Turismo

Perca-se pela encantadora Nápoles

Andrea Torrente
04/07/2015 15:17
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Do alto, no bairro Vomero, a majestosa visão da cidade e do vulcão Vesúvio.

Do alto, no bairro Vomero, a majestosa visão da cidade e do vulcão Vesúvio.
“Vedi Napoli e poi muori!” Em bom português: “veja Nápoles e depois morra!” O ditado secular dá pistas da paixão que o destino italiano desperta a quem o visita. Afinal, a maior cidade do sul da Itália, localizada aos pés do não menos famoso vulcão Vesúvio, vem encantando muita gente ao longo dos milênios: artistas, intelectuais, escritores, músicos, cientistas, religiosos, atores e diretores de cinema que ali moraram. Nápoles foi um dos centros mais importantes da Magna Grecia e é considerada o berço da cultura humanista europeia. Por estas e outras razões, o povo napolitano é tão orgulhoso de sua cidade que até criou uma palavra para expressar a saudade dela: napolitudine. A beleza do golfo, o sol que brilha em média por 250 dias no ano, o patrimônio arquitetônico e histórico único, e, não menos importante, a farta culinária local, despertam no visitante uma paixão vibrante.
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Sem contar que Nápoles é parada obrigatória para quem se dirige mais ao sul, até a encantadora Costa Amalfitana, protagonista de celebres canções e filmes. A dica é alugar um carro e percorrer a estrada com vista para o mar que contorna a baía de Nápoles e esticar a viagem até Sorrento, Positano, Amalfi e, claro, a ilha de Capri. As paisagens esbanjam charme o ano inteiro, mas é no verão (de maio a setembro) que dá para aproveitar melhor a região. As praias são pequenas e geralmente de pedras, mas o mar azul intenso é um dos mais belos da Itália.
O centro histórico de Nápoles é um dos mais antigos da Europa (fundado no século 8 a.C.) e hoje é reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco. Os edifícios em muitos casos são misturas de estilos e épocas. Outros, de época romana, estão escondidos no subsolo e foram descobertos só recentemente. O melhor ponto para começar a explorar o centro é o Decumano Inferiore, rua popularmente conhecida como Spaccanapoli (literalmente “quebra Nápoles”, pois divide a cidade em duas partes), onde se encontra a maioria dos atrativos turísticos e históricos. A região é formada por um labirinto de becos onde é fácil se perder. Algumas ruas são tão estreitas que apenas pedestres, bicicletas e motos podem circular. Perto da piazza Dante, em Port’Alba, os antigos livreiros da cidade se reúnem para vender as obras na rua. A Via San Gregorio Armeno é outro ponto imperdível. A rua é formada por dezenas de oficinas e laboratórios onde artesões, que ali são chamados de maestri, trabalham o ano inteiro para construir os celebres presépios da tradição napolitana: as estátuas são feitas à mão e têm uma riqueza de detalhes impressionante.
Charme extra: perto da piazza Dante, em Port’Alba, antigos livreiros expõem obras na rua.
Charme extra: perto da piazza Dante, em Port’Alba, antigos livreiros expõem obras na rua.
No centro histórico, riqueza arquitetônica e ruas estreitas.
No centro histórico, riqueza arquitetônica e ruas estreitas.
Em todas as esquinas do centro, rodinhas de rapazes discutem animadamente de futebol. O esporte é levado tão a sério pelos napolitanos que a paixão pelo Napoli, o time da cidade, é praticamente uma religião. Futebol e religião são entrelaçados na cultura popular ao ponto que, segundo os napolitanos, os padroeiros da cidade são dois: São Januário, que segundo a lenda parou o fogo do Vesúvio que ameaçava a cidade em 1631; e Maradona, que nos anos 1980 levou o time local a muitas vitórias. Não se surpreenda portanto se, a passar pelo Largo Corpo di Napoli, você ver um altar dedicado ao jogador argentino com uma foto autografada, um tufo de cabelo original, terços e recortes de jornais da época.
As relíquias de São Januário são conservadas no Duomo, uma imponente construção em estilo gótico, onde três vezes ao ano ocorre o milagre da liquefação do sangue do santo. O evento religioso reúne milhares de fieis e, de acordo com a tradição católica, acontece na véspera do primeiro domingo de maio (data da primeira translação do corpo do santo), 16 de dezembro (aniversário da erupção do Vesúvio em 1631) e 19 de dezembro (data do martírio). Além de religioso, o napolitano é também um povo supersticioso. O cornetto, uma pimentinha vermelha de cerâmica, é um amuleto de sorte e é vendido em muitas lojas. Ele é utilizado para afugentar o mal olhado. Se quebrar, não se preocupe: a lenda diz que a má sorte ficará para sempre no objeto.
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Para observar Nápoles de cima, pegue o metrô (chamado de funicolare) que liga o centro ao bairro Vomero. Da estação de Piazza Vanvitelli, uma curta caminhada para chegar a Certosa di San Martino e ao Castel Sant’Elmo. Esse último é uma construção cavada no tufo amarelo, rocha característica dessa região, que remonta ao século 14. O castelo abriga uma exposição permanente sobre a arte napolitana do século 20 (não abre às terças-feiras). A Certosa di San Martino, monastério construído em 1325, é um dos mais belos exemplos do barroco napolitano: as salas abrigam pinturas, esculturas e presépios napolitanos de diversas épocas. Das duas construções é possível gozar de uma vista panorâmica que se estende sobre o golfo de Nápoles. No fundo, a silhueta do Vesúvio paira imponente sobre a cidade.
O Castel Sant’Elmo (à esq.) e o monastério Certosa di San Martino.
O Castel Sant’Elmo (à esq.) e o monastério Certosa di San Martino.
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Nápoles subterrânea
A cerca de 40 metros de profundidade, longe do barulho e do vaivém do centro da cidade, existe outra cidade: é a Nápoles subterrânea. São dezenas de quilômetros de túneis construídos no tufo, cerca de 2.400 anos atrás. Eles abrigam galerias de época romana, enormes tanques cheios de água que serviam para abastecer as mansões das famílias mais ricas e até um museu grego-romano, esquecido por séculos. Fechados e esquecidos por séculos, os túneis foram reabertos durante a durante a Segunda Guerra Mundial quando eram utilizados pelos napolitanos para fugir dos bombardeios. Ainda conservam essas memórias e podem ser visitados diariamente. Os tours começam a cada hora, são guiados e tem duração de cerca de uma hora (o ingresso custa 9 euros).
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De “street food” a restaurantes charmosos, cidade oferece muita gastronomia
Como em Nápoles tudo acontece na rua, não podia ser diferente com a comida. Comer de pé é uma das coisas mais típicas da cidade e o “street food” uma verdadeira arte. Nos becos do centro, os vendedores de peixe e de hortifrutigranjeiros chamam a atenção da clientela com gritos e gestos, enquanto pessoas de todas as idades se juntam em frente às lanchonetes esperando sair a última fornada de pizza frita. O arancini, bolinho de risoto recheados com muçarela, é outra especialidade local. Esses lanches são vendidos nas chamadas friggitorie, lanchonetes especializadas na comida de rua que se encontram praticamente em toda esquina. A pizza portafoglio é outra comida que se encontra só em Nápoles: ela tem tamanho de uma pizza normal, mas é servida no guardanapo, dobrada em quatro.
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Se perguntar para um napolitano, cada um indicará sua pizzaria de preferência. Imperdíveis, porém, são a pizzaria Sorbillo (Via Tribunali, 32), fundada em 1935; e L’Antica Pizzeria Da Michele (Via Cesare Sersale, 1/3) que desde sempre serve apenas dois sabores, a marinara, que leva molho de tomate, alho, orégano e azeite extravergine de oliva; e a clássica margherita. A fila para entrar nos dois locais é sempre bastante grande, sobretudo nos fins de semana.
Outro restaurante que vale a pena conhecer para experimentar a comida napolitana popular é a Trattoria Da Nennella (Vico Lungo Teatro Nuovo, 103). O restaurante é simples e o atendimento sem firulas, mas com 13 euros, o cliente pode comer antepasto, primeiro prato, segundo prato, fruta, doce e café. O menu varia diariamente e conta com diversas opções como macarrão à sorrentina (com muçarela e molho de tomate), macarrão com batata e queijo provolone, peixes e carnes grelhados, e mix de peixes e frutos do mar fritos.
Trattoria Da Nennella: imperdível menu completo por 13 euros.<br>
Trattoria Da Nennella: imperdível menu completo por 13 euros.<br>
Na Cantina del Sole (Via Giovanni Palladino, 3), a atmosfera é mais discreta e os pratos tem um requinte maior. A casa serve receitas tradicionais locais como o maltagliati (massa caseira cortada grosseiramente) com bacamarte (também conhecido como peixe borboleta) e tomate cereja (12 euros) e o maltagliati com nozes e alcachofra (8 euros). Outra opção típica é a linguiça com friarielli refogado, uma verdura da família da couve (8 euros).
Localizadas a 25 km de Nápoles, ruínas de Pompeia são um passeio obrigatório
Uma das cidades mais antigas e melhor conservadas no mundo fica a cerca de 25 km ao sul de Nápoles. As ruínas de Pompeia, sepultadas debaixo de uma camada de cinzas depois da erupção do Vesúvio em 79 d.C., são um dos melhores testemunhos de como era a vida na época romana. O sítio arqueológico conta com dezenas de edifícios ornados com afrescos, estátuas e mosaicos e é visitado todo ano por mais de 2 milhões de turistas.
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O visitante pode entrar em casas, tabernas e prostíbulos e entender como era o dia-a-dia dos habitantes da cidade antes da catástrofe. Uma das construções mais preservadas é o anfiteatro que abrigava espetáculos e atividades recreativas. O Foro era a praça principal do município e conta ainda com os vestígios de diversos edifícios públicos como templos, o mercado e o palácio de Justiça. Também estão expostos corpos petrificados pela lava do Vesúvio.