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Sem exagero: saiba os prós e contras de dietas restritivas

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27/10/2016 09:30
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Aliar os alimentosFoto: Bigstock

Elimine quatro quilos em sete dias. Enxugue as gordurinhas e fique pronta para o verão. Emagreça sem passar fome. Promessas como essas são comuns em capas de revista e até em livros. Quem já aderiu a alguma dieta, principalmente as mais restritivas, sabe que elas podem mesmo funcionar e fazer uma pessoa perder muito peso em pouco tempo. Mas também conhece as consequências: os quilos a menos voltam na mesma velocidade com que foram, e todo o esforço vai por água abaixo.
A recomendação vem da ciência: não faça dietas exageradas. Não corte grupos inteiros de alimentos (exceto, é claro, se você tiver alguma alergia ou intolerância) nem conte calorias. Além de não manterem a boa forma a longo prazo, as restrições excessivas podem prejudicar a saúde e até causar transtornos alimentares.
Em 1989, Thomas Wadden, professor de Psicologia e Psiquiatria da Universidade da Pensilvânia, analisou a perda de peso de 76 mulheres obesas. Elas foram divididas em três grupos: as primeiras receberam uma dieta de baixíssimas calorias, outras fizeram terapia, e o último grupo teve sessões de terapia e dieta. O tratamento combinado, aparentemente, foi o que mais surtiu efeito durante um ano. Entretanto, cinco anos depois, a maioria havia retomado o peso pré-dieta.
A dieta produz maus resultados com muito mais frequência do que bons. A perda de peso permanente é rara, enquanto o efeito sanfona é comum. Pessoas fazem dieta porque querem pesar menos, mas a maioria acaba pesando o mesmo ou ainda mais depois de todo o esforço. Outras desenvolvem distúrbios alimentares ou sentem-se culpadas e infelizes sempre que comem”, diz a neurocientista Sandra Aamodt, autora do livro Why diets make us fat: the unintended consequences of our obsession with weight loss (Por que a dieta nos deixa gordos: as consequências não intencionais de nossa obsessão com a perda de peso, em tradução livre).
Metabolismo das cavernas
Além disso, há uma explicação do tempo das cavernas que ajuda a entender algumas coisas. Nosso corpo foi programado para viver em um ambiente onde havia pouco alimento, e era preciso gastar muita energia para encontrá-lo. Assim, o metabolismo do homem foi moldado para ficar mais lento conforme os alimentos ficam escassos.
Após um período de perda de peso, o organismo entende que o corpo está em déficit energético, ou seja, que há uma perda significativa de energia. A resposta do corpo é ativar mecanismos para recuperar essa energia, e um deles é reduzir o metabolismo.
Basicamente, o peso é mantido por ativação ou inibição do apetite e do gasto energético. Em situações normais, depois da refeição, temos muitos nutrientes disponíveis no corpo. Então, o organismo entende que devemos parar de comer e começar a gastar energia, processo que chamamos de sinalização anorexigênica. Em situações de jejum, por exemplo, é o oposto: ocorre a chamada sinalização orexigênica, com aumento do apetite e redução do gasto energético.
Esse tipo de dieta “milagrosa” é generalista e não considera o indivíduo como um ser único e com uma necessidade nutricional específica. A consequência disso, muitas vezes, é a perda de massa magra em vez de gordura. Outro equívoco comum a essas dietas é que muitas se baseiam exclusivamente na contagem de calorias – abordagem não tão relevante para os novos conceitos de nutrição, que evitam taxar os alimentos como mocinhos ou vilões e buscam mostrar que comer é sinônimo de prazer, não de culpa. A contagem de calorias pode levar a uma distorção perigosa da saúde: o corpo, o metabolismo, a nutrição e a saúde são muito mais do que cálculos. Como profissionais da área, precisamos observar a saúde do paciente como um todo: desequilíbrios estruturais e hormonais, saúde intestinal, verificar alterações imunológicas e sua interação corpo-mente.

Confira quais são as dietas mais populares!

ATKINS
A proposta: apela para grandes porções de proteína e quantidades muito limitadas de carboidratos e açúcares, aumentando a capacidade do corpo de queimar gordura. As duas primeiras semanas são dedicadas à adaptação às novas condições de alimentação.
Os riscos: como o carboidrato é a principal fonte de energia do corpo, restringi-lo pode provocar cansaço, tontura e irritabilidade. Há maior liberação de gordura saturada no organismo, o que pode aumentar o colesterol e, consequentemente, o risco de doenças cardiovasculares.
PALEOLÍTICA
A proposta: segundo seus defensores, a melhor dieta para o homem é aquela praticada pelos nossos ancestrais pré-históricos. Ou seja: coma apenas aquilo que você poderia caçar, matar, colher ou tirar da terra, como um homem das cavernas. Prega o consumo de carne à vontade, restrição a alguns carboidratos e jejum prolongado. Não são permitidas massas e grãos.
Os riscos: assim como na dieta Atkins, a falta de carboidratos no organismo pode causar náuseas, dor de cabeça, tonturas e fraqueza. A prática de jejum prolongado pode gerar hipoglicemia, dificuldades de concentração e perda de massa muscular.
SOUTH BEACH
A proposta: nasceu na Flórida e foi desenvolvida pelo cardiologista Arthur Agatstom para reduzir os níveis de colesterol total, LDL e triglicerídeos. Divide-se em três fases: na primeira, que dura duas semanas, são privilegiados carnes, laticínios, saladas, feijão e óleos vegetais. Frutas, sucos, pães, massas, cenoura, beterraba e arroz são proibidos. Nas fases dois e três, há a inserção de alguns carboidratos.
Os riscos: da mesma forma que nas demais dietas que reduzem o carboidrato, pode haver hipoglicemia, náuseas e cansaço.
DUKAN
A proposta: criada na França pelo médico Pierre Dukan, a dieta é dividida em quatro momentos: ataque, transição (ou cruzeiro), consolidação e estabilização. É baseada no consumo de carnes magras e gorduras boas.
Os riscos: a redução da ingestão de carboidratos tende a diminuir os níveis de serotonina, provocando irritabilidade, dispersão, ansiedade e insônia. Dietas ricas em proteína podem provocar desconforto gástrico, além de sobrecarregar os rins e aumentar os níveis do colesterol ruim.
DIETA DOS PONTOS
A proposta: criada em 1969 pelo médico endocrinologista Alfredo Halpern, o programa foi pensado para que o paciente controlasse a alimentação de forma prática. Cada alimento soma pontos que podem ser consultados em uma tabela. Um ponto equivale a 3,6 calorias. Uma maçã, por exemplo, conta 25 pontos. A média de pontos diária é de 300 para mulheres e 400 para homens.
Os riscos: é a dieta mais bem-vista pelos especialistas. Não é um programa de reeducação alimentar, mas pode funcionar como tal, pois ensina o paciente a substituir alimentos muito calóricos por outros mais saudáveis e com menos calorias.
Fonte: Renata Schwartz, nutricionista mestre em Metabolismo e Fisiologia, Bruno Chaussê, doutor em bioquímica pela USP e pesquisador da Unicamp e Yole Luz, nutricionista clínica e comportamental.

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