Saúde e Bem-Estar

Marina Mori, especial para a Gazeta do Povo

Pesquisa inédita usa pele de tilápia para curar queimadura

Marina Mori, especial para a Gazeta do Povo
03/03/2017 18:34
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Uma fina camada de pele de peixe é capaz de amenizar a dor e acelerar em quase dois dias a cicatrização de queimaduras graves. Parece pegadinha? Não é. Desde o ano passado, o Brasil é o primeiro país do mundo a utilizar a pele de um animal aquático para tratar pacientes que sofreram queimaduras. Em abril, a pesquisa, realizada há cinco anos na Universidade Federal do Ceará (UFC), será encaminhada à fase final de testes antes de ser registrada na Anvisa.
O projeto é coordenado pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Medicamentos, da UFC, e tem como objetivo expandir o tratamento de queimaduras utilizando pele de tilápia em vez de curativos à base de pomadas. Os testes já foram realizados em 60 pessoas do Instituto José Frota, em Fortaleza, e em abril serão aplicados em mais 120 pacientes e 30 crianças.
O Viver Bem conversou com o cirurgião plástico Edmar Maciel, coordenador da pesquisa e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado e, para ele, os resultados têm sido positivos. “Além de ajudar muitos pacientes, a pesquisa ganhou 2 prêmios e está sendo veiculada em 16 países, o que mostra o interesse sobre o tema.”
Pele de tilápia no SUS?
Assim que a última fase clínica terminar, o projeto poderá ser registrado na Anvisa e, depois, comercializado por alguma empresa. Para Maciel, porém, o ideal seria que o Ministério da Saúde investisse na causa.
De acordo com o especialista, estima-se que um milhão de casos de queimaduras ocorram por ano no Brasil. “Dentro desse número, 97% das vítimas são pessoas de baixa renda, que precisam de atendimento público. Se o governo quiser investir, todos os centros de queimados do país poderão ter acesso ao tratamento”, conta.
Por enquanto, não houve contato entre os pesquisadores e o Ministério da Saúde, segundo o pesquisador.
Por que a pele de tilápia é melhor do que a humana para curar queimaduras
Maciel explica que embora países europeus já utilizem pele de porco há algum tempo, o Brasil ainda não havia investido na técnica. “Infelizmente, ninguém nunca desenvolveu uma pesquisa antes. Além de o custo de importação de pele ser altíssimo, é preciso criar um banco de pele e investir em pesquisas. Esta é a primeira vez que o país usa pele animal no tratamento de queimaduras”, diz.
De acordo com o especialista, os bancos de queimados no Brasil atendem apenas um por cento da demanda e usam pele humana no tratamento, mas não o suficiente. Atualmente, os bancos recebem material a partir de pacientes com morte encefálica e somente após a autorização da família. Depois, a pele doada passa por um processo de esterilização e sorologia. “É um procedimento trabalhoso e caro que não supre a necessidade.”
Além de os animais aquáticos apresentarem menor chance de contaminação, Maciel acredita que o Brasil tem uma grande chance de evoluir na agilidade e eficiência dos atendimentos. O otimismo se deve à grande quantidade de pisciculturas no país – a tilápia, junto com o tambaqui, representam 62% da produção nacional de peixes, segundo dados do IBGE – e pelo descarte de mais de 90% da pele dessa espécie.
Preparo
A pele de tilápia é trazida de uma piscicultura a 250 quilômetros de Fortaleza, depois passa por um processo de limpeza e recorte. A partir daí, começam várias etapas de esterilização com produtos como a clorexidina e glicerol para retirar possíveis agentes contaminadores e qualquer odor.
Após algumas etapas, a pele é armazenada em dupla selagem e então levada ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo. Lá, é feita uma radioesterilização complementar e depois retorna ao Ceará. Depois de todo o processo, a pele de tilápia é mantida em refrigeração a 3°C e pode ser utilizada em até dois anos.
Publicado no dia 02 de março no Facebook, o vídeo produzido pela Stat, uma agência de conteúdo relacionado à saúde, conta com quase 30 milhões de visualizações. Confira:
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