Saúde e Bem-Estar

Marina Mori, especial para a Gazeta do Povo

Mudança simples de hábito ajuda a conter o avanço da miopia

Marina Mori, especial para a Gazeta do Povo
22/06/2017 08:00
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Foto: Bigstock

Em 33 anos, estima-se que metade de população mundial será míope. E, em menos de três – em 2020 -, a doença afetará um terço das pessoas. Os números assustam: nos últimos 50 anos, o número de indivíduos diagnosticados com a doença duplicou. Segundo especialistas, estamos em meio a uma epidemia global de miopia.
A doença ocorre quando o olho é comprido ou curvo demais, o que faz com que a luz não atinja a mácula, um ponto específico do globo ocular. O principal sintoma da miopia é a dificuldade em enxergar de longe e visão embaçada. Geralmente, a miopia surge durante o desenvolvimento do indivíduo, podendo começar nos primeiros anos de vida até os 23 anos, em média.
O professor de desenvolvimento da visão e decano da Faculdade de Optometria da Universidade de Houston, nos Estados UnidosUm Earl Smith é um dos pesquisadores à frente de um estudo que pretende investigar as causas e possíveis tratamentos da doença. Ele recebeu financiamento de US$ 1,9 milhão (R$ 6,3 milhões) para pesquisa o tema.
“Em situações onde as demandas educacionais são intensas as pessoas têm muita tendência a se tornarem míopes. Isso e o fato de elas passarem mais tempo em lugares fechados do que ao ar livre”, disse Smith em entrevista publicada no site da universidade.
O especialista também citou o índice de jovens asiáticos com miopia. Segundo ele, entre 80% e 95% dos adolescentes que terminam o ensino médio nas zonas urbanas têm a doença e há evidências de que a porcentagem também esteja crescendo nos EUA e na Europa.
Prevenção?
Grande parte dos especialistas defende que quanto mais exposição à luz solar, melhor. Alguns estudos dizem que a doença progrediria mais lentamente em crianças que passassem mais tempo ao ar livre. “O hábito não é capaz de regredir o grau da miopia, mas pode diminuir a possibilidade de mais pessoas desenvolverem a doença” afirma Arthur Schaefer, secretário geral da Associação Paranaense de Oftalmologia.
O especialista relembra, porém, que nunca se deve olhar diretamente para o sol. “Isso pode acarretar em sérios problemas”, alerta.
Descansar a vista também é uma prática recomendável principalmente para quem trabalha com computadores e livros. Passar muito tempo olhando para objetos próximos pode aumentar o risco de miopia, de acordo com o NHS, serviço público de saúde britânico.
Schaefer recomenda que, após uma hora “forçando” a visão, é importante ficar ao menos cinco minutos olhando para longe. “Isso ajuda a relaxar os músculos dos olhos”, explica.
Descoberta precoce
No caso de Rafael Fieltes, filho da confeiteira Carla Blank, a descoberta dos seus três graus de miopia foi quase como uma novela. O garoto tinha seis anos e estava em processo de alfabetização, mas a dificuldade em enxergar as letrinhas miúdas do quadro foi interpretada erroneamente pela professora. “Ela me disse que ele tinha déficit de atenção e hiperatividade, mas quem conhece o Rafa sabe que esse diagnóstico não tem nada a ver com ele”, relembra Carla.
Rafael Fieltes, 10, foi diagnosticado com 3,5 graus de miopia aos seis anos de idade. Foto: George Guedes / Divulgação
Rafael Fieltes, 10, foi diagnosticado com 3,5 graus de miopia aos seis anos de idade. Foto: George Guedes / Divulgação
A mãe, então, passou a ensinar o filho em casa, mas a falta de interesse e a irritabilidade de Rafael a deixaram em dúvida com relação aos problemas de atenção. “Eu nem cogitava que era miopia. Até contratei uma equipe psicopedagógica para ele”, afirma. Tudo fez sentido pouco tempo depois, quando Carla escreveu algumas letras em tamanho grande em uma lousa. “Ele estava a dois metros e disse que não enxergava. Aí foi se aproximando e só conseguiu ver nitidamente quando estava a 60 centímetros do quadro”, conta.
Após uma consulta no oftalmologista, Rafael foi diagnosticado com miopia e astigmatismo. Hoje, com 10 anos, ele usa óculos com lentes de 4,5 graus e, segundo a mãe, que também é míope, a adaptação foi ótima desde o início. “O desempenho na escola foi incrível. Em dois meses ele já estava alfabetizado”, diz.
Tratamentos
Atualmente, existem alguns tratamentos para tentar frear a evolução do grau de miopia, além do uso de óculos. Cada método varia de acordo com o nível da doença e do ritmo com que ela avança. A partir de evoluções periódicas – de seis meses a um ano –, o oftalmologista pode indicar a terapia mais adequada.
– um deles envolve o uso do medicamento atropina, um colírio capaz de relaxar a musculatura dos olhos;
– outro método, bastante utilizado em crianças, consiste no uso de óculos bifocais – além de as lentes terem o grau adequado para o paciente, os óculos têm um grau extra, para que os olhos não precisem se contrair excessivamente.
– chamado de ortoceratologia, o tratamento é semelhante a um aparelho ortodôntico. O paciente utiliza uma lente de contato durante a noite, fazendo com que a curvatura do olho seja remodelada.
Cirurgia
É recomendada apenas quando o grau é estável. Isso pode ocorrer a partir dos 21 anos ou até os 40, portanto é fundamental que o paciente faça um acompanhamento contínuo até que o especialista ache viável. Crianças e adolescentes em crescimento não são indicados para a cirurgia.
Atualmente, o método mais utilizado é o laser. “Ele consegue corrigir até nove graus de miopia, cinco de hipermetropia e cinco de astigmatismo. Porém, cada organismo suporta até um determinado grau de correção”, explica Luiz Fernando Fajardo, oftalmologista do Instituto de Oftalmologia de Curitiba. Segundo o médico, os exames pré-operatórios é que vão indicar até quanto é possível resolver o problema.
Em casos de miopia severa, com 10, 15 ou 20 graus, recomenda-se a cirurgia para implante de lentes intraoculares.
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