, aliás, é parte importante neste processo e faz com que muitas vezes os filhos se tornem responsáveis por serem os agentes de mudança dentro do lar. “As crianças levam para os pais o que aprendem a comer no recreio e acabam levam os adultos para um mundo mais saudável”, diz Flavia Auler. “Quando eu fui procurar a escola, eu pedi primeiro o cardápio, pois queria uma escola que tivesse a mesma linha de raciocínio. Hoje estamos em uma fase em que eu e o Gael, educamos o Marcos. Ele já parou até de tomar refrigerante”, brinca Daniele, se referindo ao marido, o técnico cinematográfico Marcos Ravazzani, de 40 anos.

Planejamento e inclusão

O segredo para uma alimentação saudável em família, segundo a nutricionista Flavia Sguario, é que ela seja inclusiva, ou seja, que sirva na medida do possível a todo o grupo. “O planejamento também é fundamental, desde a definição do cardápio, até o preparo, passando pelas compras. Quanto maior o envolvimento de todos, melhor”, justifica.
Para a professora de pedagogia Andrea Cordeiro, de 46 anos, este é um processo natural. “Almoçamos em casa todos os dias. No fim de semana organizamos o cardápio e decidimos quem vai cozinhar em cada dia. Nos sábados fazemos as compras para a semana”, diz ela, que se reveza com o marido Lúcio Esper no preparo das refeições dos três filhos, Laura, 24, Helena, 23, e Benjamin, 8.
Os bons hábitos se intensificaram com o nascimento do caçula. “Quando o Benjamin nasceu minhas filhas já estavam grandes e as ideias sobre uma alimentação infantil saudável já tinham melhorado muito em comparação ao que vivemos na infância delas. Na busca por proporcionar bons hábitos para ele fomos naturalmente melhorando os nossos. Aqui ninguém consome refrigerante, carne vermelha e embutidos. Mas também não tem radicalismo, porque achamos que a alimentação tem o sentido de unir e não de dividir. Estes dias, por exemplo, teve aniversário e teve bolo, mas feito em casa”, conta Andrea.

Mente sã

Reunir-se em família para praticar esportes e fazer uma refeição saudável em um primeiro momento implica em reforçar hábitos que contribuem para a saúde física, mas os benefícios vão muito além. Uma revista americana de pediatria publicou um estudo realizado com 4.746 adolescentes de 11 e 18 anos mostrando que o índice de depressão era menor entre os que faziam as refeições com os pais. Os que comiam frequentemente com a família também eram menos propensos a fumar, beber e usar drogas.
Isto reflete outro ponto fundamental para a saúde mental: ter tempo para aqueles que amamos nos ajuda a sermos pessoas melhores e mais felizes. E encontrá-lo em meio a tantos afazeres diários também é um hábito que se pode aprender e cultivar em família. “A presença é o maior presente que podemos dar a um familiar”, afirma Honorio De La Iglesia López, formado em Mindfulness pelo Instituto de Yoga e Mindfulness Nirakara e membro do Instituto Europeu de Psicologia Positiva.

Participação por inteiro

Ele, no entanto, garante que não basta a presença física, é necessária a presença mental. “A forma como vivemos hoje nos força a estarmos com o corpo em um lugar e a mente em outro. Muitas vezes estamos com nossa família, mas pensando no trabalho”, explica.
Neste sentido, é preciso reeducar a mente e uma maneira de fazer isso no dia a dia é começar a prestar mais atenção no que se está fazendo.

“Na hora do almoço, por exemplo, basta deixar o celular de lado e saborear a comida e as companhias. No banho, em vez de planejar o dia, apenas sentir a temperatura da água. Precisamos desta atenção plena para ter a noção exata do que nos acontece. Nas pequenas coisas, necessitamos estar aqui, senão perdemos a vida, perdemos a infância dos nossos filhos”, ensina López.

Para Iara Elizabeth Redwitz de Souza, especialista em terapia familiar e professora do curso de Psicologia da Universidade Tuiuti, o bem-estar mental depende muito do suporte familiar. “A família, seja ela biológica ou não, é a célula da nossa sociedade. Não é a única responsável pelas escolhas do indivíduo, mas tem uma responsabilidade considerável”, afirma.
E, claro, não existe uma fórmula para a felicidade, mas para ela é possível identificar hábitos de uma família mentalmente saudável. “São famílias que falam de sentimentos e que respeitam os sentimentos uns dos outros. Que ampliam o processo de escuta e em que o poder é flutuante, não rígido. São famílias que entendem que a vida é feita de momentos agradáveis e felizes, mas que aprendem e se fortalecem tanto na dor quanto no amor.”

Apague o mau hábito

Para de fumar é uma das principais resoluções de pessoas que se propõe a ser mais saudáveis — e para isso, o apoio da família pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso. “Às vezes vemos casos em que um casal fuma e quando um tenta parar o outro acaba boicotando, pois, inconscientemente, vê o cigarro como algo que os aproxima e sente medo de que isto se perca. Mas também vemos casos em que ambos resolvem parar juntos e esta cumplicidade acaba sendo o motor propulsor para a mudança”, explica a psicóloga Iara Elizabeth Redwitz de Souza.
Foi o que ocorreu com a analista Laura Roda, de 36 anos. “Parei de fumar há 8 anos. Na época era casada e pensava em parar de fumar para engravidar. Eu e meu ex-marido colocamos uma data para deixar o cigarro, eu em uma semana e ele na seguinte. Ele ter parado também foi decisivo para que eu não voltasse a fumar”, conta.
Há também casos de pessoas que resolvem parar de fumar para preservar a saúde dos demais membros. “Meu marido fumou durante 35 anos, tentou parar várias vezes e não conseguiu. Até que nosso filho teve duas crises de pneumonia e ele viu que estava fazendo mal para ele. Então ele deixou o cigarro”, conta a manicure Tatiane de Souza, esposa do motorista Florisvaldo Prado e mãe do Bernardo, de quase dois anos. “Já faz um ano que ele parou e há um ano nosso filho não tem nenhuma crise.”
Florisvaldo do Prado parou de fumar apos 35 anos, por causa do nascimento de sue filho mais novo Bernardo, agora com 2 anos. Na foto, Florisvado, sua esposa tatiane de Souza e seus filhos Isabelli do Prado e Bernardo.
Florisvaldo do Prado parou de fumar apos 35 anos, por causa do nascimento de sue filho mais novo Bernardo, agora com 2 anos. Na foto, Florisvado, sua esposa tatiane de Souza e seus filhos Isabelli do Prado e Bernardo.
Além disso, muitos deixam a fumaça para trás para dar o bom exemplo para os filhos. E com razão, já que uma pesquisa realizada pelo professor do curso de Medicina da PUCPR José Carlos Moura Jorge com a participação da aluna Mariah Rodrigues Paulino, mostrou que a influência vem de casa. O estudo foi realizado com 1.759 alunos do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas de Curitiba. Entre os 6% dos estudantes de 11 a 17 anos que fumavam, 69% tinham um familiar tabagista.
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