Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Placebo pode ser usado contra depressão em crianças e adolescentes?

Amanda Milléo
10/03/2017 09:00
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(Foto: Bigstock)

São poucos os estudos envolvendo medicamentos para o combate à depressão em crianças e adolescentes, mas uma revisão de literatura recente trouxe resultados novos para a comunidade médica. Publicado na revista científica Lancet, o apanhado das pesquisas mostrou que a fluoxetina era o medicamento com melhores dados em eficácia e tolerabilidade, em relação a outros antidepressivos, e que até mesmo o placebo teria destaque quando se fala de transtornos mentais na infância e juventude.
Embora o artigo demonstre que o “medicamento” placebo não apresenta diferenças significativas quando comparado a alguns antidepressivos, ainda não é possível considerá-lo para o tratamento das crianças e adolescentes, conforme explica Cleverson Higa Kaio, médico psiquiatra, mestre em saúde da criança e adolescente pela Universidade Federal do Paraná e membro da Sociedade Paranaense de Psiquiatria.
“O placebo não tem nenhum componente químico. É como se fosse farinha mesmo, sem efeito farmacológico. Foi demonstrado que a fluoxetina é um medicamento estatisticamente melhor que o placebo e, portanto, o tratamento mais adequado”, explica Kaio.
O uso do placebo só poderia ser considerado, segundo o médico, em casos que a criança ou o jovem não tenham nenhuma psicopatologia, mas desejem tomar uma medicação ou há um pedido da família. Nesse caso, o médico consideraria a eficácia como uma melhora psicológica ou na aderência da criança ao tratamento.
“Saber que está sendo cuidado e protegido, que está sendo levado ao profissional da saúde e que a família está acompanhando. O fato de tomar um comprimido, mesmo que seja um placebo, pode trazer um benefício nesse sentido, mas não em um sentido farmacológico”, diz o psiquiatra, que reforça: “Ainda é mais recomendável prescrever psicoterapia.”
Fluoxetina: a melhor mesmo?
Por mais discutível que seja, atualmente, o uso da fluoxetina por crianças e adolescentes, esse medicamento teve destaque no estudo publicado no Lancet, mas por uma razão duvidosa. “A maior evidência da fluoxetina também pode ser explicada porque esse é o antidepressivo mais estudado, que teve um maior número de ensaios clínicos, 10. A paroxetina, outra medicação estudada, teve cinco ensaios clínicos”, explica o médico psiquiatra Cleverson Kaio.
O artigo também não aborda a importância da psicoterapia, sendo a combinação (medicamentos + psicoterapia) o tratamento mais indicado às crianças e adolescentes com transtornos metais, como a depressão. O papel da psicoterapia é importante, de acordo com o especialista, porque diminui o receio dos pais de que as crianças fiquem dependentes da medicação além de aumentar a aderência da própria criança ao tratamento.
Sinais diferentes
Crianças e adolescentes, nem sempre, conseguem expressar os sentimentos de forma clara, o que pode prejudicar o diagnóstico da doença. Fique atento se a criança ou adolescente apresentar os seguintes sinais:
– Isolamento dos colegas;
– Dificuldades em obedecer regras, que antes obedecia sem problemas;
– Queda no rendimento escolar;
– Prejuízo na socialização com colegas;
– Sintomas físicos: dores, cólicas, queixas físicas de tensão muscular e gástricas.
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