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Estrabismo sem tabu
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Que criança nunca brincou de entortar os olhos? A prática, apesar de ser comum quando se faz uma careta, é coisa séria quando se sofre de estrabismo. Todo bebê é estrábico, ou seja, tem um olho ou ambos desviados para dentro, para fora, para cima ou para baixo, até cerca de quatro meses de idade. Se os olhinhos permanecem tortos depois disso, é preciso buscar ajuda médica, para evitar que o problema prejudique o desenvolvimento da visão. “O aparecimento do estrabismo na criança é uma situação de emergência”, alerta o oftalmologista Carlos Ramos de Souza Dias, que recomenda início imediato do tratamento. Ele explica que a importância do diagnóstico precoce está na capacidade de evitar as alterações sensoriais que, caso ignoradas, podem provocar desde a falta de coordenação na retina – sintoma clássico do estrabismo –, até a perda da visão no olho desviado.

Outro ponto que reforça a importância de um tratamento rápido é o aspecto psicológico da criança. Segundo a oftalmologista pediátrica Ana Tereza Ramos Moreira, coordenadora da disciplina de Oftalmologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), é preciso tentar resolver todo problema oftalmológico até que sejam alcançados os seis anos de vida. “Até essa idade, é difícil a criança ter algum problema com a autoestima. Mas, a partir daí, os coleguinhas já começam a colocar apelidos e a criança volta para casa chorando, não quer mais ir para a escola e tem problemas de discriminação”, explica.

A informação é condizente com o resultado de uma pesquisa divulgada no final do mês passado e realizada por uma clínica oftalmológica na Suíça. Com fotos de diversas crianças em mãos, e questionadas sobre quem convidariam para a própria festa de aniversário, apenas 18, das 48 crianças entrevistadas, disseram que uma criança estrábica receberia o convite.

Apoio

Existem vários tipos de estrabismo e as causas também variam bastante. Mas, independentemente da causa, a família deve, desde cedo, fortalecer a autoconfiança da criança e apoiá-la no tratamento necessário, seja no uso de óculos, tampão ou cirurgia. “Sempre que a criança for colocar óculos ou tampão, é preciso fazer uma festa, mostrando sempre que aquela mudança é uma coisa boa, que vai ajudá-la a enxergar melhor”, diz a oftalmologista. Conversar com professores na escola, para que eles preparem os coleguinhas, e não aceitem provocações também é importante, assim como não desanimar o filho. “Inicialmente são os pais que não aceitam bem um tratamento que exija óculos, por exemplo. Eles dizem: ‘Mas doutora, meu filho é tão agitado, nunca vai parar de óculos’. Descobrem que estavam errados quando o filho não tira mais os óculos porque percebe que realmente enxerga melhor com eles”, explica.

A dica final? Nada de deixar a criança sem os óculos ou tampão em festinha, ou ceder quando vem aquela manha. “Há uma maneira de convencer pais e familiares de que o tratamento é importante para o filho. Estudos comprovam que quem tem apenas um olho bom, tem muito mais chance de, ao longo da vida, sofrer algum acidente e perder a única vista boa que restava. Que pai vai querer correr o risco de viver com uma responsabilidade como essa?”, finaliza Ana Tereza.

Teste do olhinho

Desde 2007 os bebês recém-nascidos devem passar pelo teste do olhinho, que é rápido e indolor e avalia a presença de tumores, catarata congênita, glaucoma congênito, malformações e doenças infecciosas. O estrabismo não é detectado pelo teste, mas deve ser investigado com um oftalmologista pediátrico antes de a criança completar um ano de idade.

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