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O primeiro produto da Beyond Meat, um hambúrguer à base de proteína de ervilha, estreou na seção de carnes dos 51 supermercados em outubro de 2016. Hoje está presente em 30 mil estabelecimentos nos EUA e Canadá.
O primeiro produto da Beyond Meat, um hambúrguer à base de proteína de ervilha, estreou na seção de carnes dos 51 supermercados em outubro de 2016. Hoje está presente em 30 mil estabelecimentos nos EUA e Canadá.| Foto: Beyond Meat/Divulgação

Enquanto os investidores aguardavam ansiosamente uma enxurrada de startups unicórnio (empresas de tecnologia que começam pequenas, mas que têm propostas “fantásticas” que impactam o segmento em que atuam) correndo para ofertar ações públicas na bolsa de valores neste ano, poucos poderiam prever que marcas como Uber e Lyft seriam eclipsadas por uma empresa que faz carne vegetariana a partir de ervilhas.

A Beyond Meat, cujas versões vegetais de carne bovina e suína podem ser encontradas em redes de supermercado como a Whole Foods Markets e a T.G.I. Friday, nos Estados Unidos, viu suas ações dispararem 250 % desde que a empresa abriu seu capital financeiro na Nasdaq, em 2 de maio. A ascensão é ainda mais impressionante diante da turbulência que atingiu os mercados norte-americanos por semanas.

Uber e a Lyft largaram em disparada na bolsa – eram as estreias mais esperadas do ano. No entanto, perderam bilhões em valorização desde o lançamento de seus papéis no pregão eletrônico. A Uber caiu quase 12% desde a estreia, em 10 de maio. Já a Lyft está 22% desvalorizada desde 29 de março. Agora, quase um mês após sua estreia no mercado, a Beyond Meat está avaliada em US$ 5 bilhões, e os analistas dizem que isso é só o começo.

"A Beyond Meat é uma verdadeira empresa disrruptora e inovadora", disse Ken Goldman, analista do JPMorgan Chase, em uma nota aos investidores publicada nesta semana. "Acreditamos que a carne baseada em vegetais pode exceder US$ 100 bilhões em vendas nos próximos 15 anos, com a Beyond já tendo 5% desse mercado."

Fundada em 2009 pelo vegano Ethan Brown, a Beyond Meat se esforça para fabricar produtos que sejam "indistinguíveis de suas contrapartes baseadas em animais", segundo a própria companhia. Mas seu apelo é mais do que apenas criar um substituto crível para a carne. A empresa está se posicionando como uma alternativa ética àqueles preocupados com as mudanças climáticas e com uma alimentação mais saudável dentro da indústria da carne, que movimenta US$ 1,4 trilhão.

Embora os céticos questionem se a demanda do mercado por carne alternativa é realmente sustentável, as projeções são otimistas: a Barclays previu recentemente que as alternativas à carne poderiam capturar até 10% do mercado global de proteínas. O apetite é mais forte na Europa, que respondeu por quase 40% das vendas globais de carnes de origem vegetal em 2017, segundo a Allied Market Research.  “Ao comer nossas carnes de base vegetal, os consumidores podem desfrutar mais, não menos, de suas refeições favoritas e, ao fazê-lo, ajudar a tratar de preocupações relacionadas à saúde humana, mudanças climáticas, conservação de recursos e bem-estar animal", disse a Beyond Meat em um relatório. "O sucesso de nosso modelo inovador e dos produtos nos permitiu atingir uma ampla gama de consumidores, incluindo aqueles que tipicamente comem carnes de origem animal."

Uma eventual parceria com o McDonald's poderia catapultar ainda mais a Beyond Meat. A cadeia de fast-food está procurando incluir um hambúrguer vegano em seu cardápio, e seu presidente-executivo, Steve Easterbrook, disse à CNBC recentemente que o McDonald's está estudando de perto o setor de alimentos à base de vegetais. Já está testando alternativas de carne na Europa. "A Beyond Meat está bem posicionada para fazer parceria com o McDonald's", afirmaram analistas da Jefferies em uma nota aos investidores nesta semana. Tal acordo poderia aumentar o valor das suas ações em 30%, segundo os especialistas.

Goldman, analista da JPMorgan, estima que a Beyond Meat faça parceria com uma importante cadeia de fast-food até o final do ano. Ele observa que Don Thompson, ex-executivo-chefe do McDonald's, agora faz parte do conselho da Beyond Meat. O primeiro produto da companhia, um hambúrguer à base de plantas feito principalmente de proteína de ervilha, estreou na seção de carnes dos 51 mercados da Whole Foods em outubro de 2016. Hoje é vendido em 30 mil estabelecimentos, principalmente nos Estados Unidos e Canadá, e a linha de produtos expandiu para incluir "croutons" semelhantes a carne moída e salsicha. Mas os acordos com três distribuidores europeus logo levarão seus produtos para o exterior, e a companhia anunciou na terça-feira que fará parceria com a Zandbergen para construir uma fábrica nos Países Baixos até o início de 2020.

Faturamento alto

No ano passado, a Beyond Meat gerou quase US$ 88 milhões em receita, mais que dobrando sua produção em relação a 2017. Agora, com os US$ 240 milhões arrecadados pelo IPO (oferta pública inicial de ações), a empresa disse que planeja aumentar a produção, pesquisa e marketing. Também espera replicar o sucesso da indústria de lácteos não lácteos, que cresceu 61% nos últimos cinco anos e comanda 13% do tradicional mercado de leite com amêndoas, soja, aveia e outras ofertas. Em 2017, as vendas de leite não lácteo ultrapassaram US$ 2 bilhões. "O sucesso da indústria de lácteos baseada em vegetais baseou-se em uma estratégia de criação de produtos lácteos à base de vegetais que tinham um sabor melhor do que os substitutos não lácteos anteriores, embalados e comercializados ao lado de seus equivalentes lácteos", escreveu a Beyond Meat.

"Acreditamos que aplicando a mesma estratégia à categoria de carne à base de plantas, ela pode crescer ao menos na mesma proporção das carnes, que movimentam US$ 270 bilhões nos Estados Unidos". Mas o campo alternativo de carne ficou lotado ultimamente. Há um excesso de empresas de proteínas baseadas em vegetais, incluindo a Impossible Foods, que atraiu a atenção após o sucesso do Impossible Whopper, uma versão vegetariana do sanduíche do Burger King. Até mesmo empresas de carnes e aves estão entrando nesse mercado, como a Tyson Foods, que se prepara para lançar uma linha de produtos sem proteína animal.

Além da dependência da proteína de ervilha para a produção da carne vegetal há outra ameaça em potencial para a Beyond Meat: ela tem apenas um fornecedor dessa proteína, e interrupções no fornecimento já causaram atrasos na entrega dos produtos. E o preço da proteína poderia flutuar com base em fatores ambientais, como clima e condições agrícolas, que forçariam a Beyond Meat a aumentar os preços. A partir de agora, a companhia não tem contratos escritos com seus co-fabricantes, que levam a proteína de ervilha e a transformam em produtos semelhantes a carne, o que significa que a parceria não tem respaldo legal. Mas a empresa diz que está tomando medidas para firmar contratos formais com os fabricantes, diversificar sua cadeia de fornecimento e garantir preços.

A empresa desfrutou por muito tempo dos holofotes da mídia, em parte graças a uma série de investidores de alto perfil, como os fundadores do Twitter Biz Stone e Evan Williams; Thompson, ex-CEO do McDonald's; o ator Leonardo DiCaprio; Snoop Dogg; as estrelas da NBA Kyrie Irving e Chris Paul; o jogador da NFL DeAndre Hopkins; e o escalador Alex Honnold, estrela do documentário vencedor do Oscar Free Solo. A fenomenal corrida pelas ações da Beyond Meat encerrou na quarta-feira (29), e fechou em alta de 13,4%, a US$ 97,50 por ação.

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