Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Terror noturno: a síndrome que acomete crianças e apavora os pais

Amanda Milléo
03/08/2017 18:00
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O terror noturno é uma condição que atinge crianças mais novas e passa com o tempo. Foto: Bigstock

Os 15 minutos mais aterrorizantes da vida de Yvia B. F. Neves se repetiram quase todas as noites, durante nove meses. Matheus, na época com dois anos, era o primeiro filho da família e sofria de uma síndrome ainda desconhecida pela mãe, o terror noturno.
Quatro noites por semana, em geral, Matheus acordava por volta das duas horas da madrugada, sentava na cama, ficava de olhos abertos e mesclava entre choro e grito, para o desespero dos pais. Nenhum dos dois conseguia acalmar o menino e quem tentava chegar perto sofria com a agressividade da criança, que dava socos, chutes e empurrões. Passados os 15 minutos, ele se acalmava sozinho e voltava a dormir, como se nada tivesse acontecido.
“No começo eu achava que ele estava tendo pesadelos, porque é nessa idade que a criança começa a sonhar e está formando o imaginário. Achei que era normal e fazia parte, que eram só pesadelos. Depois que eu levei a uma consulta na pediatra que descobri que era o terror noturno”, diz Yvia, preparadora de atores, de 33 anos.
Aos poucos, a mãe foi percebendo que a rotina do menino durante o dia influenciava como a noite seria. Dias mais agitados, com muitas atividades, tornavam as madrugadas também agitadas.
“Nos dias que ele ia para a escolinha de manhã, eu não o levava ao parque depois. Nos outros dias, fazia atividades que não durassem mais de três horas e logo chegava em casa e colocava em uma rotina mais calma: banho, janta e cama. Mesmo alterando a rotina, ele ainda tinha o terror noturno, mas não durava tanto tempo e era bem mais calmo, sem tanto soco e murro”, relata Yvia.
Quando Matheus estava prestes a completar 3 anos, o terror noturno parou, para o alívio dos pais. “Eu pedia muito para que não durasse até os sete anos, que era o período que a pediatra tinha comentado que poderia durar, porque foram nove meses de muito sono interrompido. Eu e meu marido [Fernando S. Silvado, 34 anos, médico de combate] nos revezávamos para ver quem iria atendê-lo toda noite”, conta a mãe.
(Foto: Arquivo pessoal)
(Foto: Arquivo pessoal)
Terror noturno: o que é e como prevenir?
Embora possa parecer um pesadelo, o terror noturno recebe outra definição. De acordo com a médica psiquiatra, Maria Carolina Serafim, médica do hospital Pequeno Príncipe, trata-se de uma interferência no sono que sobrevêm de forma aguda e os sintomas tendem a surgir bruscamente.
“A criança grita na cama, com os olhos arregalados, assustada, não reconhece as pessoas que estão a sua volta, não consegue entender o que lhe falam, em geral está pálida, com suores e com taquicardia. Dura alguns minutos, mas ela volta a dormir em seguida e, ao acordar pela manhã, não se lembra do que aconteceu”, explica a médica psiquiatra sobre os sintomas mais comuns do terror noturno.
A faixa etária mais prevalente para este tipo de reação da criança é entre os dois e três anos de idade – justamente o período em que Matheus começou as crises. Segundo dados da literatura médica, e repassados pela médica psiquiatra, entre 1% a 3% das crianças com menos de 15 anos podem vivenciar esses episódios, enquanto que a prevalência em crianças pré-escolares sobe para 6%.
“O terror noturno diminui com o crescimento, pois a criança adquire melhores condições para as defesas psíquicas e passa a elaborar melhor suas inquietações e angústias”, explica Maria Carolina.
Acolher a criança durante o terror noturno é fundamental
Quando a criança estiver passando pelo terror noturno, a melhor atitude dos pais é tentar acalmá-la ficando próximo a ela, ajudando, se possível, para que deite novamente e tranquilizando-a para que retome o sono normal.
“É também importante que se busque a ajuda do pediatra, que vai avaliar clinicamente se está tudo bem com a criança. Se necessário, o médico fará o encaminhamento a profissionais que possam avaliar situações de tensões psíquicas na família e podem orientar sobre a criação de espaços lúdicos, que ajudam o filho a elaborar suas inquietações”, reforça a médica.
É importante que o quarto da criança seja um ambiente aconchegante, que favoreça o repouso e o descanso. “Os pais também podem conversar com a criança, contar histórias, assegura-la de que, ao dormir, estará crescendo e se desenvolvendo bem”, explica.
Como tratamento, medicamentos são indicados apenas a casos específicos. Mudanças na rotina do sono das crianças tendem a ser mais impactantes.
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