Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo com Folhapress

Dona de pet shop morre por raiva humana; quais os riscos de pegar a doença?

Amanda Milléo com Folhapress
08/07/2017 08:00
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Mulher foi mordida por um gato de rua contaminado. Foto: Visualhunt

Uma mulher de Recife, dona de um pet shop, morreu no início de julho por infecção do vírus da raiva. Ela foi mordida por um gato de rua que havia sido contaminado por um morcego. Este foi o primeiro caso em 19 anos de a doença contaminar seres humanos na capital pernambucana.
Embora restrito a cidade do Nordeste, o perigo da doença não se restringe geograficamente. Em maio deste ano, morcegos contaminados com o vírus da raiva foram identificados em Curitiba, conforme noticiou a Gazeta do Povo na época.
O perigo da doença em humanos é a velocidade com que ela se alastra pelas terminações nervosas e, atingindo o sistema nervoso central, a chance de que se resulte em morte do paciente é próxima de 100%. “Os primeiros sinais, no local da mordedura ou lambedura do animal contaminado, causa inflamação, alteração de sensibilidade da pele, queimação e, com o passar do tempo, gera os sintomas no sistema nervoso”, explica Ricardo Kosop, médico infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo.
Ao atingir o sistema nervoso, o paciente apresenta a encefalite pela raiva, cujos principais sintomas são alterações de comportamento, agressividade, dores intensas, convulsões e hidrofobia.
“Não se trata de um medo irracional da água, mas a inflamação do cérebro causada pelo vírus altera todos os mecanismos nervosos, entre eles a deglutição. Engolir a saliva é uma ação totalmente prejudicada pela doença, que gera espasmos no esôfago e garganta. Por isso que os contaminados espumam pela boca, porque não deglutem a própria saliva”, reforça o médico.
Vacine o animal de estimação
Para evitar uma contaminação, a primeira preocupação dos tutores deve ser a vacinação dos animais de estimação, como gatos e cachorros. A vacina antirrábica deve ser aplicada no animal ainda filhote, depois dos três meses de idade nos cachorros, junto com a vacina múltipla, que previne contra sete doenças, como a cinomose, parvovirose, hepatite infecciosa canina, parainfluenza, coronavirose, adenovirose e leptospirose.
O reforço da vacina antirrábica deve ser feito todos os anos, até o último ano de vida do cachorro, de acordo com informações da Jesséa de Fátima França Biz, médica veterinária, mestre em Ciência Animal e professora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. “É importante lembrar que a inoculação do vírus da raiva presente na saliva do animal é geralmente repassado ao humano por mordida. Arranhaduras e lambeduras podem acontecer também, mas são mais raros”, explica.
O animal vacinado, mesmo que entre em contato com o vírus da raiva, não desenvolverá a doença e, portanto, não poderá transmitir aos tutores. “Vacinar os animais de casa e evitar o contato com animais da rua e silvestres, como os morcegos, é uma medida importante de prevenção. Os morcegos fazem parte de um grupo animal onde a probabilidade de estar contaminado é maior. Se encontrar um morcego, vivo ou morto, não entrar em contato com eles e chamar a prefeitura para fazer o recolhimento do animal”, explica o médico infectologista.
“Mesmo os animais clinicamente saudáveis, se morderem alguém, devem ser mantidos em observação por 10 dias, quando tiver um tutor conhecido, para verificar o comportamento e ver se há algo que indique a presença da raiva. Alguns desses sinais podem ser inquietude, maior tendência a atacar objetos, pessoas e outros animais, além de alterações na tonalidade do latido, no caso de cães, e dificuldade para engolir”, reforça a médica veterinária.
De acordo com informações no site da Prefeitura de Curitiba, no caso de encontrar pragas urbanas, como os morcegos, basta entrar em contato através do site. Acesse aqui.
Entrou em contato com um animal infectado com raiva? Veja o que fazer:
Um cachorro na rua mordeu ou mesmo lambeu em uma ferida na sua mão? Um gato, cuja origem você desconhece, o arranhou e o lambeu logo em seguida? Fique atento a esse ferimento e, mesmo assim, busque uma unidade de saúde o quanto antes.
Uma das alegações para a evolução rápida da doença na dona do petshop de Recife foi a demora que ela teve em procurar ajuda médica. “A raiva é prevenível. A primeira medida de prevenção, como não há um tratamento, é a pessoa tentar reduzir a quantidade de vírus localizado na região da mordedura ou lambedura do animal. Para isso, faz uma lavagem com água corrente e sabão. Em seguida, buscar uma unidade de saúde para avaliar a necessidade do soro antirrábico”, explica o médico e professor da Universidade Positivo, Ricardo Kosop.
São feitas uma série de esquemas, que podem chegar a 10 aplicações do soro, para tentar bloquear o avanço do vírus, antes que ele atinja o sistema nervoso central do paciente.
“Existe uma vacina também, mas é feita principalmente em pessoas que têm contato frequente com animais, como médicos veterinários e zootecnistas, ou em situações específicas de viagem a locais onde a doença é mais comum. A Indonésia e Filipinas, por exemplo, são países onde há muitos casos de raiva humana”, reforça Kosop.
Como a vacina é feita a partir do vírus da raiva atenuado – e não totalmente morto – algumas pessoas, como gestantes e imunodeficientes, não recebem a indicação dessa aplicação.
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