Saúde e Bem-Estar

Lucas Laranjeira, especial para a Gazeta do Povo

Gordura contra o peso

Lucas Laranjeira, especial para a Gazeta do Povo
19/09/2013 03:28
A descoberta de uma gordura que “emagrece” pode significar um avanço no desenvolvimento de novas drogas ou práticas que auxiliem na redução de peso. O tecido adiposo marrom, presente em animais que precisam manter a temperatura do corpo ao hibernar e em recém-nascidos para protegê-los do frio, foi encontrado recentemente também em adultos.
Localizado próximo a grandes vasos, como a aorta, no pescoço e na região interescapular, um pouco abaixo da nuca, este tecido gera calor e aumenta a temperatura do corpo quando a pessoa é exposta a baixas temperaturas.
Encontrado em menor quantidade nos adultos, esta gordura corresponde a menos de 5% dos tecidos de todo o corpo e, segundo o endocrinologista com ênfase em obesidade, diabete e acompanhamento clínico pós cirurgia bariátrica Marcio Mancini, “não é um tecido que armazena gordura, mas que ajuda a aumentar a temperatura corporal e a gastar calorias”. O também membro da Associação Brasileira para o Es­­tudo da Obesidade (Abeso) diz que, ao contrário do tecido branco, esta gordura tem uma quantidade elevada de mitocôndrias de coloração amarronzada.
O tecido, normalmente inativo em nosso corpo, é ativado no frio. “Pro­vavelmente isso ocorra pela própria função do tecido no organismo dos animais no inverno”, informa Man­cini. Para o endocrinologista e doutorando em Tecido Adiposo Marrom e Ritmo Circadiano, Bruno Halpern, “algumas pessoas em ambientes com cerca de 20 graus podem ter o tecido ativado, mas isso varia de pessoa para pessoa, cada uma apresentado um grau de atividade diferente.”
Cápsulas distantes
A ideia de capturar o hormônio irisina para injetar no corpo humano ainda está longe de ser uma realidade, segundo a endocrinologista Cintia Cercato. “A irisina é considerada uma perspectiva para o tratamento da obesidade, pois pode amarronzar o tecido adiposo branco. Mas seu estudo está em fase muito inicial”. Na opinião de Bruno Halpern, muitas descobertas estão por vir. “Em geral um estudo de remédio até chegar a um mercado leva mais de 10 anos. Está muito cedo para dizer alguma coisa”, afirma o médico.
Reações não-padronizadas
A queima de gordura branca por meio da marrom é uma reação que não ocorre de forma padronizada com todas as pessoas. “É algo individual, genético – em alguns ela ativa mais, em outras menos. Os estudos estão em fase inicial. Aqueles que têm o tecido bem ajustado conseguem manter o peso, mas não é só isso que acontece no corpo”, informa Marcio Mancini.