Saúde e Bem-Estar

Campanha incentiva pais a “trocar” o celular pelos filhos

Katia Michelle, especial para Gazeta do Povo
08/06/2016 12:02
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Na campanha assinada pela TIF Comunicação, ilustrações e frases de efeito alertam para os riscos da "violência virtual". Fotos: reprodução

“Menino, larga esse celular!” Se você já falou ou ouviu essa frase e também acha que as crianças estão muito ligadas a aparelhos eletrônicos, está na hora de começar a prestar atenção nos próprios hábitos. Não só as crianças estão desenvolvendo uma dependência desses aparelhos, como os adultos estão negligenciando o convívio familiar em detrimento do mundo digital.
Campanha é assinada pela TIF Comunicação, de Curitiba. Foto: reprodução.
Campanha é assinada pela TIF Comunicação, de Curitiba. Foto: reprodução.
O “fenômeno” já está sendo chamado de “violência virtual” e também é considerado abuso infantil. Para alertar sobre a situação, o Projeto Dedica, da Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas (AAHC), acaba de lançar a campanha “Conecte-se ao que importa” ilustrando várias situações comuns no cotidiano das famílias contemporâneas.
Assinada pela TIF Comunicação, de Curitiba, a campanha traz uma série de ilustrações com títulos como “A conversa em casa pode passar dos 140 caracteres”; “Quando você larga o celular, seu filho é que vibra” e “Mãe, qual é a senha para conversar com você”. Os títulos são de Isadora Correia e as ilustrações de Juan Ignácio Hervas.
Excesso de uso dos equipamentos eletrônicos pelos pais gera falta de vínculo dentro de casa. Foto: Reprodução.
Excesso de uso dos equipamentos eletrônicos pelos pais gera falta de vínculo dentro de casa. Foto: Reprodução.
Para a médica pediatra e psicanalista Luci Pfeiffer, responsável pelo projeto, muitos pais ainda não se dão contam dessa nova realidade. “Os pais não nasceram com essa tecnologia, os filhos, sim. Então, eles acham bonito o bebê conseguir acessar o tablet com o dedinho, por exemplo, mas não se dão conta dos riscos futuros que o excesso de uso dessas tecnologias causa”, diz a médica, que também é doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFPR.
Para ela, o vício está generalizado e alcança pais e filhos. “Está ocupando o lugar do vínculo familiar, distorcendo e prejudicando a formação das crianças. Isso também é uma violência, alerta”.
Muitos pais nem percebem o abuso,, mas crianças tendem a imitar os adultos e, por isso, também passam bastante tempo com os aparelhos. Foto: reprodução.
Muitos pais nem percebem o abuso,, mas crianças tendem a imitar os adultos e, por isso, também passam bastante tempo com os aparelhos. Foto: reprodução.
Pesquisa
Segundo pesquisa global realizada pela AVG Technologies, no ano passado, os filhos se sentem trocados por smartphones dentro de casa. O estudo mostrou que, em comparação com outros países, os pais brasileiros são os que mais usam dispositivos móveis em excesso. A pesquisa apontou que 87% dos filhos ficam descontentes, com essa situação. Entre as crianças entrevistadas, 56% afirmaram que confiscariam os dispositivos móveis dos pais se pudessem.
Os filhos afirmaram que frequentemente os pais se distraem usando o aparelho enquanto conversam com eles. No levantamento, 32% dos menores entrevistados afirmaram que se sentiam desprezados quando isso acontece. Foram entrevistados 6.117 pessoas, pais e seus filhos com idades entre 8 e 13 anos, da Austrália, Brasil, Canadá, República Tcheca, França, Alemanha, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos. No Brasil, foram 316 entrevistados.
Primeiro passo
A campanha “Conecte-se ao que Importa” é o primeiro passo da Associação dos Amigos do HC para alertar sobre essa situação. De acordo com a médica Luci Pfeiffer, despertar a atenção para essa “violência virtual” é muito importante para que os pais se conscientizem e mudem hábitos. “Nossa preocupação também é a prevenção”, diz a médica sobre o trabalho do Projeto Dedica em defesa dos direitos das Crianças e dos Adolescentes.
Ela adianta que a segunda fase da campanha vai trazer um alerta sobre os danos do excesso do uso de equipamentos eletrônicos para pais e filhos, tanto psíquicos quanto físicos. A terceira fase vai abordar o vício e suas consequências, como isolamento, bullying, pornografia e pedofilia. A campanha deve ter seguimento até o fim do ano, mas o alerta é contínuo.
Campanha terá mais duas fases e deve se estender até o final de 2016. Foto: reprodução.
Campanha terá mais duas fases e deve se estender até o final de 2016. Foto: reprodução.