Saúde e Bem-Estar

Marina Mori

Em caso raro, médico salva vida de bebê ainda na barriga da mãe em Curitiba

Marina Mori
11/08/2017 13:09
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Francine Machado da Silva, 32, passou por uma operação arriscada no quinto mês de gestação. A pequena Larissa nasceu de parto normal, na última segunda-feira (7). Foto: Arquivo Pessoal.

Especialista em gestação de alto risco, o obstetra Gleden Teixeira Prates, de Curitiba, operou uma gestante no quinto mês de gravidez. Em um procedimento arriscado que durou cerca de 40 minutos, ele impediu que o útero de Francine Machado da Silva, 32, “expulsasse” o bebê, que pesava menos de 450 gramas, antes da hora. Na última segunda-feira (7), após 17 semanas da cirurgia, Larissa nasceu de parto normal, com pouco mais de dois quilos, saudável e sem sequelas. No Brasil, o único caso de sucesso como esse ocorreu em 1999. Agora, a operação passa a fazer parte dos 100 casos registrados no mundo.
“Me senti recompensado. Quem trabalha com alto risco, como eu, vê muita coisa ruim e quando tudo termina bem é uma sensação de alívio e recompensa muito grande para toda a equipe que participou”, desabafa o médico, que tem especialização em gestação de alto risco pela USP e trabalha como ginecologista e obstetra há mais de 30 anos. Prates também é um dos coordenadores do serviço de gestação de alto risco da Maternidade Santa Brígida.
O procedimento foi proposto à Francine quando ela foi diagnosticada com uma doença que ocorre em menos de 1% das gestações, a incompetência istmo cervical. Neste caso, pode ocorrer o prolapso de bolsa amniótica – o músculo do colo do útero fica frágil e expulsa o bebê antes da hora, sem a mãe sentir nenhuma contração ou cólica.
“Quando a bolsa desce demais, cavidade vaginal fica exposta a bactérias e normalmente se rompe ou causa infecção no feto”, explica. No caso de Francine, a bolsa amniótica estava cerca de sete centímetros fora do colo uterino e a dilatação era de quatro centímetros na 20ª semana de gravidez. “Eu não senti nada de dor. Apenas uma pressão na bexiga”, conta a auxiliar de enfermagem.
“O risco da cirurgia era muito grande. Eu mesmo já tinha feito outras cinco tentativas em casos como este sem sucesso”, conta Prates. Segundo ele, em quase 100% dos casos há risco de a bolsa se romper durante o procedimento e o bebê, muito pequeno, não resistir. Mesmo assim, Francine não abriu mão da decisão. “Minha irmã não queria que eu fizesse, mas não pensei duas vezes, eu precisava arriscar. Conversei com o meu marido e concordamos. Fiquei acordada o tempo todo, o dr. Gleden explicou passo a passo do que estava fazendo”, conta a mãe.
Para salvar a vida do bebê, o obstetra precisou empurrar bolsa amniótica para a cavidade uterina e, em seguida, deu pontos no colo do útero. Depois do procedimento, a gestante ficou internada por 47 dias antes de ir para casa e manter repouso absoluto. “Foi bem difícil. Eu não podia me mexer, precisava ficar deitada o tempo todo. Nem sentar eu podia”, lembra.
Mas o que mais machucava a gestante era a angústia. “Meu sonho sempre foi ter uma menina e ela era a minha primeira filha. Eu sofria muito quando vinham verificar os batimentos cardíacos de hora em hora para ver se ela estava viva a cada dia que passava”, conta a mãe, emocionada.
Toda a apreensão se transformou em alegria às 23h53 desta segunda-feira quando, quatro meses depois da cirurgia, a pequena Larissa chegou ao mundo de parto normal. “Foi tudo tranquilo. Ela é uma princesa, está ótima. É mais do que uma vitória na minha vida”, comemora.
Adriano Paes de Camargo, Francine e Larissa, logo após o parto. Abaixo, o registro da menina, que tem menos de uma semana de vida. Fotos: Arquivo pessoal
Adriano Paes de Camargo, Francine e Larissa, logo após o parto. Abaixo, o registro da menina, que tem menos de uma semana de vida. Fotos: Arquivo pessoal
Como evitar o prolapso de bolsa amniótica
De acordo com o obstetra, a incompetência istmo cervical pode ser diagnosticada durante a gestação por meio de ecografia transvaginal realizada entre a 20ª e 24ª semana de gestação.  Neste caso, a cirurgia pode ser realizada antes que a bolsa saia do colo uterino. “Se o diagnóstico e a cirurgia forem feitos a tempo, o risco de é praticamente zero”, garante.
“O problema é a intervenção tardia. Quanto mais demora, maior o risco de infecção e de que a bolsa se rompa”, explica.
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