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A personagem Laura (Bella Piero) por ter sido abusada pelo padrasto não consegue ter relações com o marido Rafael (Igor Angelkorte). (Foto: Globo/Estevam Avellar)
A personagem Laura (Bella Piero) por ter sido abusada pelo padrasto não consegue ter relações com o marido Rafael (Igor Angelkorte). (Foto: Globo/Estevam Avellar)| Foto:

O Conselho Federal de Psicologia divulgou uma carta aberta na última  segunda-feira (5) criticando a forma como a novela “O outro lado do paraíso” está abordando o trauma de abuso sexual na infância de uma das personagens, Laura (Bella Piero). Ao invés de indicarem o trabalho dos profissionais de psicologia ou médicos psiquiatras, a trama sugere que os traumas poderiam ser curados com a ajuda de um coach.

No episódio de terça-feira (6), a personagem Laura conversa com a advogada e coach Adriana (Julia Dalavia), que dá orientações sobre como agir perante o padrasto Vinicius (Flávio Tolezani), de quem sofreu abusos na infância. Durante o desenrolar da trama haverá ainda a indicação do uso de hipnose por parte da coach – medida criticada por entidades da área.

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“Mesmo compreendendo o caráter de uma obra de ficção, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) entende que a telenovela ‘O outro lado do paraíso’, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico de personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância”, diz o comunicado do Conselho, no site da entidade. A mesma orientação foi repassada pelos Conselhos Regionais de Psicologia.

A Rede Globo, em comunicado à imprensa, defendeu que as novelas são obras de ficção, sem compromisso algum com a realidade. “O que a novela ‘O outro lado do paraíso’ quer mostrar com o desenvolvimento da trama da personagem é o processo pelo qual passa uma pessoa que precisa de ajuda, recorrendo a diferentes e variadas formas de apoio e terapias, das mais às menos ortodoxas”.

O canal reforça ainda que a novela tem abordado com seriedade questões relacionadas a abusos e preconceitos. “Corroborando o compromisso da Globo com a sociedade, está prevista a exibição, ao final de alguns capítulos, de cartela de divulgação do Ligue 100, número oficial para denúncias de direitos humanos”.

Merchandising?

Outra questão que veio ao debate foi o motivo de terem incluído o coaching na novela. Ao fim do programa, nos créditos, a novela revela o merchandising pago pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), conforme revelou o jornal Folha de S. Paulo.

Em comunicado enviado à imprensa, o Instituto alega que a inclusão do coaching no enredo da novela foi percebido pela entidade e, a partir disso, viram a oportunidade de difundir o coaching e o Instituto “através de uma ação em parceria com a Globo”.

“O objetivo da menção da marca IBC e José Roberto Marques foi fortalecer o posicionamento da instituição como referência em coaching no Brasil, sempre inovando em suas ações e inciativas. ‘A ação não teve como objetivo orientar ou direcionar a aplicação do coaching e hipnose na novela, nem a característica da personagem coach ou dos desafios com os quais ela lidaria. Todo o contexto de coaching e hipnose na novela foi definido e planejado pelo autor'”, reforça o comunicado do IBC, que incluiu as repostas de Marcus Marques, diretor-executivo da instituição.

Com relação ao uso das técnicas de hipnose, o IBC explica que houve uma confusão “exageradamente acentuada frente ao contexto dramatúrgico”. “A novela não mostra como a personagem Adriana, que fez alguns cursos de coaching e tem se destacado profissionalmente justamente em função disso, vai lidar com a questão. Mas fica evidente que será utilizada a técnica da hipnose ericksoniana para descobrir a origem do bloqueio, e não o coaching”, defende a entidade em comunicado.

O IBC reforça que o trauma da personagem não é demanda para o coaching e que, na cena da novela, não há menção do trauma sexual. “O que seria irresponsável é se, após iniciar e aprofundar o contato coma  amiga, ao identificar uma situação de trauma, em nenhum momento a personagem coach não a encaminhasse para a terapia. Acreditamos e recomendamos, que caso exista fortes indícios de trauma, haverá encaminhamento para um psicólogo ou terapia no decorrer da novela”, destaca o comunicado.

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Os personagens Vinicius (Flavio Tolezani), padrasto e abusador da enteada Laura (Bella Piero) (Foto: Globo/DRaquel Cunha)
Os personagens Vinicius (Flavio Tolezani), padrasto e abusador da enteada Laura (Bella Piero) (Foto: Globo/DRaquel Cunha)| Raquel Cunha

Posição dos coaches

Na mesma carta enviada à Rede Globo, o Conselho de Psicologia reforça que diversos grupos e escolas de coaching se posicionaram à favor dos psicólogos e disseram “compreender que os transtornos mentais devem ser cuidados por profissionais da saúde mental”.

Uma dessas entidades foi a Sociedade Latino Americana de Coaching que, na figura do presidente Sulivan França, também enviou uma carta à Rede Globo, e aos meios de comunicação, reforçando os erros divulgados pela novela.

“Ainda que a novela seja uma obra de ficção, esse texto da personagem traz informações equivocadas sobre coaching, seu real significado e aplicação”, expressa Sulivan França, em carta. “(…) o principal problema está na afirmação de que o processo pode utilizar a hipnose. O maior desafio que temos hoje é justamente mostrar as diferenças para as pessoas entre coaching, psicologia, terapia, consultoria, programação neurolinguística e hipnose.”

Coaching, segundo França, “é um processo de planejamento estratégico do indivíduo para que ele possa sair de onde está no presente e chegar aos objetivos que quer alcançar no futuro, sem falar, em momento algum, do passado ou utilizar qualquer técnica como a hipnose. Em nenhum momento está ligado ao passado”.

Ainda na carta, França explica outros erros associados ao coach, como alguém que pode descobrir tudo sobre outra pessoa: “O coach é retratado como um manipulador, o que definitivamente não pode ser associado a esse profissional”.

Psicólogo x psiquiatra 

Cada profissional age de uma forma e entender os sintomas e causas dos problemas ajudam na escolha. Confira abaixo as diferenças entre psicólogos e psiquiatras, e quando buscar cada um, a partir da história de dois indivíduos:

  1. A pessoa tem um bom emprego, é casada e é feliz no casamento, não tem problemas financeiros e nem de relacionamento. Porém, nos últimos anos, tem se sentido triste – e não sabe apontar qual é a razão desse sentimento negativo.
  2. Outra pessoa está passando por uma situação de estresse, com brigas no casamento, inclusive levando ao fim do relacionamento. Nada parece dar certo no trabalho e sente-se constantemente irritada.

No primeiro caso, vida da pessoa aparentemente está toda organizada e não tem um motivador aparente para ele se sentir triste. Isso poderia indicar uma doença, de origem química, que pode estar afetando o funcionamento regular do organismo. Neste caso, é importante a busca de um médico psiquiatra.

No segundo caso, há um motivador para tanto estresse. Os sintomas de tristeza parecem ser uma reação àquela situação vivenciada e a solução poderia surgir ao melhorar os relacionamentos da pessoa. Nesse caso, busca-se um psicólogo.

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