Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

“Depressão de verdade é estar triste quando tudo na vida está bem”

Amanda Milléo
04/08/2017 12:00
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Para crianças, por exemplo, a prática não é recomendada. Foto: Bigstock

Kevin Breel foi um dos primeiros jovens a confessar uma doença que até hoje causa certo tabu quando dita em voz alta. Em 2013, antes da série 13 Reasons Why se tornar trend topics nas redes sociais (a história fala das razões que levaram a protagonista, uma adolescente, a cometer suicídio), Breel subiu no palco do Ted Talk e afirmou que era imperativo que falássemos sobre a depressão.
“Quem não está acostumado com a depressão tem uma impressão errada de que ela significa estar triste. Quando você termina com sua namorada, quando você não consegue o emprego que queria, isso é tristeza, é uma emoção real. Depressão de verdade é estar triste quando tudo na vida está bem”, conceitua Kevin durante a palestra, que tem até o momento mais de 790 mil visualizações no Youtube. Hoje, com 23 anos, Kevin é comediante, ativista da saúde mental e escritor – seu livro, “Confissões de um adolescente depressivo”, um relato pessoal sobre a doença, acaba de ser lançado no Brasil.
Na obra, Kevin, que tentou se matar, fala sobre uma cultura que impede que crianças e adolescentes sejam diagnosticadas: elas não apresentam os mesmos sintomas que os alunos em depressão.
“As pessoas fazem uma associação da infância a um período bacana, em que a criança brinca e é alegre. É muito difícil aos pais aceitarem que ele pode estar deprimido. A criança com depressão perde o interesse pelas coisas, mesmo que continue agitada ou agressiva”, explica Angela de Leão Bley, coordenadora do serviço de psicologia do hospital Pequeno Príncipe.
Além disso, Breel também salienta a importância de conversar sobre a depressão, tamanha sua prevalência: de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que lançou neste ano a campanha “Depressão: vamos conversar”, já são 300 milhões de pessoas afetadas pelo problema no mundo.
Sintomas
Mudanças nos hábitos alimentares, no sono, um mal estar que a criança não consegue explicar e somatiza em outras partes do corpo, como dores de cabeça e de barriga podem ser sinais de depressão infantil. Nos adolescentes, comportamento mais irritadiço e braveza que surgem de forma drástica precisam de atenção.
“Dos 7 aos 12 anos de idade há um aumento nas sinapses nervosas cerebrais dos adolescentes. Ele passa a formar a própria personalidade e é normal que fique mais rebelde. Mas quando isso causa dificuldades no aprendizado, ou são mudanças muito drásticas de comportamento, é importante verificar se não é uma disfunção”, alerta Felipe Augusto Dufloth, médico psiquiatra do hospital Marcelino Champagnat e do Centhre – Centro de Tratamento do Humor Resistente.
Antes de fazer o diagnóstico da depressão, médicos e psicólogos eliminam fatores orgânicos, como anemia, alteração no estômago ou outros fatores que possam causar os mesmos sintomas. “Na depressão, uma das principais causas é a família. A criança é como uma esponja que absorve tudo que o adulto der para ela. Se há uma separação na família ou os pais passam por dificuldades no trabalho, tudo isso altera e pode gerar a depressão”, reforça Dufloth.
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