Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

O que revela o hemograma

Amanda Milléo
20/02/2014 03:58
Ao passar o olho pelo resultado do hemograma, os termos eritrócito, leucócito, plaqueta e volume globular por vezes passam despercebidos.
Se os números estão dentro dos valores de referência, o laudo muitas vezes é deixado de lado pelo paciente, sem nem mesmo retornar ao médico que o solicitou.
Um dos exames mais requeridos em consultas, o hemograma faz um panorama do corpo humano, verificando se há infecções virais, bacterianas ou parasitárias, reações alérgicas, anemias ou até problemas maiores, como leucemia.
Conhecer o que cada elemento celular sanguíneo significa ajuda a interpretar o hemograma e as implicações desse exame.

“A média de hemoglobina para um homem adulto é de 15 gramas por decilitro (g/dL). Se o hemograma apresenta 13 g/dL, apesar de estar na média, é preciso avaliar. Pode ser um indicador precoce de alteração ainda não detectável pelo médico ou paciente. É uma forma de sintoma”, afirma o patologista clínico Emílio Granato.

Além da análise quantitativa, o hemograma verifica também como as células sanguíneas estão qualitativamente, ao analisar seu tamanho, formato e volume. Confira a função de cada elemento identificado pelo exame:
O hemograma é um exame de análise qualitativa e quantitativa dos elementos celulares no sangue.
Os valores de referência (VR) variam conforme os autores e laboratórios.
Leucograma
Análise da quantidade e qualidade dos leucócitos ou glóbulos brancos e seus subtipos, como os neutrófilos, linfócitos, basófilos e monócitos. São todas células do sistema imunológico do organismo.
• Leucócitos: células de defesa do organismo que agem no combate às infecções bacterianas, virais e outras doenças. Ansiedade, dores e até exercícios físicos podem aumentar o número de leucócitos no sangue.
VR: 3,6 mil a 11 mil por uL
• Eosinófilos: em infecções parasitárias ou reações alérgicas, o organismo produz mais eosinófilos na medula óssea. Algumas doenças de pele também aumentam sua produção.
VR: 0 a 500 por uL
• Basófilos: sua quantidade tende a ser constante, independentemente de exercícios e hora do dia. Portanto, quando há um aumento anormal, comumente está associado a colite ulcerativa, sinusite crônica e infecções virais como varíola e varicela, ou ainda nos casos de leucemia mieloide crônica.
VR: 0 a 200 por uL
• Neutrófilos: os mais conhecidos entre as células de defesa, combatem as infecções bacterianas, sendo estas as causas mais comuns para o seu aumento expressivo. Através do processo de fagocitose, os neutrófilos ‘engolem’ as bactérias a fim de combatê-las. Quando estão em baixa no organismo, a capacidade de defesa da pessoa fica comprometida. Com o núcleo em forma de bastão, eles são conhecidos como bastonetes.
VR: 1,5 mil a 7 mil por uL
• Linfócitos: em crianças, sua contagem tende a ser maior que nos adultos. Quando a quantidade destas células aumenta entre os jovens e adultos, indica infecções virais agudas, como a mononucleose infecciosa.
VR: mil a 4,5 mil por uL
• Monócitos: seu aumento no organismo é raro, mas pode ocorrer em casos de tuberculose, endocardite bacteriana subaguda, tifo e infecções por ricketsias (bactérias carregadas como parasitas em carrapatos, pulgas e piolhos).
VR: 100 a mil por uL
• Mielócitos e metamielócitos: são células de defesa imaturas, o que significa que a medula óssea está liberando-as antes do tempo. Elas não devem ser encontradas em hemogramas saudáveis, podendo indicar leucemia, juntamente com a presença de outras células imaturas, como os blastos (encontrados somente na medula óssea, normalmente).
VR: zero em hemogramas saudáveis.
Eritrograma
Análise da quantidade e qualidade dos eritrócitos, conhecidos por hemácias ou glóbulos vermelhos, das hemoglobinas e do volume corpuscular dos elementos celulares.
• Hemácias: células que transportam oxigênio do pulmão aos tecidos e do gás carbônico dos tecidos ao pulmão. Para se fixar nas hemácias, o oxigênio liga-se à hemoglobina. A hemácia é como um caminhão, cuja carroceria é a hemoglobina e a carga é o oxigênio.
VR: homens adultos de 4,5 a 6,1 milhões por microlitro (M/uL); mulheres de 4,0 a 7,4 M/uL; crianças de cinco anos de 4,1 a 5,1 M/uL e idosos acima de 70 anos de 3,9 a 5,3 M/uL.
• Hemoglobina: formada por uma cadeia proteica e ferro, verificar a sua quantidade é a principal forma de identificar uma anemia. Há vários tipos, mas a mais comum é a ferropriva, devido à falta de ferro no organismo.
VR: abaixo de 12 gramas por decilitro (g/dL) para mulheres e 13g/dL para homens caracteriza uma anemia, quando acompanhados de outras referências. Medicamentos e hidratação do paciente podem alterar o valor da hemoglobina.
• Volume corpuscular: verifica quantos glóbulos vermelhos têm em relação ao plasma, a parte líquida do sangue. A redução do volume pode significar uma hemorragia, deficiência de ferro, enquanto um aumento pode ser efeito da deficiência da vitamina B12.
VR: 80 a 98 fentolitros (fL) para adultos.
Plaquetas
Células que participam do processo de coagulação do sangue através da agregação plaquetária. Quando a quantidade de plaquetas está muito baixa, o processo é mais lento e a pessoa tende a perder mais sangue.
A ingestão de aspirina pode reduzir as plaquetas no sangue, assim como a radiação, alcoolismo crônico e leucemia. Estar abaixo de 50 mil plaquetas por microlitros (uL) é um valor preocupante. Acima de 900 mil/uL há predisposição à trombocitose. Doenças da medula óssea podem causar o aumento no número de plaquetas, assim como a retirada do baço, responsável por tirar as plaquetas de circulação.
VR: média de 223 mil/uL ou variação de 140 mil a 360 mil por uL.
Fonte: Emílio Granato, patologista clínico e responsável técnico do Laboratório Frischmann Aisengart; Giorgio Baldanzi, médico hematologista e hemoterapeuta do Hospital das Clínicas da UFPR. Valores de referência dos livros Hemograma, manual de interpretação, de Renato Failace, 5ª edição (2009) e Técnicas Básicas de Laboratório Clínico, de Barbara H. Estridge e Anna P. Reynolds, 5ª edição (2011).
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