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O que esperar dos novos prefeitos e do ensino no pós-pandemia
| Foto: Freepik

Para a grande maioria das pessoas a educação é o único caminho para a obtenção do sucesso e garantia de uma cidadania plena. Costumamos dizer que há três formas de as pessoas conquistarem um lugar com mais tranquilidade no mundo. Primeiro, nascendo em uma família que tenha condições adequadas, ou seja, uma família rica ou de classe média-alta, para que possa, na verdade, dar as condições ideais para uma vida plena, com recursos para investimento em saúde, no acesso à educação de qualidade e outras questões necessárias para o desenvolvimento da criança.

A segunda forma é ganhar na loteria, e assim ter condições para prover recursos básicos e uma vida confortável. E a terceira é a educação, que poderá promover melhores condições de vida. Como não escolhemos a primeira opção e a segunda é muito difícil de ser conquistada, resta, para a maioria da população, a terceira opção, ou seja, a ascensão social por meio da educação.

A educação é praticamente o único caminho para se atingir o sucesso para a maior parte da população. Lembro de um discurso de dois secretários de Educação do Paraná no momento em que um transmitia o cargo para o outro, pois ambos vieram de origem muito humilde e estavam comemorando o fato de chegarem ao posto por meio da educação que receberam dos seus pais. Pais que mesmo de origem simples não mediram esforços para dar uma boa educação aos seus filhos. Ao chegar ao posto de liderança máxima da Educação do estado renderam todas as homenagens aos seus pais que souberam investir na sua educação, demostrando na prática que ela é, muitas vezes, o único caminho.

Claro que há necessidade dos esforços de toda uma sociedade que precisa convergir para que a educação seja de qualidade e que garanta que as crianças e jovens tenham acesso ao que houver de melhor.

Sabemos que mais de 80% das crianças do Brasil estão matriculadas em escolas públicas e muitas passam por enormes dificuldades, desde a questão da infraestrutura das escolas, passando pelo baixo nível de formação dos pais dos estudantes, até a formação deficitária de alguns professores, sem falar da gestão precária da escola e dos recursos municipais, além de muitas interferências político-partidárias, fazendo com que o aluno fique, muitas vezes, em último plano.

Geralmente, em primeiro lugar está o interesse dos prefeitos e dos políticos em apresentar obras para a população que não sabe, muitas vezes, avaliar o que é prioritário para a formação de seus filhos. Em segundo plano vem uma grande discussão com sindicatos e interesses corporativos de professores que, por mais que sejam legítimos, acabam ocupando boa parte da pauta de reivindicações referentes à educação. Em terceiro, normalmente, está o investimento em questões administrativas e estrutura básica, que é sempre muito carente e deficitária. E em último lugar fica a aprendizagem e o próprio aluno, fazendo com que a educação ofertada seja uma educação precária que não atinge os objetivos e os ideais propostos.

Elegemos novos prefeitos e, mais uma vez, uma chama de esperança se acende, talvez não seja mais a chama de esperança de um passado recente, em que creditávamos toda a esperança nos novos políticos que se elegiam. Com o passar do tempo, e vendo uma democracia mais plena, fomos aprendendo que não há milagres e nem milagreiros. Compreendemos que é preciso uma grande mobilização da sociedade, uma pressão de todos os cidadãos, para que os governantes realmente se comprometam com uma educação de qualidade e não apenas como um discurso de educação de qualidade.

Temos agora um Plano Nacional de Educação, com metas claras, temos também índices e avaliações padronizadas que medem a aprendizagem do aluno, temos a nova Base Nacional Comum Curricular, que prioriza a formação integral do educando, temos a aprovação do fundo que permitirá uma ampliação dos recursos, principalmente para as escolas mais carentes. E além de tudo isso estamos vendo um processo de renovação na formação dos professores, principalmente no pós-pandemia, em que boa parte dos educadores tem conseguido realizar programas de formação online, o que antes não era culturalmente aceito ou não era hábito, e que têm contribuído muito para a formação dos professores.

Por fim, temos o grande desafio de organizar a escola para 2021, lembrando que deveremos ter a implantação do ensino híbrido, em que alunos terão aulas presenciais e não presenciais, e ainda garantir o distanciamento social. Teremos professores que não voltarão às aulas e pais que poderão se recusar a levar seus filhos à escola. Teremos um ano letivo de 2021 bastante comprometido e que exigirá programas de reforço escolar e compensação de aulas, e ainda teremos, provavelmente, o novo marco regulatório que deverá vir para organizar o sistema educacional pós-pandemia.

Muitos desafios estão postos às portas das prefeituras e o importante é que os novos prefeitos e seus assessores tenham capacidade de fazer uma boa leitura do cenário atual e tenham força e coragem para fazer a grande revolução, tão necessária na educação de atualidade.

Desejamos que em 2021 essa revolução aconteça e esperamos, realmente, que os novos prefeitos e gestores tenham esta sensibilidade e esta disposição para vir conosco nesse novo caminho de transformação da educação brasileira.

*Texto escrito por Renato Casagrande, educador, fundador e presidente do Instituto Casagrande e da Alleanza Educacional. É conferencista, palestrante e consultor em Educação e Gestão. Referência nacional na formação de professores, gestores e na geração de resultados para instituições educacionais (públicas e privadas). O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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