Saúde e Bem-Estar

RBS, por Bruna Porciúncula

O limite mudou: mesmo com pressão arterial 12X8 pacientes podem ser hipertensos

RBS, por Bruna Porciúncula
22/05/2018 07:00
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A Associação Americana do Coração e o Colégio Americano de Cardiologia atualizaram os limites considerados normais para a pressão arterial. Foto: Bigstock

A hipertensão arterial está no topo dos fatores de risco que têm maior impacto na mortalidade da população mundial – são 10 milhões de mortes por ano atribuídas ao problema. Mas veja que curioso: apesar de todo o perigo que o problema representa, as pessoas continuam negligenciando prevenção e informação sobre o tema. O jeito foi apertar ainda mais o cerco contra a doença, diretamente relacionada à maior chance de ocorrência de acidente vascular encefálico e infarto, além de outra penca de males à saúde.
A Associação Americana do Coração e o Colégio Americano de Cardiologia resolveram atualizar os limites considerados normais para a pressão arterial. Agora, a “pressão boa” é aquela abaixo de 120x80mmHg, ou abaixo do conhecido 12 por 8. Pela diretriz adotada nos Estados Unidos, uma pessoa com essa marca já apresentaria uma pressão arterial considerada elevada e, se chegar à marca de 130×80, é hipertensa. Antes, considerava-se a medida de 140×90 para hipertensão.
Os parâmetros atuais adotados no Brasil ainda consideram a pressão 12 por 8 normal, mas, como apontam estudos, o ideal seria mesmo ficar abaixo disso. E esse amontoado de números é um ponto que justificaria a falta de cuidado que a maioria da população tem com a pressão arterial. Presidente da Sociedade Latino-Americana de Hipertensão, Eduardo Barbosa entende que, por não apresentar sintomas, a doença não recebe atenção.
“O paciente acaba vendo ali um número apenas, mas, como não sente nada, não trata. Os números das diretrizes americana e brasileira podem ser diferentes, mas o conceito é o mesmo, e o importante é que as pessoas conheçam. De 30% a 35% da população mundial é hipertensa, mas metade não sabe disso”, diz.

Valores menores já são praticados

Em busca de mais dados sobre a hipertensão arterial do brasileiro, Barbosa está coordenando uma força-tarefa de cardiologistas que, durante o mês de maio, está empenhada em adotar o novo paradigma terapêutico da doença, baseado na 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão (2016) e no Guideline Latino-Americano, publicado no Journal of Hypertension no final de 2017.

“Queremos que as pessoas consideradas de alto risco comecem a ser tratadas mesmo que ainda não estejam classificadas como hipertensas “, explica o cardiologista.

Outro ponto da força-tarefa, que envolve cerca de 600 médicos, preconiza a combinação de dois remédios em um único comprimido e, dentro da medicação escolhida, a melhor combinação é a que seja feita ao menos uma vez ao dia, que tenha duração de 24 horas. De acordo com o médico, a combinação da medicação atua na maior redução de infarto, isquemia, derrame e disfunção renal.
No final deste mês, os dados brasileiros serão reunidos e encaminhados para a Sociedade Internacional de Hipertensão, que irá apresentar os números de todas as regiões do mundo no congresso internacional da entidade, em setembro, em Pequim (China).
Para muitos pesquisadores (e médicos), já é uma realidade apostar em valores menores do que 12 por 8 como pressão ideal, considerando o envelhecimento da população e também os maus hábitos da vida moderna, como sedentarismo e consumo de alimentos industrializados, riquíssimos em sódio.
Professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da UFRGS, a epidemiologista Sandra Fuchs é uma defensora da adoção dos parâmetros abaixo do famoso 12×8.
“Em boa parte dos serviços de excelência já se adota a medida menor do que 12×8 para a pressão ideal. Isso porque um estudo norte-americano mostrou uma redução de mortalidade inequívoca (25%) para quem baixou a pressão para esses valores. E nove sociedades profissionais norte-americanas endossaram o que está na diretriz deles. Na prática, o que se quer é que as pessoas mudem seus hábitos de vida para não precisar tomar mais remédio – diz Sandra.

O que é hipertensão ou pressão alta?

A Associação Americana do Coração e o Colégio Americano de Cardiologia atualizaram os limites considerados normais para a pressão arterial. Foto: Bigstock
A Associação Americana do Coração e o Colégio Americano de Cardiologia atualizaram os limites considerados normais para a pressão arterial. Foto: Bigstock
A diretriz brasileira considera hipertensão os valores de pressão arterial a partir de 140×90 (o popular 14×9), mas já há médicos que consideram os paradigmas americanos, de 130×80. Não basta uma única medida com esses valores para fazer o diagnóstico, é preciso pelo menos duas aferições em duas consultas médicas.

Sintomas

A hipertensão não apresenta sintomas. A doença está relacionada a maior risco de infarto e acidentes vascular encefálico, além de outros problemas cardiovasculares e renais.

O que significa a medida da pressão arterial

Vamos usar como exemplo a clássica medida 12×8. Você sabe o que significa cada número? A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mm/Hg).
>12< Pressão sistólica (SBP), resultante da força com que o coração se contrai e ejeta sangue do ventrículo esquerdo para as artérias. Pressão diastólica (DBP), resulta do estado de contração das pequenas

O guideline brasileiro

Normal
120 x 80 ou menor
Pré-hipertensão
De 121 a 139 x 81 a 89
Hipertensão – estágio 1
De 140 a 159 x 90 a 99
Hipertensão – estágio 2
De 160 a 179 x 100 a 109
Hipertensão – estágio 3
Acima de 180 x 110

O novo guideline americano

Normal
Abaixo de 120 x 80
Pressão elevada
De 120 a 129 x 80
Hipertensão – estágio 1
De 130 a 139 x 80 a 90

O jeito certo de medir a pressão

Você está caminhando na rua e topa com uma barraquinha em que um profissional da saúde está disponível para medir a pressão de quem quiser. Esbaforido, você senta e estende o braço para o exame. Cuidado! O resultado, nessas condições, pode não ser condizente com o que anda acontecendo nas suas artérias. A precisão nas aferições da pressão arterial depende de uma série de medidas que validam o resultado apontado pelos aparelhos.
Ao medir a pressão arterial…
… não tome café pelo menos 30 minutos antes de fazer o exame. Esse intervalo vale também para a prática de exercícios e o consumo de cigarros e similares.
evite os aparelhos usados em casa, porque eles geralmente não estão com a calibragem adequada. Prefira aferir a pressão em unidades de saúde ou em consultórios
médicos, que contam com aparelhos com a manutenção em dia.
… vá ao banheiro antes de realizar o exame. Bexiga cheia pode alterar os resultados.
… fique sentado, em repouso, com os dois pés no chão (nada de pernas cruzadas) por pelo menos cinco minutos antes da aferição.
… quando estiver medindo a pressão arterial, mantenha o braço relaxado sobre uma superfície que esteja mais ou menos à altura do coração, as costas apoiadas em um encosto confortável e não fale durante a medição.
repita o processo mais duas vezes, dando um intervalo de dois minutos entre uma medição e outra.
A recomendação dos médicos é de que, a partir dos 40 anos, a pressão arterial seja avaliada ao menos uma vez por ano.

Certeza, só com exames mais aprofundados

O diagnóstico de hipertensão não é algo tão simples quanto se imagina. Bater o martelo sobre essa condição requer mais do que uma simples aferição no posto de saúde. Quando se nota uma elevação nos números, recomenda-se uma sequência de avaliações. Há exames que são mais precisos. Um deles é a Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial – Mapa, em que o paciente fica 24 horas com um equipamento no braço para monitorar a pressão. A cada 15 minutos, ocorre uma aferição. À noite, esse intervalo aumenta para 20 minutos.
Esse processo é considerado mais confiável não só pelo maior período de avaliação, mas também porque não se tem a influência da chamada “síndrome do avental branco“. É que muitos pacientes, só por estarem na presença de médicos e enfermeiros, ficam mais ansiosos, o que pode interferir nos números da pressão arterial.
Outro método utilizado é a Monitorização Residencial de Pressão Arterial (MRPA). Neste caso, o paciente mede a pressão três vezes pela manhã e três vezes no início da noite, durante cinco a sete dias. Há um treinamento prévio para que o uso do aparelho seja feito de forma adequada. Os dados são registrados automaticamente ou anotados em um diário e, com eles, o médico faz uma média das medidas para determinar o valor da pressão fora do consultório.
Tanto a Mapa quanto a MRPA não estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A professora Sandra Fuchs reforça que, apesar de esses exames darem mais subsídios ao diagnóstico, a medição feita no consultório, de forma adequada e seguindo os protocolos, já é suficiente para indicar desequilíbrio na pressão arterial.
Sandra já trabalha em um projeto para implantar, inicialmente na unidade básica de saúde junto ao Hospital de Clínicas, uma medição em que o próprio paciente, sozinho em uma sala e devidamente orientado, faz a medição da própria pressão. Assim, acredita, haveria menor chance de o resultado ser influenciado pela presença do profissional de saúde.
“Acho que teríamos um ganho significativo nessas avaliações e, quem sabe, mostrando dados coletados no projeto, a gente sensibilize as autoridades para implantar esse método em todas as unidades de saúde”, diz.

Prevenção para não viver sob pressão

A hipertensão pode trazer sérias complicações à saúde. Como a doença não costuma apresentar sintomas, as pessoas geralmente são surpreendidas em exames de rotina. Sabe-se também que há fatores de risco que podem ser perfeitamente prevenidos, como obesidade e consumo excessivo de álcool, sem falar no excesso de sal na alimentação, o ingrediente número 1 da pressão alta.
Um estudo publicado em 2017 pelo The British Medical Journal (BMJ) mostrou que a redução de 10% no consumo de sal permitiria salvar milhões de vidas no planeta. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a população adulta consome sal além do limite de 2 gramas por dia, o que colabora para que 1,65 milhão de pessoas morram de doenças cardíacas. No Brasil, chega-se a consumir, em média, 12 gramas diárias de sódio.
“Acho que comer com menos sal seria o ponto principal da dieta e também cuidar o peso e evitar o sedentarismo e o estresse. Bons hábitos podem fazer com que muitos pacientes diminuam a necessidade de remédios !diz Luiz Aparecido Bortolotto, diretor científico da Sociedade Brasileira de Hipertensão e diretor da unidade de hipertensão do Instituto do Coração (InCor).

Dicas

(Foto: Henry Milléo / arquivo / Gazeta do Povo)
(Foto: Henry Milléo / arquivo / Gazeta do Povo)
– Dê preferência a verduras, frutas e legumes crus.
– Comece as refeições por saladas com folhas verdes.
– Não faça jejum nem pule refeições.
– Leia atentamente os rótulos dos produtos e confira os níveis de sódio.
– Faça ao menos 30 minutos de atividade física diária. Atividades que duram menos de 10 minutos não contam, incluem-se aí tarefas domésticas.
– Não fume.
– Para as crianças, evite papinhas industrializadas e não acrescente sal à comida, o que já prejudicaria a educação do paladar contra o excesso de sal.

Atenção

Adote o uso de sal light. Via de regra, sal do himalaia não é mais saudável do que o comum quando se fala em níveis de sódio e você ainda paga mais caro. Apostar em outros temperos naturais para dar sabor à refeição ajuda a reduzir o consumo de sal e a adaptar o paladar.

Produtos ricos em sódio
– Carnes processadas, embutidos e alimentos prontos
– Enlatados e conservas
– Temperos prontos
– Lanches industrializados
– Queijos amarelos e duros, como parmesão, provolone e prato
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