Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Dia Mundial do Câncer: Paraná tem uma das maiores incidências da doença na pele

Amanda Milléo
04/02/2018 08:00
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(Foto: Bigstock)

O sol pode não ser o melhor amigo de Curitiba, aparecendo raramente, mesmo em épocas em que deveria controlar o céu, como no verão. As altas taxas de incidência de câncer de pele no estado, portanto, parecem não fazer sentido à primeira vista.
Em comparação a outras regiões no país, o Paraná ocupa posição de destaque, ao lado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, com a estimativa de mais de 300 novos casos da doença por ano, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). A presença mais constante da população caucasiana na região, bem como incidência de raios ultravioleta tipo A e B, são os fatores de risco mais conhecidos para os números surpreendentes. E como este dia 4 de fevereiro é Dia Mundial do Câncer, o Viver Bem faz um panorama da doença no estado.
“O Sul tem a maior incidência de melanomas [câncer de pele] proporcionalmente. São Paulo, em números, é maior porque é um estado mais populoso. Não temos mais sol, mas concentramos uma população de risco maior. Isso não significa que não tenham melanomas no Nordeste ou Norte do país, mas é mais prevalente no Sul”, diz Evanius Garcia Wiermann, médico oncologista clínico e chefe do serviço de oncologia do hospital VITA.
E essa não é a única particularidade da região quando se fala de oncologia. O risco para câncer gástrico, que envolve o estômago e intestino, também é grande por aqui – e o motivo está na nossa alimentação.
“Embora os números não sejam tão discrepantes da região Sul para o restante do país, sabemos que a dieta rica em carne vermelha e pobre em fibra está relacionada ao aumento no risco de câncer do intestino grosso. Moramos em um estado onde o consumo de carne vermelha é comum e, quando feito de forma excessiva, ou acima de 450g por semana, e com uma dieta pobre em fibras naturais, aumentamos o risco”, explica Elge Werneck Araújo Junior, oncologista clínico do Instituto de Hematologia e Oncologia e Curitiba (IHOC).
A proximidade com os vizinhos gaúchos fez com que alguns hábitos de lá viessem para a nossa população, como o consumo de chimarrão. Ao lado da cuia, no entanto, veio também o aumento no risco de desenvolver câncer de esôfago e estômago, decorrente do trauma térmico da bebida. Quando o chimarrão se torna rotina, o trauma se desenvolve em um processo inflamatório que eleva o risco para a neoplasia.
Curitiba: a cidade que mais fuma no Brasil
Dados de 2017, divulgados pelo Ministério da Saúde, apontam Curitiba como a capital brasileira do cigarro, onde 14% da população se considera fumante. O número é particularmente negativo para o estado quando lembramos que o cigarro está diretamente relacionado ao surgimento do câncer (seja qual tipo for) em 30% dos casos.
“Se o cigarro desaparece do mundo, 30% dos cânceres não surgiriam. E não são só cânceres, mas doenças cardiovasculares e doenças respiratórias também reduziriam. O custo estimado para 2017 com doenças decorrentes do cigarro é de US$ 1 trilhão”, reforça Elge Werneck, oncologista clínico.
Cerca de 90% dos cânceres de pulmão são diagnosticados em fumantes, mas há outros quatro neoplasias que também estão diretamente relacionados, como bexiga, boca, esôfago e estômago.
Tratamentos: Sul é privilegiado
O Paraná é considerado autossuficiente no tratamento oncológico, conforme ressaltam os especialistas entrevistados pelo Viver Bem, e alguns pontos contribuem para isso.
“A representatividade do Brasil, como um todo, é pequena em números de estudos clínicos. Mas boa parte que chega ao país está no Paraná. É muitas vezes a alternativa que tem ao paciente para ter acesso às últimas novidades em tratamento”, explica João Soares Nunes, médico oncologista clínico do hospital Erasto Gaertner.
A organização de uma rede de diagnóstico precoce também é um ponto positivo e ressaltado pelo oncologista. “A rede básica de saúde do Paraná é uma das mais estruturadas do Brasil. Especialmente em Curitiba, conseguimos fazer diagnósticos precoces, o que é muito bom para os resultados no tratamento oncológico”, reforça Nunes.
Como se prevenir?
Médicos especialistas são claros quanto à preocupação com a prevenção aos cânceres, seja do tipo que for. Algumas medidas conseguem reduzir positivamente o risco da doença. Confira as sugestões de Elge Werneck Araújo Junior, oncologista clínico do Instituto de Hematologia e Oncologia e Curitiba, e Luiz Antônio Negrão Dias, presidente da Liga Paranaense de Combate ao Câncer!
  • Não fumar. Isso se aplica a qualquer tipo de fumo, seja cigarro tradicional, quanto charuto, narguilé, cigarro de maconha, de palha, fumo de mascar, etc. Os cigarros saborizados, inclusive, são ainda piores, visto que a substância que confere o aroma também possui componentes químicos carcinogênicos, além dos fatores cancerígenos do cigarro, como a nicotina.
  • Exercício físico, por 30 minutos, todos os dias. Não adianta nada se matricular na academia e ir uma vez por semana, ou correr até cansar na pista do parque Barigui aos fins de semana. É preciso frequência para ter resultados.
  • Alimente-se de forma saudável. Prefira frutas e verduras orgânicas, quando possível, e evite ao máximo produtos industrializados, processados, alimentos ricos em sódio, açúcar, gordura saturada, defumados/embutidos e condimentados.
  • Cuidado com a exposição ao sol. Sempre que for se expor, evite os horários entre às 10h e 16h, e sempre use protetor solar e algum método de barreira, como chapéu, boné, camiseta, guarda-sol.
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