Saúde e Bem-Estar

Mariana Sanchez, especial para a Gazeta do Povo - marianab@gazetadopovo.com.br

Cardápio emocional

Mariana Sanchez, especial para a Gazeta do Povo - marianab@gazetadopovo.com.br
17/01/2010 02:12
Quem sofre de ansiedade, depressão e outros distúrbios emocionais talvez nunca tenha pensado nisso, mas a resposta para o problema pode estar no lugar onde menos se imagina: o estômago. A constatação não é tão absurda quanto pode parecer se lembrarmos que nossa relação com os alimentos está associada, desde cedo, às emoções. O alimento conforta, traz lembranças afetivas – aquele pudim da casa da avó, um jantar romântico que você nunca esqueceu – e ainda reúne pessoas em torno da mesa, onde a comida muitas vezes é só uma desculpa para compartilhar uma boa companhia. Mas, se por um lado o ato de comer traz a sensação de bem-estar, ele também pode acarretar uma série de doenças de ordem emocional.
Segundo a nutricionista bio-ortomolecular e funcional Vilma Maria Juraski, o problema da má alimentação pode iniciar na infância. “As pessoas sabem que alimentos ricos em açúcares e gorduras fazem mal, então por que continuam a comê-los?”, questiona. Para ela, a resposta é simples: desde a infância nós criamos uma espécie de memória celular para os alimentos. “Crianças acostumadas com bolachas recheadas, achocolatados e sucos industrializados dificilmente gostarão de frutas e verduras na fase adulta porque eles não fazem parte do seu referencial alimentar”, afirma a nutricionista, que também é na­­­turopata e iridóloga. A Iridologia, técnica de avaliação que indica as condições dos órgãos do corpo por meio do exame da íris dos olhos, é o método utilizado por Vilma. Após diagnosticar a causa dos problemas de seus pacientes, ela sugere um cardápio rico em alimentos funcionais, que melhoram o metabolismo e previnem doenças.
Segundo Vilma, 80% das doenças humanas são de origem nutricional, entre elas a depressão. “A depressão pode ser proveniente de uma desnutrição profunda, quando o consumo de alimentos nutritivos é deficiente desde a infância, a ponto de não nutrir o cérebro”, explica. Também pode estar associada a distúrbios gastrointestinais, como prisão de ventre, gastrite, excesso de gases e, principalmente, disbiose (flacidez da mucosa e microbiota intestinal). Neste caso, Vilma explica que o tratamento é mais simples porque quem já tem o hábito de comer bem, apenas precisa melhorar a absorção intestinal dos nutrientes. Já no primeiro tipo de depressão, o resultado é um pouco mais demorado pois exige mais disciplina do paciente na terapia de nutrição celular, o que poderá levar de quatro meses a um ano.
Pilha de nervos
Hábitos alimentares também funcionam como um espelho dos nossos sentimentos. Para Angelita Corrêa Scardua, psicóloga especialista em felicidade e desenvolvimento adulto e mestre em Psi­­­cologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), emoções associadas ao estresse, como medo e irritabilidade, ativam em nosso cérebro mecanismos primitivos de defesa, desencadeando reações de ataque, como morder e rasgar. Assim, é comum pessoas sob estresse desejarem comer alimentos que possam ser rasgados e mastigados repetidas vezes. “Não é a toa que as churrascarias são a parada obrigatória dos grupos de trabalho em finais de período, quando o estresse já atingiu o seu pico”, exemplifica. Ela também lembra que, quando estamos ansiosos, en­­­contramos alívio no ato mecânico de comer “besteirinhas”, como pipoca e salgadinhos, porque a repetição do gesto de levá-las à boca atenua nossa inquietação. Já aqueles que vivem uma rotina monótona procuram balas, bolachas e alimentos “lúdicos” e coloridos como forma de espantar o tédio, levando algum estímulo novo ao cérebro.
Entre as pessoas mais carentes e sem motivação, entram em cena as comidas calóricas, ricas em açúcar, gordura e carboidrato, como massas e chocolates. “O problema é que a energia requerida nos estados de carência não é alimentar, mas relacional. Dessa forma, uma necessidade afetiva acaba sendo encoberta por uma solução alimentar”, diz Angelita.
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Serviço:
Angelita Corrêa Scardua (psicóloga), avscardua@uol.com.br. Vilma Maria Juraski (nutricionista), Nutriclin, fone (41) 3233-1770.