Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Referência no Brasil, Hospital Evangélico atende mais de 4 mil pessoas queimadas todos os anos

Amanda Milléo
20/03/2018 07:00
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Fachada do Hospital Evangélico de Curitiba (Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo) | Gazeta do Povo

Quem sobe com pressa pela Alameda Augusto Stellfeld, no Bigorrilho, mal percebe quando a rua desemboca no meio da praça Alfredo Andersen. É impossível, porém, passar batido pela gigantesca e oponente construção amarela que desponta por entre os galhos das árvores – o Hospital Universitário Evangélico de Curitiba.
O agito dos cruzamentos que envolvem a quadra do hospital é apenas um vislumbre da correria que acontece lá dentro. Referência em tratamento de queimaduras no Brasil, o Evangélico de Curitiba é o único hospital a atender pacientes queimados da capital e da região metropolitana, somando mais de 4 mil novos atendimentos todos os anos. Mesmo quem sofre os acidentes no interior do estado busca a instituição para os tratamentos, que são complexos, longos e dolorosos.
Em números, são cerca de 500 atendimentos de casos médios a graves (com queimaduras de segundo a terceiro grau), o que representam de 12 a 15 mil trocas de curativos, todos os anos. Para cuidar dos pacientes, 40 profissionais, entre médicos clínicos, cirurgiões, pediatras, anestesistas, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros, para citar alguns, dividem o espaço dos mais de 30 leitos, dos quais o hospital sempre atende além.
Queimaduras não dependem tão somente de um medicamento ou um tratamento específico. É preciso a união de várias especialidades médicas e de saúde, que vão do fisioterapeuta ao psicólogo, para que o paciente sobreviva – e a equipe do Evangélico tem conseguido sucesso ano após ano. As taxas de mortalidade da instituição se comparam a grandes centros de tratamentos de queimados no mundo.
Os números positivos são resultado da constante especialização da equipe, guiada pelo médico mais antigo (ou experiente) do hospital, dr. José Luiz Takaki. Presente na rotina da ala de queimados da instituição há 35 anos, José Luiz não se importa em traduzir todo o seu conhecimento médico a qualquer um dos pacientes e guarda na lembrança, com carinho, todos que passaram pelas suas mãos.
“Todos os pacientes são importantes, mas eu lembro de um, que foi um dos meus primeiros pacientes. Ele tinha nove anos de idade e se queimou no interior do estado. Ele levava combustível diesel em uma embalagem quando passou muito perto de uma fogueira. O fogo atingiu o combustível e ele teve boa parte do corpo queimado. Ficou um ano e meio no hospital e adorava vir para cá, mesmo depois, quando precisava de algum reparo. Uns 30 anos depois, ele me viu em um programa de televisão e me ligou para contar que tinha se casado, era pai e estava bem. Foi muito gratificante ter notícias dele”, relembra o médico cirurgião plástico, preceptor do serviço de Cirurgia Plástica do hospital Evangélico.
Inaugurado em 1945, o Hospital Evangélico é, atualmente, referência no tratamento de pacientes queimados (Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)
Inaugurado em 1945, o Hospital Evangélico é, atualmente, referência no tratamento de pacientes queimados (Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)

Quer ajudar o Hospital Evangélico? Previna queimaduras

Embora seja um hospital privado, boa parte dos pacientes que são atendidos pela ala de queimados é via o Sistema Único de Saúde (SUS). E as histórias assustadoras, infelizmente, se repetem.
De acordo com Takaki, no Evangélico, a primeira causa de queimaduras são as escaldaduras. “São todas as queimaduras por líquido aquecido. Pode ser água, gordura, leite, sopa. A segunda é a queimadura por álcool, que diminuiu com a proibição do uso do álcool líquido, apenas em gel. Infelizmente as pessoas recorrem ao etanol, à gasolina, ao querosene”, cita. Em terceiro, as queimaduras por superfícies aquecidas, como chapas quentes ou escapamento de motocicletas.
O pior cenário é quando o paciente ainda é um bebê, e os casos de queimaduras entre zero a dois anos ainda são preocupantes, segundo o especialista. “Os acidentes com crianças representam 1/3 das queimaduras que atendemos. Com o agravante que a criança dos zero aos dois anos sempre tem um adulto que propiciou o acidente, deixando o ferro elétrico muito baixo, não atendendo a criança na cozinha. Se pensarmos que 70% das queimaduras de crianças até dois anos acontecem dentro da cozinha… É muito fácil prevenir”, alerta.

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