Turismo

Mitos, lendas e festa levam à terra do guaraná

Renan Colombo
27/01/2011 02:08
O interior amazonense é, além de farto em belezas naturais, rico em folclore. E uma das principais expressões culturais é a Festa do Guaraná, realizada anualmente na pequena cidade de Maués, a 270 km de Manaus (356 km via fluvial). O evento, que reúne cerca de 40 mil pessoas, sempre em novembro, só é superado em pú­­blico, no calendário das festas folclóricas do Amazonas, pelo Fes­­tival de Pa­­rintins, que acontece em junho.
Como o próprio nome indica, a festa homenageia o fruto do guaraná, planta típica do território amazônico, muito consumida pelos habitantes locais, como fonte de energia e vitalidade, e um dos pilares da economia da região. O fruto também carrega muita simbologia, já que é cultivado desde os tempos em que apenas a tribo indígena saterê-mawé habitava a área em que hoje fica o município.
A festa explora o rico folclore criado em torno do fruto. Durante os três dias de evento, grupos de danças típicas sobem ao palco e interpretam diversas lendas sobre o guaraná, como aquela que diz que a planta brotou da terra depois que uma índia foi morta e enterrada por se apaixonar e fugir com um membro de uma tribo rival, em uma analogia à história de Romeu e Julieta.
Os dançarinos também encenam o ritual da tucandeira. Trata-se de um costume da tribo saterê-ma­­wé, no qual os jovens que estão chegando à idade adulta colocam a mão em uma luva infestada por formigas tucandeiras, cujo ferrão causa extrema dor, de­­monstrando a coragem necessária pa­­ra se tornarem ho­­mens independentes.
Outro grande momento da celebração é a escolha da rainha da festa, que deve se apresentar em traje típico, construído à base de guaraná, e homenagear Cereça­poranga, a índia que, conforme a lenda, morreu e deu origem ao fruto. As fantasias das candidatas são belíssimas, feitas por artistas plásticos da cidade com elementos típicos da Amazônia, como escamas do peixe pirarucu.
Museu
Quem quer conhecer mais a fundo o significado do guaraná para a população de Maués pode visitar um museu, inaugurado há pouco mais de um ano, que, entre outras coisas, reúne instrumentos usados no processamento artesanal da planta – o fruto é vendido, pelos moradores locais, em pó e bastão, além de ser usado em peças de artesanato.
Praia (de rio) ameniza o forte calor
Visitar Maués para acompanhar a festa significa encontrar, além do evento rico em cultura, uma cidade com muitas belezas naturais. Às margens da principal avenida da cidade, fica a Praia da Antarctica, com uma faixa de areia branca que se estende por mais de um quilômetro, às margens do Rio Maués-Açu. A praia permite aos visitantes se refrescar do forte calor amazonense, cuja média de temperatura se aproxima dos 30ºC.
O município é cercado por ilhas, como a Ilha de Vera Cruz e a Ilha da Conversa, possíveis de serem visitadas em barcos, fretados inclusive por hotéis da cidade. As ilhas, distante cerca de 10 minutos do porto de Maués, por via fluvial, guardam atrativos como grutas, trilhas e piscinas naturais.
Outra atração é o encontro en­­tre as águas dos rios Urariá e Maués-Açu, que formam um impressionante contraste, colorindo as águas com três diferentes tonalidades, em fenômeno parecido ao que acontece quando se encontram os rios Negro e Solimões.
A natureza amazônica ainda guarda mais um presente: quem chega a Maués navegando desde Manaus se depara, no caminho, com a presença de muitos botos, inclusive o cor-de-rosa.