Saúde e Bem-Estar

Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo

“Waze” e outros aplicativos são as novidades da cirurgia robótica

Flávia Alves, especial para a Gazeta do Povo
18/05/2018 17:00
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Em algumas décadas, robôs poderão operar sozinhos, acredita Melani. Foto: Bigstock.

Já faz um tempo que a cirurgia robótica deixou de ser cena de filme sci-fi e virou realidade na rotina de muitos cirurgiões. Para se ter uma ideia, 90% das cirurgias de próstata dos Estados Unidos já são feitas com o auxílio desta tecnologia. Engana-se, porém, quem pensa que a técnica envolve um robô autônomo, já que a máquina ainda depende quase que totalmente dos comandos do médico.
Mas para o Armando Melani, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, para que isso ocorra é apenas uma questão de tempo. Ele veio a Curitiba para presidir o 14º  Congresso Brasileiro de Videocirugia, o 3º Congresso Brasileiro e Latinoamericano de Cirurgia Robótica e o Simpósio Internacional da SRS-Society of Robotic Surgery, que ocorreram simultaneamente na capital paranaense entre os dias 16 e 19 de maio e contaram com a presença de mais de 1,5 mil médicos.
De acordo com o médico, em breve muitos aplicativos devem ser usados na cirurgia robótica — um deles é uma espécie de “waze” (app de rotas) para guiar e alertar o médico cirurgião.
Ele conversou com o Viver Bem e conta mais sobre a técnica:
Dr. Armani Melani, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, fala sobre a técnica que usa robôs para operar
Dr. Armani Melani, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, fala sobre a técnica que usa robôs para operar
Como é feita a cirurgia robótica atualmente?
Na cirurgia robótica, o cirurgião utiliza um console e manipula os braços de um robô. O cirurgião interage com uma interface computadorizada, que controla e aprimora os movimentos do médico. Isto significa ter uma cirurgia mais precisa, sem tremores, com uma lente que aumenta a visão em dez vezes e mostra a imagem em 3D. É uma cirurgia tecnicamente mais aprimorada e a ferramenta é usada atualmente para aumentar a capacidade manual do profissional.
E quais as vantagens para os pacientes?
Esta ferramenta permite realizar cirurgias mais facilmente nos pacientes mais difíceis. Por exemplo: toda vez que se faz uma laparoscopia, existe um índice de conversão, que significa o número em que os pacientes têm que ser abertos para que o cirurgião termine o procedimento. A cirurgia robótica diminui risco de conversão pelo menos em 50%. O acesso a estruturas mais delicadas e complexas, de difícil acesso e visualização, fica mais fácil com a ferramenta, que facilita os movimentos do cirurgião.
Para o paciente, os benefícios se traduzem em menor dor, recuperação mais rápida. Dependendo da cirurgia, é possível reduzir em um dia a internação, por exemplo.
Quais são as áreas que mais utilizam esta técnica?
Além da cirurgia de próstata, existem várias áreas que se beneficiam. As cirurgias de abdome, como um todo, podem ser feitas desta forma, como as cirurgias para corrigir refluxos, as bariátricas, urológicas e ginecológicas. Nos casos de endometriose, por exemplo, em que é importante preservar a anatomia, há indicação. E a robótica é também muito interessante para operar pacientes obesos, que demandam muito tecnicamente.
E quais foram os avanços nos últimos anos?
A tecnologia não é nova: desde 2002 é usada comercialmente, mas antes já se faziam testes com as primeiras versões de robôs. Atualmente estamos na 3ª geração de máquinas. Os instrumentais melhoraram e elas têm mais recursos para realizar cirurgias desafiadoras. Mas ainda dependem dos comandos dos médicos. Para comandar o robô, o profissional se posiciona num console, como se o vestisse, e ele só age em resposta às ações deste cirurgião. Os médicos são treinados pela empresa que comercializa os robôs, que é praticamente a única em todo o mundo. Hoje são cerca de 170 cirurgiões que fazem este tipo de operação no Brasil.
Falando em Brasil, como o país se posiciona no cenário da cirurgia robótica?
O Brasil é um bebê na cirurgia robótica, ainda está engatinhando. Com exceção do Hospital Albert Einstein, ainda se faz muito pouco. Para ter uma ideia, nos últimos 10 anos foram realizados 17 mil procedimentos em todo país, 7 mil deles no Einstein. No Brasil temos cerca de 40 robôs, espalhados por todo território nacional, inclusive em Curitiba. Nos Estados Unidos são mais de 3 mil e cerca de 750 na Europa.
E qual é o futuro da cirurgia robótica?

Hoje o robô é uma ferramenta mecânica, mas na era da cirurgia digital haverá muitos aplicativos, assim como temos nos nossos smartphones. Um destes, que já está sendo pensado, é uma espécie de Waze, um navegador que irá mostrar os caminhos para o cirurgião. No futuro espera-se que ela guie e alerte o cirurgião: “não vá por aí, tem uma veia importante no caminho”, por exemplo.

O senhor acredita que os robôs possam vir a realizar procedimentos sozinhos num futuro próximo?
Vai ser possível, mas vai demorar uns 30 anos. É difícil fazer uma previsão, mas a tecnologia se expande em logaritmos, então talvez isso ocorra antes mesmo do que a gente espera. Mas a tendência é que realmente possa acontecer, pois as máquinas tendem a aprender com os movimentos.
Se pensarmos não é tão distante assim, o senhor estará com…
Tenho 51 anos, então com uns 80…
Então o senhor provavelmente poderá ver robôs operando sozinhos…
Espero que sim! Mas espero já estar aposentado, jogando o meu golfe…
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