Turismo

Depois do fim parcial da Litorina, Morretes se reinventa para atrair turistas o ano inteiro

Guilherme Grandi
20/04/2018 17:00
Thumbnail

Uma das vocações que Morretes está à procura é criar programas para movimentar o comércio durante a noite. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo

Os passeios de trem da Litorina sempre foram o chamariz turístico de Morretes, no litoral do Paraná. Mas, desde o começo do ano, os vagões com turistas do mundo todo começaram a descer a Serra da Graciosa apenas nos finais de semana e feriados, e a cidade sentiu no bolso a dependência do atrativo.
Apelidada de ‘crise do trem’ por comerciantes locais, a frequência menor da Litorina fez com que o movimento de turistas despencasse 50% nos dias de semana e 30% aos sábados, domingos e feriados. E a recessão da economia brasileira, que está aos poucos sendo superada, ajudou a prejudicar ainda mais a falta de visitantes.
Com as ruas mais vazias durante a semana, e o terminal de trem praticamente parado a maior parte do tempo, os comerciantes viram que era preciso fazer alguma coisa. Carmem Maria, presidente do Morretes Convention, explica que o corte das frequências da Litorina ainda levou uma publicidade negativa para a cidade. “As pessoas não entenderam que o trem continua vindo, elas acham que simplesmente tudo parou e que Morretes está falindo, o que não é bem assim”, conta.
Desde então a cidade está se unindo para mostrar que vai além de apenas o passeio de trem. Os casarios antigos, o ecoturismo, a gastronomia e os festivais culturais são os novos horizontes para atrair de novo os turistas. “Queremos fazer eventos diferentes para que as pessoas venham tanto de trem, nos finais de semana, como de carro em qualquer dia”, explica Carmem.
O Ekôa Park tem três trilhas no meio da mata atlântica. Foto: Divulgação.
O Ekôa Park tem três trilhas no meio da mata atlântica. Foto: Divulgação.

Novas ideias

O ecoturismo continua sendo o principal chamariz de Morretes, com a imensidão da mata atlântica preservada ao redor da cidade. Mas, o que antes era sinônimo de Litorina, agora também tem atrações que podem ser percorridas a pé dentro da mata.
O Ekôa Park, por exemplo, abriu no começo de março como uma espécie de parque temático de ecoturismo, com atividades de tirolesa, arvorismo e trilhas na floresta. Pouco tempo depois veio o Higeospar – Parque Histórico e Geográfico do Paraná, com a proposta de contar a história do estado através de miniaturas automatizadas. E o projeto Vale do Gigante Paraná, que criou um roteiro turístico no pé da serra do mar.
A cidade também está trabalhando para conseguir o selo de Indicação Geográfica para a cachaça de Morretes e o Barreado, ambas em fase de análise pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). “A nossa esperança é de que já tenhamos algum resultado dessas iniciativas a partir do segundo semestre”, explica Carmem.
Outro foco de trabalho é a promoção de festivais culturais e temáticos. A primeira edição do Nhundiaquara Jazz Festival, realizada em 2015, atraiu mais de 12 mil pessoas à cidade. A expectativa dos empresários é retomar o evento neste ano, entre maio e junho.
Para o empresário Lourenço Rolando Malucelli, a falta do trem não pode ser uma desculpa para a cidade não ter mais turistas. “Fomos dependentes do trem sim por muito tempo, mas Morretes tem mais de 300 anos, e muito potencial para a promoção de eventos de dia e de noite”, conta ressaltando que o ideal seria que as pessoas passassem pelo menos uma noite lá.
A Alameda João de Almeida, onde estão os bares e restaurantes que abrem a noite em Morretes. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
A Alameda João de Almeida, onde estão os bares e restaurantes que abrem a noite em Morretes. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.

A noite morreteana

Quem passa pelas ruas de Morretes a noite encontra poucas opções de lazer. Se de dia o barreado e as aventuras pela floresta são os principais atrativos, é depois que o sol se põe que a cidade ainda procura uma nova vocação.
A Alameda João de Almeida, na beira do rio Nhundiaquara, concentra alguns dos poucos bares abertos à noite. De um lado da rua, o Boteco da Maria tem uma banda ou outra tocando estilos variados nas noites de sábado. Do outro, a Casa do Rio ousa em promover até mesmo o tango em um clima de cabaré. A ideia ali é de um “restaurante show”.
Desde o começo do mês de abril, Lourenço e a irmã Louise promovem o Cabaret Show, um espetáculo que mistura dança e ilusionismo logo após o jantar, em um ambiente que lembra os antigos restaurantes parisienses dos anos 30. Ela é casada com o argentino Marcos Roberts, e juntos tocam uma companhia de dança que protagonizava shows em duas das principais casas de tango de Buenos Aires.
O casal Marcos e Louise fazem a performance no Cabaret Show. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
O casal Marcos e Louise fazem a performance no Cabaret Show. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
A ideia de promover algo assim em Morretes não é nova, mas foi a partir deste ano que Louise e Lourenço começaram a tocar o projeto com mais intensidade. “Eu já queria voltar para o Brasil com um espetáculo fixo, nosso pai queria que fizéssemos algo aqui”, explica. O Cabaret Show tem em torno de 50 minutos de duração e três casais que se revezam em performances que vão do tango, passam pelo jazz, performances de chorinho até um grande ato de cancan – uma dança francesa com saias rodadas.
Além do show, o restaurante ousa ao servir um cardápio fixo de jantar com ingredientes nativos preparados de uma forma mais contemporânea, com pratos elaborados pelo chef italiano Davide Brusório, radicado no Brasil há 12 anos. O pacote de show com o jantar custa R$ 150 por pessoa e é apresentado todos os sábados.
Serviço:
É possível chegar em Morretes de carro partindo de Curitiba pela BR-277 em direção ao litoral do estado, ou de trem nos finais de semana e feriados. As saídas ocorrem na RodoFerroviária de Curitiba (veja horários e preços).
LEIA TAMBÉM: