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Saúde e cidadania
| Foto: flickr.com

O ano de 2020 marcará história por conta da pandemia da Covid-19. Desde os primeiros casos da doença registrados no mundo, a pandemia trouxe uma discussão muito grande nas mídias, nas redes sociais e nas conversas entre as pessoas. Vários pontos foram discutidos: o "apocalipse", os sintomas que o vírus causava, sua origem e até mesmo quem seriam os grupos de risco. Entre vários tópicos, um sempre chamou a atenção: o risco iminente de travamento do sistema de saúde, seja pública ou privada, representado pela falta de leitos, UTIs, exames laboratoriais e profissionais de saúde.

O mais trágico desse ponto em particular era o seu anacronismo. Afinal, o sistema de saúde já vinha falhando para uma parcela significativa da população mundial bem antes da pandemia chegar.

Quando olhamos para o mundo, vemos dois sistemas de saúde: o sistema dos países ricos e o dos países pobres. Já no Brasil, acabamos convivendo com duas saúdes ao mesmo tempo. Temos um sistema privado, que atende 24% da população e temos um sistema público, que atende 76% da população. Apesar do SUS ser muito desenvolvido e representar um projeto incrível e benéfico para os brasileiros, na prática, existem desafios claros em se levar o mesmo nível de saúde para todos os nossos cidadãos. Como dito antes, esse não é um problema exclusivo do nosso país. Porém, aqui temos a chance de ver as diferenças coexistindo, o que torna tudo mais chocante.

Apesar desse colapso na saúde parecer novidade, essa porcentagem maior das pessoas que não são assistidas pelo sistema de ponta, já conviviam com a falta de leitos e barreiras de acesso à saúde. Mesmo já sendo uma realidade para mais de 70% da população, isso ainda era mascarado. A pandemia do coronavírus “democratizou” o problema da saúde e, de repente, ele se tornou uma realidade para todo mundo. De certa forma, a Covid-19 nos permitiu dividir os mesmos medos e anseios das milhões de pessoas que já viviam em áreas endêmicas de HIV, malária, dengue, entre tantas outras doenças.

A Covid-19 nos mostrou claramente que o sistema de saúde precisa funcionar para 100% das pessoas. Essa lição não pode ser esquecida. Se a saúde do mundo, desde o começo, fosse boa para todos, se todos os hospitais, laboratórios, profissionais da saúde e se tudo tivesse sido dimensionado para a população inteira, talvez tivéssemos sofrido bem menos com a pandemia.

Embora seja fácil (e até correto) pensar que a saúde é uma obrigação apenas do Estado, a sociedade organizada precisa fazer a sua parte. Temos vários hospitais que atendem o SUS, e que vem fazendo trabalhos brilhantes, que por sua vez, precisam de ajuda, já que muitas vezes o orçamento público não é o suficiente. Essa ajuda pode ser um caminho, um começo de que o sistema tem que funcionar para todo mundo. Se não construirmos um sistema de saúde que inclua 100% das pessoas, nós falhamos enquanto sociedade e civilização.

Agora que todos vimos o abismo, não podemos mais “desver” esse problema. Apesar da saúde ser uma obrigação do Estado, nós enquanto sociedade temos que fazer a nossa parte, temos que fazer um exercício de cidadania. No pós vacina, pós pandemia, esse será o desafio que as pessoas que constroem o futuro terão que se propor a resolver: criar uma saúde que funcione para todos. Afinal, já sabemos que a saúde só funciona se todo mundo tiver acesso a ela. A saúde é um direito fundamental e nossa sociedade só pode funcionar se todas as pessoas estiverem incluídas.

*Artigo escrito por  Marcus Figueredo, CEO e cofundador da Hilab, primeiro laboratório descentralizado usando testes laboratoriais remotos. É engenheiro de computação, doutor e mestre em informática pela PUCPR e Conselheiro do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial.
O CPCE é colaborador voluntário do Blog Giro Sustentável.

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