Turismo

Viajar para fazer o bem

Luisa Nucada, especial para a Gazeta do Povo
12/10/2014 03:18
Daniela Wilwert na reserva biológica do Sooretama, durante expedição do Projeto Puma. (Foto: arquivo pessoal.)
Várias motivações levam pessoas a fazer as malas e embarcar num avião: curtir as férias, ter contato com outras culturas, explorar lugares desconhecidos, praticar um idioma estrangeiro. E, se além de tudo isso, o viajante empregasse seus conhecimentos e habilidades para fazer a diferença no local de destino? No Brasil e no mundo, há uma grande variedade de projetos que aliam turismo e trabalho voluntário.
A estudante de Economia Julia Mesquita, de 19 anos, decidiu participar de um deles. Em junho deste ano, ela embarcou para a Hungria através do Intercâmbio Social Cidadão Global, da Aiesec, para dar aulas de inglês em um campo de refugiados na cidade de Bicske, a 40 Km da capital Bupaste. “Havia vítimas de guerra e perseguidos políticos da Síria, Afeganistão, Palestina. A maioria era muçulmana”, conta Julia. Aprender a língua inglesa seria determinante para que os refugiados conseguissem emprego, caso conquistassem a cidadania húngara. Como as condições no lugar eram precárias, a estudante acabou desempenhando outras atividades. “Eu ensinava crianças a escovar os dentes e a lavar as mãos e conversava sobre doenças”, relata a estudante. Mas também houve espaço para recreação, com aulas de dança e oficinas de bijouterias. Ela passou um mês e meio no campo e, ao fim do projeto, fez um mochilão pela Europa. “A experiência toda foi incrível, um choque de realidade muito grande. Aprendi a lidar com dificuldades e desafios, e vi de perto vítimas de guerra que eu só conhecia pela TV.”
Mas não é preciso ir tão longe para praticar “volunturismo”. A estudante de Biologia Daniela Wilwert, de 22 anos, aproveitou as últimas férias de julho para integrar uma expedição na reserva biológica do Sooretama, no Espírito Santo, organizada pelo Projeto Puma em parceria com o Instituto Marcos Daniel. O grupo de 17 pessoas passou 10 dias registrando onças-pintadas na área de mata fechada a 150 Km de Vitória. A atividade consistia em analisar pegadas e rastros, além de imagens obtidas por armadilhas fotográficas. O trabalho demandava oito horas de caminhada por dia. “As informações que colhemos foram usadas para monitorar a qualidade do ecossistema e alimentar um banco de dados que irá contribuir com pesquisas futuras”, explica a estudante. Para ela, o saldo da aventura foi muito rico, tanto no aspecto profissional quanto no pessoal. “Agregou muito e mudou minha vida. Foi maravilhoso poder fazer isso dentro do Brasil, e ainda ter contato com pessoas da França e da Alemanha”, diz Daniela, contando que havia estrangeiros na equipe.
A Irlanda foi o destino eleito pela estudante de Medicina Mariana Ito, 22 anos, para ajudar o próximo, praticar inglês e fazer turismo. Durante o mês de janeiro de 2013, ela foi voluntária no Cheshire Respite Center, uma casa de apoio para pessoas com deficiência mental e física, na cidadezinha de Newbridge, a 50 Km da capital Dublin. Junto com mais três voluntárias, além de enfermeiros e cuidadores, ela assistia pacientes com paralisia cerebral ou sequelas de derrame. “Eu fazia de tudo: ajudava a dar banho, comida, levava para passear e limpava quartos e cozinhas”, lembra a estudante. Segundo ela, a troca de experiências com os funcionários do local foi muito positiva. Eles a ensinavam a lidar com os pacientes e ela explicava questões da parte médica. “Aprendi a como manusear uma cadeira de rodas, a subir calçadas. Também vi que é importante ter paciência e valorizar o trabalho dos enfermeiros, futuros colegas de profissão.” Em suas duas folgas semanais, ela fazia turismo pela Irlanda. “Como é um país pequeno, dava para viajar de uma costa a outra. Valeu muito a pena e eu faria de novo. Só ficaria mais tempo, um mês foi muito pouco”, avalia a estudante.
CI
A agência CI (www.ci.com.br) intermedia o acesso a projetos de trabalho voluntário na América do Sul (Peru), Ásia (Índia, Nepal e Tailândia) e África (Namíbia, Zimbábue, Botsuana e África do Sul). É necessário ter mais de 18 anos. As atividades desenvolvidas são bem diversas: cuidar de crianças, idosos, dar aulas, auxiliar serviços de saúde da comunidade local, trabalhar em abrigos de animais silvestres. Os projetos duram de duas a 12 semanas. Os pacotes custam a partir de U$ 975 e incluem acomodação, alimentação, uma doação ao projeto escolhido e suporte das organizações internacionais.
Projeto Puma
O Projeto Puma (www.projeto-puma.org), idealizado pelo doutor em Ecologia Marcelo Mazzolli, leva pessoas de todas as áreas de atuação, acima de 16 anos ou acompanhadas dos pais, para registrar espécies de felinos em seu habitat natural. Não são necessários conhecimentos específicos. A próxima expedição será na Amazônia, na Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia, de 13 a 22 de julho de 2015. Os resultados da expedição geram relatórios técnicos e publicações científicas. O pacote custa R$ 1,7 mil e inclui transporte de ida e volta do ponto de encontro em Itapuã do Oeste (RO) à base de campo, treinamento, acomodação e alimentação.
AIESEC
A organização não-governamental (ONG) AIESEC (www.aiesec.org.br) promove o Intercâmbio Social Cidadão Global, que possibilita atividades voluntárias relacionadas à educação e gestão. Há vagas para ensinar inglês e falar sobre cultura brasileira em escolas e ONGs, e também para trabalhar na área de gestão dessas organizações, com comunicação, finanças e pesquisas. Os principais destinos são: Peru, Colômbia, Argentina, México, Chile, Panamá, Romênia, Hungria, Polônia, Itália, Grécia, Rússia, Portugal, Índia, Turquia, Egito e Quênia. A taxa de inscrição varia de R$ 900 a R$ 1,3 mil e inclui acesso à plataforma com as vagas disponíveis, por meio da qual o participante escolherá seu destino, auxílio para busca de acomodação (geralmente oferecida pelo projeto) e suporte da AIESEC.
Experimento
A agência Experimento Intercâmbio oferece o Volunteers for International Partnership Program (VIP), que tem projetos na Albânia, Argentina, Chile, China, Equador, Estados Unidos, Gana, Guatemala, Índia, Irlanda, Marrocos, México, Nepal, Nigéria, Peru, Tailândia e Turquia. Há vagas para trabalho voluntário em comunidades rurais, clínicas de saúde, trabalho com crianças carentes, preservação do meio ambiente, reabilitação de animais, entre outros. O programa tem duração mínima de duas semanas. A taxa de inscrição é R$ 385 e os pacotes custam a partir de U$ 920. O valor cobre acomodação, refeição e uma doação ao projeto que recebe o voluntário, além do suporte ao participante.
AFS
A ONG AFS Intercultura Brasil (www.afs.org.br) tem dez destinos para trabalho voluntário disponíveis: Egito, China, Tailândia, Bélgica, Dinamarca, Austrália, República Dominicana, Argentina, Paraguai e Colômbia. O participante, que deve ter mais de 18 anos, pode escolher atuar em diferentes áreas, como saúde, educação de crianças e adolescentes, assistência comunitária, artes, sustentabilidade ou meio ambiente. A duração varia de três meses a um ano, de acordo com o país escolhido. A maioria dos programas exige inglês intermediário e, em alguns casos, avançado.Os pacotes incluem acomodação, seguro médico e suporte da AFS, e custam a partir de U$ 2,6 mil.