Saúde e Bem-Estar

Adriano Justino

Comedores compulsivos

Adriano Justino
16/05/2013 03:08
Relacionada a aspectos psicológicos como dificuldade em organizar emoções, ansiedade, depressão e estrutura emocional prejudicada, a compulsão alimentar é em muitos casos responsável pelo desenvolvimento da obesidade.
Após a cirurgia bariátrica – realizada em casos graves – alguns pacientes podem trocar esse comportamento compulsivo por outro, como explica a endocrinologista Cláudia Cozer, que falará sobre o assunto no 15º Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, que acontece de 30 de maio a 1.º de junho em Curitiba.
A obesidade mórbida está sempre relacionada à compulsão alimentar?
Não, mas de 30% a 50% dos pacientes com o índice de massa corporal acima de 40 têm compulsão alimentar. E em casos em que há a compulsão, o mais comum é que tenha existido um comportamento compulsivo anterior. Porém, nem sempre a obesidade mórbida envolve compulsão: em alguns pacientes prepondera a influência de mecanismos genéticos e de metabolismo.
Existe a propensão de se trocar a compulsão alimentar por outra após a cirurgia bariátrica?
Sim, isso tem até um nome: síndrome da deficiência de recompensa (em inglês rewards deficiency syndrome). Isso é visto na clínica, quando o paciente troca a compulsão alimentar por compras, alcoolis­mo e drogas. O fato foi demons­trado em alguns estudos genéticos e de neurotrans­missores cerebrais, como a dopamina.
Quais aspectos psicológicos podem estar relacionados a este comportamento?
Ansiedade, depressão, baixa autoestima, mutilação, revolta e angústia. As relações familiares têm papel crucial, assim como experiências na primeira infância – até os dez anos de idade. Existe uma íntima relação entre a necessidade de comer e a dificuldade em lidar com conflitos. Esses pacientes aprendem a “engolir” o medo, ressentimento e a conter emoções com comida.
Há comportamentos “embrionários” que indiquem o começo de uma compulsão alimentar?
Na maior parte das vezes, não é o comportamento que gera a compulsão, mas o contrário: a compulsão induz a condutas inadequadas: comer de madrugada ou escondido, comer e provocar vômito. O que favorece o surgimento das compulsões são fatores genéticos, hormonais e psicológicos – a forma como o indivíduo estabelece um padrão de reação aos conflitos baseado na alimentação.
Após a cirurgia bariátrica, a compulsão alimentar pode comprometer o resultado da cirurgia?
Em alguns casos de compulsão grave contraindicamos a cirurgia, pois o paciente pode correr risco até de morte. Mas por experiência, muitas compulsões melhoram ou diminuem depois da cirurgia porque há uma mudança importante nos hormônios intestinais e na baixa autoestima. Caso a compulsão continue, ela compromete o resultado cirúrgico pelo mesmo mecanismo do ganho de peso inicial: o paciente ingere mais calorias do que precisa e volta a recuperar peso. Contudo, a alta prevalência de compulsão alimentar em obesos não deve ser considerada fator impeditivo para a realização da cirurgia, e sim, devidamente diagnosticada e acompanhada.
Há como evitar essas trocas de compulsões e a quem se deve recorrer nesses casos?
Existe ajuda farmacológica e psicológica. Os pacientes podem recorrer ao psiquiatra, psicólogo ou ao clinico geral para pedir uma orientação. O acompanhamento multidisciplinar, as técnicas de terapia cognitiva-comportamental e estratégias pós-operatórias são bastante úteis.