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Área de lazer do Aeroclube do Paraná, dentro do Aeroporto do Bacacheri. Fotos: Rafael Costa/Gazeta do Povo
Área de lazer do Aeroclube do Paraná, dentro do Aeroporto do Bacacheri. Fotos: Rafael Costa/Gazeta do Povo| Foto:

Quem morou ou cresceu nos arredores do Aeroporto do Bacacheri se lembra fácil do som das turbinas aquecendo, de aviões cortando o céu o dia todo e das ruas tomadas por carros nos dias de acrobacias da Esquadrilha da Fumaça. Junto com a base da Força Aérea Brasileira (FAB), que faz uso compartilhado do terminal por meio do Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta-2), o aeroporto é um marco para os moradores do região.

Para alguns, no entanto, o vínculo é mais estreito: há quem faça das margens da pista do Bacacheri a sua “praia” nos fins de semana.

O ponto de encontro é a área de lazer do Aeroclube do Paraná, sediado no aeroporto desde os anos 1930 (as atividades de aviação no local começaram nesta época, com a instalação do Colégio Agrícola Estadual). O espaço abre às 8h da manhã, junto com o restaurante e lanchonete do clube, que só fecha as portas por volta das 23h.

Tem um salão de festas para associados e um parquinho para crianças aberto para o público, a poucos metros do vaivém dos monomotores e bimotores dos cursos de pilotagem do outro lado da grade.

Visitantes assistem à decolagem de um helicóptero no Aeroporto do Bacacheri.
Visitantes assistem à decolagem de um helicóptero no Aeroporto do Bacacheri.

“A ideia é atrair a piazada”, diz Mario Tetto Sobrinho, presidente do Aeroclube do Paraná há 16 anos. “A criançada adora, porque vê avião, planador e helicóptero voando toda hora”, conta. “Tem gente que vem fazer piquenique.”

O encarregado financeiro Leandro Passos, morador do bairro Bacacheri, conta que o som das turbinas atraiu a atenção das duas filhas — Luisa, de 6 anos, e Anita, de 5 —, e o passeio acabou virando hábito da família nos fins de semana.

“Elas ficavam curiosas com o barulho das decolagens e aproveitamos para trazê-las e mostrar o aeroporto aos sábados e domingos”, diz.

Para ele, o Bacacheri tem mais graça do que o Afonso Pena quando o objetivo é passear — ainda que no primeiro, bem menor, circulem apenas aviões pequenos (ele é usado  principalmente para a chamada a “aviação geral”, que é como se chamam as atividades aéreas não relacionadas com voos comerciais ou operações militares).

Leandro Passos brinca com as filhas Luisa, de 6 anos, e Anita, de 5.
Leandro Passos brinca com as filhas Luisa, de 6 anos, e Anita, de 5.

Em 2016, passaram pelo Bacacheri menos de 86 mil passageiros, enquanto o terminal instalado em São José dos Pinhais teve quase 6,4 milhões de pessoas embarcadas e desembarcadas. A atividade aérea, em compensação, não deixa os espectadores na mão: no ano passado, mais de 22,3 mil pousos e decolagens movimentaram a pista do Bacacheri — cerca de um terço dos pouco mais de 66 mil do Afonso Pena.

“O Afonso Pena é muito técnico. Você pode ficar apenas no saguão. Aqui, dá para ver de perto os pousos e decolagens. É o que a molecada gosta”, conta Passos.

Aviões no Aeroporto do Bacacheri.
Aviões no Aeroporto do Bacacheri.

Tranquilidade

Frequentador da área desde os dez anos de idade, o escrevente Ricardo Luis de Melo Souza, de 42 anos, hoje visita o aeroporto junto com o filho, Ricardo, de 5.

O pai destaca as facilidades do espaço, que considera mais tranquilo e seguro do que o Parque Bacacheri, a cerca de dois quilômetros dali.

“Hoje em dia, no parque, você não dá conta da piazada andando de skate e etc”, explica.

A tranquilidade do local, interrompida de tempos em tempos só pelo ronco dos aviões, também é usada pelo empresário e advogado Leandro Salomão, de 41 anos. Ele escolheu o espaço do Aeroclube para ler — às vezes, também em dias de semana.

“Virou um refúgio, uma praia da região. É um lugar seguro, tranquilo, bonito e com estrutura”, diz, se referindo ao restaurante e à segurança garantida pela vizinhança militar.

O empresário e advogado Leandro Salomão recorre ao aeroporto como um refúgio para a leitura.
O empresário e advogado Leandro Salomão recorre ao aeroporto como um refúgio para a leitura.

Leandro é outro que cresceu frequentando o local. Primeiro, domando aeromodelos na pista circular que ainda está instalada na área de lazer do Aeroclube — os aviõezinhos de antigamente não tinham controle remoto e giravam em torno do piloto presos por um fio. Depois, fez aulas de pilotagem, mas foi impedido de ser piloto por causa da miopia e do astigmatismo.

“Isso desencadeou o hábito de vir ler aqui. Posso sentar e ficar aqui por horas”, diz, contando que a área fica lotada durante a tarde em fins de semana ensolarados.

Praia

A empresária Danielle Caron, filha de piloto, diz que o lugar mudou muito desde os anos 1970.

“A gente vinha na época em que era tudo aberto e não havia todos esses hangares”, lembra.

“Era um programão”, complementa o marido — o também empresário e ex-piloto profissional Arnaldo Caron. “Eu vinha empinar pipa e brincar com filhos de outros pilotos”, conta.

“Até o segundo choque do petróleo [1979], as pessoas vinham confraternizar, socializar, andar de avião. As mulheres se arrumavam para passar o dia no clube. Em um dia como esse, teria 200 ou 300 pessoas aqui”, diz.

Sentados em cadeiras de praia, eles contam que os dois filhos — uma de 23 e outro de 20 — também “se criaram” por ali.

“Isso aqui é a nossa praia. A gente põe as cadeiras, larga os bichos e relaxa”, diz Arnaldo, se referindo aos dois Yorkshire do casal que corriam atrás de uma criança de bicicleta.

Os empresários Danielle  e Arnaldo Caron: "praia".
Os empresários Danielle e Arnaldo Caron: "praia".

Danielle e Arnaldo também destacam o fato de se sentirem seguros no local — o que não acontece nos parques Bacacheri e Atuba.

“A segurança nos parques está complicada. O pessoal está assaltando, roubando carros. Vemos isso direto no grupo de Whatsapp do Bacacheri”, conta Danielle.

Festival Aéreo com Esquadrilha da Fumaça

Parte da ligação da comunidade do Bacacheri com o aeroporto vem dos festivais aéreos e demonstrações organizados pelo Aeroclube do Paraná. Mario Tetto Sobrinho, presidente do clube, conta que o local sedia atividades de acrobacia desde os anos 1960.

“As gincanas aéreas, em que se soltavam bexigas e os aviões iam atrás para estourá-las com a hélice, lotavam o aeroporto”, conta. Parte desta história pode ser conhecida na exposição de fotos do salão social do clube.

Evento do Aeroclube no Aeroporto do Bacacheri em 1968: público em peso. Foto: Reprodução
Evento do Aeroclube no Aeroporto do Bacacheri em 1968: público em peso. Foto: Reprodução

Em 1984, o Aeroclube organizou a primeira Revoada Nacional de Velhas Águias, já com a presença da Esquadrilha da Fumaça. O evento teve cinco edições até virar o Festival Aéreo, em 2004.

A nona edição do festival acontece entre os dias 13 e 15 de outubro e contará com a primeira apresentação do Esquadrão de Demonstração Aérea em Curitiba desde 2012.

O Aeroclube espera um público de 75 mil pessoas durante a demonstração da Esquadrilha da Fumaça, no dia 15.

“A comunidade de Curitiba inteira espera por essa atividade”, diz Mario. Ele explica que a esquadrilha passou cinco anos sem vir à capital paranaense porque precisou interromper as demonstrações para se dedicar aos treinamentos com os Super Tucanos adquiridos em 2013 (o esquadrão usou um outro modelo de avião, o Tucano, entre 1983 e 2013). As demonstrações foram retomadas em 2015.

Segundo o presidente do Aeroclube, o festival contará com food trucks, exposição de planadores e aviões históricos do Brasil e do exterior, além de atividades como voos acrobáticos, paraquedismo e aeromodelismo. A entrada será franca. Mais detalhes sobre a programação do festival serão divulgados nos próximos dias.

Aeroporto do Bacacheri

O Aeroclube do Paraná fica no Hangar 20 do Aeroporto do Bacacheri (R. Cícero Jaime Bley, s/n.º).

Mais informações: (41) 3256-3003 e aeroclubeparana.com.br.

9.º Festival Aéreo do Aeroclube do Paraná

Aeroporto de Bacacheri (R. Cícero Jaime Bley, s/n.º). Dias 13, 14 e 15 de outubro de 2017. Entrada franca. Mais informações: (41) 3256-3003.

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