• Carregando...
Os pecuaristas Marilza e Lindomar Bueno estão investindo em um novo estábulo que vai possibilitar ordenhar até 12 vacas simultaneamente, o que vai dobrar a capacidade de produção da fazenda.
Os pecuaristas Marilza e Lindomar Bueno estão investindo em um novo estábulo que vai possibilitar ordenhar até 12 vacas simultaneamente, o que vai dobrar a capacidade de produção da fazenda.| Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

Pecuaristas familiares do estado de Goiás descobriram que investir em tecnologia de manejo e melhoramento genético do gado pode dobrar a produção leiteira, mesmo com o rebanho tendo de enfrentar o calorão do Cerrado brasileiro, o que normalmente reduz a produção. Em Luziânia, região central do estado, bem no “coração” do país, os produtores Marilza e Lindomar José Bueno são um exemplo de sucesso. Junto com o filho e a nora, e mais um funcionário contratado, eles tocam uma propriedade de cinco alqueires, que produz 1,2 mil litros de leite ao dia.

Toda a produção da fazenda é vendida a uma indústria de laticínios da região, por meio da cooperativa da qual são integrados. O comprador, explica Lindomar, paga mais pela quantidade, mas também pela qualidade do leite produzido, que precisa ter no mínimo 4% de gordura e ter baixo teor de impurezas.

Atingidos pela construção do lago da barragem de Corumbá IV, Lindomar e a esposa se mudaram para a atual propriedade, em Luziânia, em 2007. “Tínhamos um rebanho de 30 cabeças lá perto da barragem, entre novilhas e vacas. Hoje temos mais de cem cabeças, com gado adquirido por nós mesmos e fazendo inseminação artificial por conta própria”, orgulha-se Marilza.

Lindomar relata que quando chegou ali a família possuía apenas 11 animais e as pastagens ali estavam degradadas. “Quando eu vim pra cá o capim tava bem ralinho e cheio de cupinzeiro. Não tinha condição nenhuma”, revela. Atualmente, a fazenda possui um pasto rotatório, com forrageiras vigorosas que mantêm o gado sempre bem alimentado, funcionando num sistema de rodízio para não desgastar a vegetação. A família também planta milho e sorgo para fazer silagem para o rebanho de 150 cabeças – sendo 72 vacas em lactação.

Expedição Agricultura Familiar em Luziânia/GO, na propriedade dos agricultores Lindomar José Bueno e Marilza de Carvalho Meireles Bueno. trabalham com pecuária leiteira.
Expedição Agricultura Familiar em Luziânia/GO, na propriedade dos agricultores Lindomar José Bueno e Marilza de Carvalho Meireles Bueno. trabalham com pecuária leiteira. | Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

O filho do casal, Fernando, que administra a fazenda, fez um curso de inseminação artificial para rebanhos bovinos e já comanda todo processo, que é feito inteiramente na fazenda. Com isso, a família consegue fazer uma seleção genética dos animais com índices mais altos de produtividade, gerando um rebanho mais eficiente nesse sentido. O gado girolanda é sempre renovado também, com vacas de no máximo 5 anos de idade.

Estábulo novo

O crescimento da produção obrigou a família a investir em um novo estábulo para a ordenha dos animais, que está em fase de construção. Lindomar explica que o curral permitirá fazer a ordenha mecanizada de até 12 vacas ao mesmo tempo. Atualmente, a família só consegue ordenhar 5 animais por vez. Ou seja, as novas instalações possibilitarão dobrar a produção de leite. O pecuarista acredita que terá de aumentar também as pastagens, adquirindo terras para suprir a nova demanda de produção.

“O pequeno produtor tem que partir para as tecnologias. Eles viram aqui que isso dá resultado. Além da inseminação artificial tem a questão do pastejo com piquetes rotativos de 30 dias, e tudo acompanhado com informação técnica”, observa João Severino de Oliveira, técnico agropecuário da Prefeitura de Luziânia cedido à Emater-GO.

Expedição Agricultura Familiar em Luziânia/GO, na propriedade dos agricultores Lindomar José Bueno e Marilza de Carvalho Meireles Bueno. trabalham com pecuária leiteira. <br />
Expedição Agricultura Familiar em Luziânia/GO, na propriedade dos agricultores Lindomar José Bueno e Marilza de Carvalho Meireles Bueno. trabalham com pecuária leiteira.
| Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

O novo estábulo que está sendo construído na propriedade consumiu um investimento de R$ 50 mil – oriundos de recursos da família. A instalação terá ainda uma farmácia para os animais em anexo e local para a armazenagem do leite. A expectativa para os produtores da região é de crescimento, já que o leite representa uma forte demanda.

A produção familiar de leite no estado de Goiás movimenta sozinha uma economia de R$ 1,3 bilhão (dados de 2017 do IBGE). Ao todo, são pouco mais de 50 mil propriedades familiares que produzem cerca de 1,4 bilhão de litros de leite ao ano.

Desafios da produção

Para o presidente do Crea-GO, Francisco Almeida, o potencial produtivo do estado de Goiás é enorme, mas a assistência técnica e o apoio – tanto para a pecuária leiteira familiar quanto para a produção de hortifrutis – caiu muito nos últimos anos. Segundo ele, se não houver uma mudança de política a situação vai ficar crítica para os pequenos produtores. “Temos um clima bom e um solo bom, o que falta é um olhar diferenciado, com propostas inovadoras para incentivar os pequenos produtores, com subsídio às pequenas indústrias”, diz.

De acordo com Almeida, o caso da família Bueno acaba sendo uma exceção. Para ele, o estado precisa criar arranjos produtivos que gerem demanda constante para os pequenos produtores. “Isso depende das políticas dos governos, de fazer com esses produtores sejam assistidos não apenas pelos técnicos agrícolas, que têm que ser ecléticos, atuando na produção, na comercialização e na extensão rural para conscientizar o produtor de que a união faz a força”, afirma.

Expedição Agricultura Familiar em Goiania/GO, entrevista com o  presidente do Crea/GO Francisco Almeida. <br />
Expedição Agricultura Familiar em Goiania/GO, entrevista com o presidente do Crea/GO Francisco Almeida.
| Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

Não opinião do presidente do Crea-GO, não adianta simplesmente montar associações de produtores, que não têm valor jurídico. “Precisamos criar cooperativas para que contratem funcionários e façam um planejamento estratégico, dependendo da aptidão de cada município. Aí sim vamos conseguir trazer as indústrias e ajudar a fixar o homem no campo, gerando emprego e beneficiando os agricultores familiares”, conclui.

Leia mais sobre a agricultura familiar em www.agrifamiliar.com.br

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]