Saúde e Bem-Estar

Talita Boros Voitch

No limite da pressão: saiba quando ansiedade, emoção comum, vira doença

Talita Boros Voitch
19/07/2017 12:00
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(Foto: VisualHunt)

Falta de sono, gastrite, preocupação excessiva, dores no corpo, perda de concentração. Estes são alguns dos principais sintomas dos distúrbios de ansiedade, que já afastaram 110 mil brasileiros do trabalho nos últimos quatro anos. Do ponto de vista biológico, a ansiedade é fruto do estresse. Um está diretamente ligado a outro. Mas afinal, por que estamos mais desgastados e ansiosos?
Uma sociedade hiperconectada e competitiva, que valoriza o profissional que se dedica exclusivamente e integralmente ao trabalho, contribui significativamente para a sensação de pressão e o aumento dos distúrbios de ansiedade. “Você ir para casa com o WhatsApp ligado no trabalho é uma exigência. Isso gera uma mudança nos neurotransmissores, que desencadeiam quadros de ansiedade e depressão”, afirma o médico psiquiatra Ricardo Manzochi Assmé, diretor secretário da Associação Paranaense de Psiquiatria.
Na prática, a consequência desse cenário é que a ansiedade já representa praticamente dois de cada dez afastamentos por transtornos mentais e comportamentais no Brasil, grupo que abrange também o transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos mentais por uso de drogas e álcool e outros. Os casos de auxílios-doença por ansiedade, segundo os dados mais recentes da secretaria da Previdência, cresceram pouco mais de 17% em quatro anos, passando de 22,6 mil, em 2012, para 26,5 mil em 2016.
Na opinião do psicólogo e psicanalista Eraldo Felipe de Melo não é possível desassociar o peso de fatores contemporâneos – como imediatismo, instabilidade econômica, excesso de informação – do aumento dos quadros de ansiedade entre os brasileiros. “É coerente dizer que isso está ligado ao atual estilo de vida da sociedade que valoriza mais o que é veloz do que a ordem natural das coisas”, diz.
Quando é uma doença?
Embora a ansiedade seja uma emoção normal do ser humano, o excesso de preocupação com o futuro pode se caracterizar como doença. A verdade é que muita gente não percebe, mas vive sob pressão o tempo todo. Uma hora a conta vem. “Fatores estressores sempre existiram na vida humana, mas agora é diferente. A pessoa nem percebe que o celular é uma fonte de estresse. E quando se dá conta, está em quadro ansioso”, avalia Assmé.
Em tempos de crise, por exemplo, a ameaça de demissão é um sentimento comum. Os especialistas não discordam: é normal ficar apreensivo diante dessa possibilidade. Porém, torna-se um problema mais sério quando o medo vira uma companhia constante do indivíduo, incapacitando-o. A pessoa doente vive no modo automático, com uma preocupação recorrente, e sofre de dores no corpo que podem levar à perda total de concentração.
Mulheres e mais jovens sofrem mais
Os transtornos de ansiedade são duas vezes mais comuns em mulheres do que em homens, independentemente da condição social. A conclusão é do estudo mais recente e relevante feito sobre a doença, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que revisou mais de 1.000 artigos e pesquisas sobre ansiedade e depressão realizados a partir de 1999.
Entre os dois sexos, pessoas com menos de 35 anos são as maiores vítimas. Além disso, indivíduos com outras doenças, como câncer, problemas cardíacos, também são os mais afetados pelos distúrbios de ansiedade.
Tratamento
As preocupações derivadas da ansiedade dificilmente desaparecem por conta própria. Pelo contrário, tendem a piorar com o tempo se não houver tratamento adequado. Acompanhamento psicológico é o primeiro passo. Só um profissional pode diagnosticar se o problema é algo que pode ser tratado apenas com terapia ou é necessário o uso de remédios. “Na maioria dos casos não se usa medicamentos, pois a origem da ansiedade é psíquica. A medicação é usada apenas em situações mais graves”, afirma o psicólogo Eraldo Felipe de Melo
Uma série de pesquisas recentes já mostrou que mudanças simples de hábitos — como praticar exercícios físicos, fazer massagem ou trabalho voluntário – podem ajudar na melhora dos sintomas ansiosos. Quando há um transtorno, porém, o alívio é temporário. Por isso, é importante buscar um profissional para identificar as causas e gravidade do problema.
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