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Isabela Malucelli decidiu usar uma prótese capilar durante o tratamento contra o câncer de mama para manter a própria identidade (Foto: Arquivo pessoal)
Isabela Malucelli decidiu usar uma prótese capilar durante o tratamento contra o câncer de mama para manter a própria identidade (Foto: Arquivo pessoal)| Foto:

O susto ao receber o diagnóstico do câncer de mama, no começo de julho deste ano, fez com que Isabela Malucelli, CEO de uma agência de comunicação em São Paulo, pensasse em mil desfechos. Aliviada pela equipe de médicos devido à alta chance de cura, a paranaense de nascimento se apegou a uma característica que considerava essencial para a sua identidade e personalidade: o cabelo.

Dona de fios ruivos e grossos, o cabelo da Isabela é único e referência para todos os amigos e conhecidos. Das opções que os médicos lhe deram para o tratamento, ou ela perderia os fios mais tarde ou mais cedo, dependendo da ordem em que viria a quimioterapia. Decidiu, pois, pelo tratamento quimioterápico o quanto antes, mas não deixou os cabelos de lado.

(Fotos: Arquivo pessoal)
(Fotos: Arquivo pessoal)

“A minha médica oncologista ofereceu algumas alternativas para prevenir a perda. Uma delas era a touca de congelamento, que congelava o couro cabeludo em 30 segundos, e seria usada enquanto recebia a quimioterapia”, relata Isabela que, embora entusiasmada no início, não conseguiu suportar o frio que começava meia hora antes de receber a quimioterapia e seguia por mais meia hora depois.

“Não valeu o sacrifício. Para mim foi insuportável. Só fiz a primeira sessão de quimioterapia com a touca que, ao invés de durar duas horas, você fica lá seis. Isso porque tem que usar a touca mesmo depois de tomar o remédio, para ter certeza que a quimioterapia não entrará na raiz do cabelo”, explica a CEO.

Isabela, então, descobriu a prótese capilar. “No mesmo dia que eu fiz a primeira sessão, com a touca, uma moça me ouviu reclamar e comentou sobre a prótese. Ela estava usando uma e eu nem reparei, porque o cabelo dela era muito lindo”, diz Isabela. Determinada a ter cabelos tão lindos como os da moça, mesmo que não fossem os próprios, ela buscou a própria prótese.

“É como se fosse uma peruca, mas está presa à cabeça. Ela tem uma base de silicone em volta em uma rede de nylon e você escolhe tudo: o tamanho do fio, se é fino ou grosso – mas não muito, que eles não têm -, se querem longo ou curto. Depois, aplicam na sua cabeça e, no caso de quem faz quimioterapia, aplicam com uma fita adesiva superpotente que mantém fixa na cabeça”, conta Isabela.

Quando decidiu colocar a prótese, Isabela deixou se ver apenas uma vez careca (Foto: Arquivo pessoal)
Quando decidiu colocar a prótese, Isabela deixou se ver apenas uma vez careca (Foto: Arquivo pessoal)

A recomendação é que a pessoa busque pela prótese antes que os fios comecem a cair, assim a transição fica mais fácil. Escolhido o estilo do cabelo, separe duas a três horas para ficar no salão – onde será feita a raspagem do cabelo natural e a aplicação da prótese. Feita com fios naturais, o cabelo na prótese pode ser pintado, cortado, secado com secador (desde que com delicadeza), lavado e até jogado na piscina.

“Eu fiquei mais confortável porque eu sabia que não me veria careca. Pensar em me ver careca era algo que me incomodava desde o início. Mas eu fiz questão de me ver, pelo menos uma vez, careca, para enfrentar isso. Se daqui dois ou três meses eu aceitar a minha careca, sou até capaz de tirar a prótese. Agora, neste momento, a prótese me deixa muito confortável”, completa Isabela.

(Foto: Arquivo pessoal)
(Foto: Arquivo pessoal)

Quimioterapia não é única razão para usar a prótese capilar: calvícies também são comuns

A aplicação por fitas adesivas específicas para a prótese faz com que a “peruca” pareça mais firme que as tradicionais e os benefícios dos fios naturais também diferenciam e tornam as próteses capilares mais atrativas. “Uma vez por mês a cliente volta para fazer uma manutenção, higienização do couro cabeludo, do fio de cabelo que pode ficar bem desidratado pela quimioterapia”, explica Sueli Boge Macedo de Andrade, especialista em tricologia da clínica Leone, em Curitiba.

Há dois tipos de próteses capilares, conforme explica Andrade: as totais, que cobrem toda a cabeça e são buscadas, principalmente, por quem está passando pela quimioterapia; e as parciais, que atendem apenas a parte alta da cabeça. “Elas servem a homens ou mesmo para mulheres que sofrem de alopecia difusa. Quando o couro cabeludo está com uma perda muito adiantada, o tratamento tradicional não resolve mais e a prótese pode ajudar”, reforça a especialista.

Como as próteses dão a aparência do couro cabeludo – quem olha consegue ver o couro cabeludo, onde se divide e não percebe que se está usando uma prótese – são muito buscadas por quem quer passar despercebido. Os valores das próteses capilares variam conforme os modelos e comprimentos, podendo ser encontradas a partir de R$ 1.100 a até R$ 3 mil.

Toucas congelantes: protegem os fios, mas podem por a saúde em risco

As toucas capazes de congelar o couro cabeludo são a última novidade em termos de proteção dos fios durante o tratamento quimioterápico. Existem no mercado atual duas opções: as toucas compostas por um gel, refrigeradas e depois dispostas sobre o couro cabeludo do paciente e as toucas conectadas a um aparelho que, através de tubos, refrigeram a cabeça a uma temperatura próxima de zero grau Celsius.

Ambas funcionam com o mesmo princípio: as baixas temperaturas promovem a constrição dos vasos sanguíneos no couro cabeludo – fechando-os e os protegendo do medicamento quimioterápico, que é transportado pelo sangue. Por isso a importância de começar a resfriar a cabeça antes de receber o remédio e mesmo por um tempo depois.

“Essa touca não funciona para todo tipo de quimioterapia. Alguns medicamentos causam a perda do cabelo mesmo com a touca, então é importante conversar com o médico. Outro alerta é que o procedimento é novo e os resultados, a longo prazo, ainda não foram vistos. Pode ser, por exemplo que, 10 anos protegendo a raiz com a touca, os pesquisadores percebam que isso aumente o risco de o câncer voltar, mas para o couro cabeludo, que estava protegido da quimioterapia”, alerta João Soares Nunes, médico oncologista do hospital Erasto Gaertner.

Outra ressalva é feita pelo Elge Werneck Araújo Junior, oncologista clínico do Instituto de Hematologia e Oncologia de Curitiba: “Essa touca não deve ser usada em tumores hematológicos, do sangue, como linfomas, leucemias e mielomas. Os estudos focam em tumores sólidos, principalmente câncer de mama.”

“Tratamentos relacionados ao câncer de mama e câncer de pulmão, habitualmente levam à queda de cabelo. Em contra partida, alguns tratamentos para câncer do intestino não causam. A alopecia, portanto, não acontece em todos os pacientes com câncer submetidos à quimioterapia. Isso depende do remédio que será administrado”, completa Araújo Junior.

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