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Faz pouco tempo que a sociedade brasileira passou a discutir e criticar as intervenções da medicina no corpo da mulher. Começando pelo alto número de cesáreas em relação aos partos normais, passando pela importância de adotar medidas humanizadas no nascimento, o discurso caiu, também, nas decisões das mães e pais sobre a obrigatoriedade de vacinar seus filhos — até completarem um ano, crianças devem receber 15 vacinas diferentes, sem contar reforços, de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde.

Curiosa para entender as justificativas que levavam pais a deixarem de imunizar os filhos, a médica pediatra Carolina Luisa Alves Barbieri decidiu conversar com eles e compilou as respostas em uma tese de doutorado sobre o tema, defendida em 2014 pela Universidade de São Paulo (USP). Dos 16 casais entrevistados (todos de São Paulo, com ensino superior e de extrato social privilegiado), cinco imunizaram os filhos com todas as vacinas do Calendário; cinco escolheram quais seriam aplicadas e seis decidiram mantê-los longe das vacinas.

“A associação das vacinas com o autismo, divulgada pela primeira vez em 1998 e refutada pela comunidade científica repetidas vezes, continua no imaginário e gera medo nos pais. Isso demonstra uma seletividade na leitura, porque são famílias com acesso à informação falsa, mas também às pesquisas que desacreditaram a relação. Elas optam por ver o lado negativo das vacinas”, explica a pesquisadora.

Embora a quantidade de imunizações do Ministério da Saúde seja vista de forma positiva pela comunidade médica, aos olhos dos pais elas parecem desnecessárias – ainda mais para doenças que eles consideram leves ou “normais” que as crianças adquiram. “No caso específico do rotavírus, muitos pais argumentavam que eles se sentiam tranquilos para tratar um quadro de diarreia no filho. Eles não viam sentido em dar a vacina. Uma coisa é proteger contra meningite, outra é contra catapora, gripe e rotavírus, na visão desses pais”, reforça Carolina.

Outro questionamento comum dos pais é por que vacinar contra a hepatite B, já que a doença é transmitida por sangue ou relação sexual. “Essa criança só teria risco de infecção quando fosse mais velha, mas a visão do governo é diferente. Como não há garantias que toda mulher grávida no país passou pelo pré-natal, a vacina entra no programa logo ao nascimento”, explica a médica, que lembra que o exemplo cabe a outras vacinas também, como a poliomielite.

Debate

Discutir e criticar os efeitos colaterais e a necessidade das vacinas é justo e válido na opinião de Carolina. Entretanto, os pais contrários à imunização não têm um espaço franco para diálogo. “Se ela diz ao médico pediatra que não vai vacinar, ele apenas critica aquela mãe ou pai. Eles, então, se apoiam em grupos nas redes sociais e na internet, e acham argumentos ou visões errôneas sobre as vacinas. Mas não é por culpa deles. As classes médicas não dão espaço a essa interlocução”, salienta a médica.

“Eles [pais] acham que quem deve decidir o que é melhor para o filho são os pais, não o estado. Isso me chamou a atenção porque eles não veem a função coletiva das vacinas. Todos dizem ‘eu vacino ou eu não vacino porque é o melhor ao meu filho’, não pensam o todo” – Carolina Luisa Alves Barbieri, médica pesquisadora.

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