Saúde e Bem-Estar

Carolina Werneck

Segurar espirro faz mal; britânico de 34 anos perfurou a faringe

Carolina Werneck
16/01/2018 17:00
Ar comprimido saindo dos seus pulmões, brônquios e traqueias pela laringe, faringe e fossas nasais a 160 quilômetros por hora. Pode parecer cena de um filme de ficção científica, mas é só a descrição de um espirro. A velocidade foi calculada em um estudo publicado em 2011 pela Virginia Polytechnic Institute and State University, nos Estados Unidos.
As tentativas de segurar uma pressão tão grande podem causar sérias lesões em diversas partes do corpo. Foi o que aconteceu com um homem de 34 anos do Reino Unido. De acordo com um artigo publicado na última segunda-feira (15) pelo British Medical Journal (BMJ), o paciente em questão “apresentou-se à emergência com um quadro agudo de odinofagia [dor ao deglutir] e mudança de voz após um forte espirro”.
Durante o atendimento, ele “descreveu uma sensação de estalo no pescoço e algum inchaço nas laterais do pescoço depois que ele tentou segurar um espirro tapando o nariz e segurando a boca fechada”. O diagnóstico: perfuração de faringe.

Caso raro, mas possível

“São patologias raras, muito raras. Eu tenho 23 anos de formado e nunca vi acontecer algo assim, com exceção de perfuração de membrana timpânica”, relata o otorrinolaringologista do Hospital IPO, Cezar Berger. Ele explica que mesmo as perfurações de tímpano não são tão comuns, mas podem acontecer devido à forte pressão com que o ar é expulso dos pulmões durante um espirro. “Se você segura essa pressão, ela pode procurar outros caminhos para extravasar, que podem ser a faringe, o esôfago terminal, o ouvido ou o próprio trajeto de volta para o pulmão, o que causaria um pneumotórax espontâneo.”
Além das vias aéreas superiores, segurar um espirro também pode ocasionar pequenos sangramentos, inclusive no interior do crânio. Em casos mais graves, perfurações causadas pelo espirro contido podem até gerar infecções generalizadas e até à morte. O mais comum, porém, são os traumas no ouvido, como perda temporária de audição e pequenas hemorragias, sendo que as perfurações timpânicas são mais raras.
Nesses casos o tratamento consiste, em geral, na observação da evolução do paciente. “Na grande maioria das vezes o tratamento é deixar que o próprio organismo resolva esse processo de trauma. Se houver dor, receita-se um analgésico. Talvez um antibiótico para evitar infecções secundárias”, detalha Berger. Intervenções cirúrgicas só são indicadas em quadros que não apresentem cicatrização depois de dois a três meses da lesão.

O que fazer com o espirro?

“O espirro não é uma doença, mas um mecanismo natural. Não existe problema algum em espirrar, desde que você evite agredir outras pessoas com esse espirro. Espirre no antebraço fechado, mas sem obstruir as vias aéreas, só para evitar que os perdigotos espalhem o vírus para outras pessoas.”
O especialista recomenda que, caso o espirro seja sintoma de algum problema de saúde, como gripes e resfriados, sejam tratadas as causas do espirro. Além disso, pessoas que espirram demais, de forma repetitiva, devem investigar possíveis quadros alérgicos ou de hipersensibilidade da mucosa nasal.
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