Saúde e Bem-Estar

Érika Busani - erikab@gazetadopovo.com.br

O poder do riso

Érika Busani - erikab@gazetadopovo.com.br
04/12/2011 02:04
“Estudos comprovam que rir e sorrir aumentam o número de células T no sangue”, afirma o professor do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Naim Akel Filho, coordenador do grupo de estudos em neurociência. Essas células de nome sugestivo coordenam a resposta imune contra infecções e tumores.
Outra consequência provada é a liberação de endorfina, hormônio que, entre outras coisas, reduz a sensibilidade à dor, aumenta a disposição física e mental e a resistência, melhora a memória e o bom humor. As reações continuam: a oxigenação no sangue e no cérebro são elevadas, assim como a frequência cardiorrespiratória. E ainda trabalha diafragma e abdômen, face, pernas e músculos das costas.
Ou seja, rir trabalha o corpo como um todo e ainda fortalece as emoções. “O riso relaxa, descontrai. Favorece a tranquilidade mental, que proporciona maior abertura à confiança, à imaginação, à criatividade e ao bem-estar. As reações emocionais tornam-se mais equilibradas e positivas”, garante o psicólogo Geraldo Vieira de Magalhães, colaborador do Instituto Med Prev. Nem seria preciso recorrer à ciência para ter essa certeza. Lembre da última vez que você deu uma boa gargalhada: a sensação de bem-estar que se segue é a melhor das comprovações.
O poder do riso vai além. “Quando alguém está tenso ou triste, se conseguir sorrir o processo psíquico pode se reverter, voltando a uma situação de bem-estar”, diz Akel Filho. Mas não adianta fingir. O riso precisa ser autêntico para ter eficácia.
O começo
Rir e sorrir são comportamentos inatos. Já se especulou que fossem imitações, mas crianças com cegueira de nascença também esboçam as mesmas contrações musculares, a mesma expressão facial, lembra o neurocientista. E tem razões evolutivas. “Se colocarmos uma mancha na frente de um bebê, ele ri. Ele é ‘equipado’ com esse tipo de comportamento porque aumenta sua chance de ser cuidado, protegido, alimentado, de receber carinho”, contextualiza o psicobiólogo Ari Bassi do Nas­­­­­cimento, professor do Depar­­ta­­­mento de Aná­­lise do Com­­­por­­­­tamen­­­­to da Univer­­sida­­­­de Estadual de Lon­­­drina (UEL).
Crescemos e, como em outras tantas das nossas condutas, aprendemos a manipular e controlar essa também. Pode ser para o bem. Atenuar circunstâncias constrangedoras, demonstrar a indisposição para a briga ou dar um sinal de permissão para a aproximação entram nessa lista.
Mas, quando ocorre em um contexto não apropriado, desconfie. “O riso pode ser irônico – é o caso de um cobrador que bate à sua porta sorrindo –, ter aspecto vingativo ou de humilhação”, contrapõe Nascimento. É o melhor estilo “quem ri por último ri melhor”.
Melhor terapia
Para o psicólogo Geraldo Vieira de Magalhães, o riso é uma função que pode ser “treinada”. “Aceitar-se, gostar de si mesmo, se esforçar para buscar oportunidades e encontrar sentido na vida, favorecem o entendimento das dificuldades e possibilitam que se encare a existência com mais calma, determinação e bom humor. É um treinamento contínuo, que deve fazer parte do dia a dia de todo ser humano”, orienta.
A jornalista Caroline Fagundes, 28 anos, seguiu essa receita e aprendeu a rir. “Comecei a perceber como era chato conviver com pessoas mal-humoradas e reclamonas”, diz. Ao se flagrar com esse mesmo comportamento em uma época que estava infeliz com um emprego, decidiu mudar de atitude. Uma experiência profissional de um mês na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, foi outro aprendizado. “Vi muitos exemplos de superação. De pessoas muito pobres e muito guerreiras, dispostas a transformar o mundo”, recorda. O resultado está no atual sorriso fácil da moça. “Adoro rir, por mais que dê marcas de expressão que estou odiando”, brinca.
Já outros parecem ter conservado da infância essa característica. É o caso do microempresário Ivo Sprotte, 46 anos, que nunca se deixou abater e sempre está disposto a oferecer uma saudável risada. Nem mesmo quando um acidente de moto o deixou sem andar por mais de cinco anos – entre os 22 e os 27. “Eu tinha certeza absoluta de que voltaria a andar”, conta. Essa confiança é um dos componentes do bom humor. Ivo é o que se chama por aí de “figura”. Chega bagunçando tudo, liga para os amigos para contar uma piada, faz amizades por onde passa. “No dia em que eu descobrir que tristeza paga dívida, vou chorar 24 horas por dia”, ri. “Mau humor não ajuda em nada”, complementa.
Ivo tem razão. Mas não se trata de virar uma espécie de bobo alegre, rir de tudo. “Momentos tristes fazem parte da vida. O importante é o esforço para que a tristeza não se demore, para se evitar a pior consequência, que é a depressão”, diz Magalhães.
Gente comum, não modelos
Para entrar no clima, o Viver Bem foi atrás de muita gente rindo. Gente comum, e não modelos, que encontramos pelas ruas e propusemos que rissem para nós. As fotos foram feitas no calçadão da Rua XV de Novembro, numa sexta-feira, e na Praça do Japão, em um domingo de sol. Nossa fotógrafa Letícia Akemi descobriu e clicou risos diversos e gostosos, como a vida deve ser.