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Entre a mania e o TOC
| Foto: GAZETA

Quando o assunto é mania, difícil é encontrar quem não revele ao menos um hábito um pouco mais estranho. Entrar nos lugares com o pé direito, organizar a mesa de trabalho milimetricamente, fazer listas de compromissos e cumprir uma série de rituais em casa e na rua são hábitos comuns de muitas pessoas. E não há qualquer problema nisso. “Há características individuais das pessoas, próprias da personalidade de cada um, como ser mais ou menos organizado. Isso é normal”, explica Renato Soleiman Franco, professor de Psiquiatria do curso de Medicina da Pon­­tifícia Uni­­versidade Católica do Paraná (PUCPR).

Ele diz que o temido Trans­­torno Obsessivo Com­­pulsivo (TOC) só ocorre quando essas ações causam impacto e sofrimento na vida da pessoa. Esses problemas podem aparecer de diversas formas e o mais observado é a dedicação exaustiva a esses hábitos. “Muitas pessoas são extremamente disciplinadas e focadas em determinados aspectos, como a limpeza, por exemplo. Mas para caracterizar o TOC é preciso haver prejuízo na vida cotidiana”, afirma Franco.

Segundo o psicanalista José Roberto Gioppo, o diagnóstico de TOC parte de sintomas rela­­cio­­nados ao excesso e que normalmente são percebidos pela própria pessoa. “Um dos sinais de alerta é quando se perde muito tempo e energia do seu dia para cumprir essas manias. Algumas vezes a pessoa acaba chegando atrasada em compromissos para dar conta dos seus rituais ou então evita certos lugares e compromissos”, conta.

Geralmente as atitudes compulsivas das pessoas que apresentam o transtorno estão relacionadas à necessidade de controle sobre os acontecimentos, para não permitir que nenhum imprevisto aconteça. Os mais comuns são a verificação excessiva de janelas e trancas da casa ou do carro, limpeza excessiva, organização e simetria. “Algumas pessoas, quando são impedidas de realizar seus hábitos compulsivos, podem apresentar muito suor e até taquicardia”, comenta a psicóloga Sandra Moreira de Oliveira.

Trauma e estresse

Mas será que existe alguma razão para que alguém transforme sua rotina num apanhado de obsessões e compulsões? De acordo com os médicos, o excesso de cobrança, de trabalho e também a velocidade com que as coisas acontecem no nosso dia a dia podem contribuir para que algumas pessoas apresentem o transtorno. Eventos traumáticos, estresse, crises na família ou no emprego e outros momentos marcantes podem ser desencadeadores, porém, a causa original para o transtorno geralmente acontece já na infância.

O psicanalista José Roberto Gioppo explica que as manifestações do TOC podem ser um deslocamento das preocupações e funcionam como uma proteção psicológica desse trauma. “Ao ter certos comportamentos, a pessoa foge da causa principal, acreditando que confortou as causas externas daquele sofrimento”, afirma o especialista. Com este trauma escondido, é normal que a pessoa não consiga identificar motivos para suas compulsões. “A ação é geralmente um impulso, em que não há nem uma reflexão sobre o ato, apenas a necessidade de agir daquela forma”, afirma San­­dra Moreira de Oliveira.

Ainda segundo a psicóloga, a pessoa com TOC acredita sempre estar certa e é tomada de uma rigidez tanto de pensamento quanto comportamento, o que acaba dificultando seu relacionamento até mesmo no ambiente de trabalho. “É muito comum pessoas que apresentam estes hábitos mas nunca procuram ajuda, achando que são sintomas normais. Porém, alguns pacientes podem apresentar problemas mais graves ao longo da vida, como o transtorno depressivo”, complementa o professor Renato Soleiman Franco, da PUCPR.

Tratamento

Cada caso deve ser avaliado individualmente para se iniciar um tratamento. O histórico de cada paciente irá influenciar nos resultados da medicação e também da psicoterapia, forma mais indicada para tratar o TOC. “A terapia exige a participação ativa do paciente na sua recuperação. Pode ser um tratamento mais longo e até mesmo mais doloroso, mas é muito eficaz”, ex­­plica Gioppo.

Mas, ainda segundo ele, em alguns casos a medicação não deve ser descartada. Podem ser administrados ansiolíticos, antidepressivos e outros medicamentos estimuladores de serotonina. Porém, a medicação resolve apenas os sintomas, os problemas do momento presente e não agem no trauma interno que motivou o transtorno. “Toda vez que o paciente se deparar com aquele problema causador do TOC, quando as defesas não derem mais conta, ele vai voltar aos sintomas. Cada paciente deve ser avaliado com cuidado para que o tratamento realmente tenha resultado”, observa o psicanalista.

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