Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Sífilis aumenta 6.400% no Paraná desde 2010 e atinge principalmente jovens

Amanda Milléo
23/10/2017 08:00
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(Foto: Bigstock)

Fácil de curar e de diagnóstico simples, a sífilis é uma doença que deveria estar extinta, mas têm crescido nos últimos anos, no Brasil. Só no Paraná, de acordo com dados do Ministério da Saúde, a doença adquirida passou de 29 casos no estado, em 2010, para 1.869, em 2016. O aumento de mais de 6,4 mil por cento se deve a diferentes fatores, mas o principal é a falta de cuidado da população nas relações sexuais.
Os números assustam os médicos especialistas, que reforçam os cuidados com a prevenção e tratamento a fim de evitar sequelas graves, com problemas neurológicos e cardíacos. “A aids assustou todo mundo na década de 1980, e levou a uma proteção maior contra a doença. Mas, agora, parece que as pessoas não têm mais o mesmo medo das doenças sexualmente transmissíveis, até porque o tratamento contra a aids melhorou muito. E a impressão que dá é que houve um relaxamento e isso contribui para o aumento na incidência de aids, mas também de outras DST’s, como a sífilis”, sugere Alceu Fontana Pacheco Junior, médico infectologista e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRMPR).
Outro motivo para o aumento no número de casos está relacionado a um maior controle do Estado sobre a doença. Desde 2010, todos os casos de sífilis, sejam eles adquiridos via relações sexuais, em gestantes ou congênitos, devem ser notificados pelas instituições de saúde e médicos aos órgãos responsáveis. Segundo Jaime Rocha,  médico infectologista da Unimed Laboratórios, mesmo com a obrigatoriedade da notificação, a percepção dos médicos e dos laboratórios de análise é que de houve, sim, um aumento no número de casos.
“Esse aumento não é só no Paraná, é nacional. E mesmo nos congressos internacionais os médicos percebem que é uma questão mundial. Isso reflete a falta de cuidado no contato sexual, a falta de diagnóstico e até o ausência de um tratamento adequado, porque é uma doença curável”, reforça Rocha.
O que é a sífilis?
Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é transmitida, principalmente, via relações sexuais, mas o contato com as secreções e úlceras formadas na sífilis primária também disseminam a contaminação. Como a úlcera não causa geralmente dor, a vítima faz o cuidado com a lesão sem se dar conta de que pode ser uma doença mais grave. Isso afasta o diagnóstico precoce e, com ele, o tratamento mais adequado.
Aplicações de penicilina ainda são a principal forma de tratamento, usado tanto na fase primária quanto na secundária da doença, com alterações apenas nas doses. Em geral, o tratamento leva poucas semanas para ser completo – mas isso não impede que a pessoa, quando entre em contato de novo com a bactéria, desenvolva novamente a doença.
“Um erro comum é as pessoas acharem que a sífilis gera imunidade. Mas, se você tratar a pessoa e não tratar o parceiro ou parceira, você pode desenvolver a doença quantas vezes for exposta”, alerta o médico infectologista Jaime Rocha.
Confira as fases principais da sífilis, os sintomas e tratamento:
Fase primária: fase que é também conhecida por cancro, porque gera uma lesão genital ou oral, em forma de úlcera, que não é dolorida, nem tem cheiro ou grandes secreções. Como a lesão desaparece sozinha em duas a quatro semanas, pode passar despercebida pela pessoa, que não trata adequadamente a sífilis.
Fase secundária: é a fase mais contagiosa da doença, quando a sífilis circula pelo organismo. Pode ficar anos nesta fase e o único sinal aparente é uma lesão na pele que imita uma alergia, principalmente nas solas do pé e palma da mão. Esses sinais também podem desaparecer e voltar em outro momento. Além de ser a fase mais comum da doença, é que a passa mais tempo sem diagnóstico.
Fase terciária: leva décadas até ser atingida, mas é a fase em que causa lesões à parte neurológica e cardíaca do paciente. Neste ponto da doença, a penicilina, geralmente, não funciona porque ela não penetra na barreira do sistema nervoso e outro tratamento, com internação de 14 dias, é indicado. Em casos mais graves, a doença pode levar a um aneurisma cardíaco.
Gestação em risco: Quando diagnosticado durante a gestação, a sífilis pode causar problemas de desenvolvimento, deformidades, complicações ou até mesmo levar à morte do bebê.

Prevenção: cuidados e exames

A proteção durante as relações sexuais é essencial para a prevenção da doença, bem como regularmente ir ao médico e solicitar exames de diagnóstico. Jaime Rocha, médico infectologista, sugere que, sempre que for fazer os exames de check up anuais, incluir o exame de sangue que diagnostica sífilis, bem como hepatite B, C e aids.
“Os médicos ficam constrangidos, o paciente também não pede, mas a doença não tem cara. Pode ser rico, pode ser pobre, bonito ou feio, todos estão em risco”, reforça o médico.
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