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A família Ferreira da Silva, que há mais de cem anos cultiva café na região das Matas Mineiras. Ao centro a matriarca Jovelina Ferreira Da Silva ladeada pelos filhos Celso e Josiane (esq.). À direita no fundo as filhas de Celso e Karine: Ana Luiza, Ana Lívia e Maria Eduarda.
A família Ferreira da Silva, que há mais de cem anos cultiva café na região das Matas Mineiras. Ao centro a matriarca Jovelina Ferreira Da Silva ladeada pelos filhos Celso e Josiane (esq.). À direita no fundo as filhas de Celso e Karine: Ana Luiza, Ana Lívia e Maria Eduarda.| Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

Nos últimos dez anos, a agricultura familiar no Brasil perdeu 2,2 milhões de trabalhadores, uma queda de 16,5% em comparação com o ano de 2006. Os números revelados pelo Censo Agropecuário 2017 do IBGE, apontam, ainda, que o número de estabelecimentos agrícolas familiares caiu em 9,5%. Entre os fatores apontados pelos pesquisadores que podem ter causado essa redução está o êxodo rural, com pessoas buscando trabalho na cidade.

“Dez anos depois, a configuração dos produtores mudou. Aumentou muito o número de estabelecimentos em que o produtor está buscando trabalho fora, diminuiu a mão de obra da família e está diminuindo a média de pessoas ocupadas. O estabelecimento acaba não podendo ser classificado porque não atende aos critérios da lei”, comentou Antônio Carlos Florido, gerente técnico do Censo Agropecuário do IBGE na ocasião da divulgação dos dados. Outro fator é o envelhecimento dos chefes das famílias, ao mesmo tempo em que os filhos optam por outras atividades fora do domicílio agrícola.

Entretanto, as novas gerações de produtores familiares estão descobrindo que o campo dá futuro e já começam a remar contra a corrente, principalmente por conta do aumento da renda da produção familiar e a chegada da tecnologia (leia-se internet) nas propriedades rurais.

Foi o que a Expedição Agricultura Familiar constatou ao visitar a propriedade dos Ferreira da Silva, em Manhuaçu. Liderada pela matriarca Jovelina Ferreira da Silva, 73 anos, as netas da cafeicultora – nascida e criada na fazenda – estão despertando o interesse em seguir a atividade centenária da família, que produz 50 hectares de café arábica numa região montanhosa e de clima agradável do sudeste mineiro.

A força da família sempre foi o pilar que sustentou a propriedade, principalmente após a morte do esposo de Jovelina, em 1984. Com os filhos ainda adolescentes, ela assumiu a administração da fazenda, mais tarde assumida pelo filho Celso. “Vivemos uma situação bastante difícil na época, estávamos endividados. Hoje temos um patrimônio muito maior, a fazenda dá renda e está muito bem estabilizada para a região. Mas enfrentamos muitas dificuldades no caminho”, avalia Celso.

Hoje a fazenda produz 2 mil sacas de café por ano, mesmo enfrentando a mão de obra escassa da região, especialmente nos períodos de safra. Nesse caso, é preciso contar com a ajuda de outras famílias de produtores vizinhos e alguns trabalhadores contratados e/ou parceiros.

O segredo, diz Celso, é muito trabalho e fazer reservas para enfrentar os períodos ruins. “Nossa maior dificuldade foi passar de uma produção, a 30 anos atrás, de 15 a 20 sacas/ha para 40 a 50 sc/ha”, revela. Para isso, a família precisou renovar a plantação, melhorando o espaçamento do cafezal para conseguir produzir mais numa área menor, o que diminuiu os custos de produção. “A cafeicultura não tem uma remuneração anual que permite ao jovem ficar no campo, por ser bianual”, pondera Celso. Com ajuda de extensionistas da Emater-MG, ele foi buscar tecnologias de manejo para incrementar a produção.

Internet facilitou a vida

“A cafeicultura não tem uma remuneração anual que permite ao jovem ficar no campo”, diz o cafeicultor Celso Luiz Ferreira da Silva (de camiseta azul). Desde o falecimento do pai, nos anos 1980, a produção da fazenda passou de 20 sacas por hectare para 40 sacas. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo
“A cafeicultura não tem uma remuneração anual que permite ao jovem ficar no campo”, diz o cafeicultor Celso Luiz Ferreira da Silva (de camiseta azul). Desde o falecimento do pai, nos anos 1980, a produção da fazenda passou de 20 sacas por hectare para 40 sacas. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

Atualmente, a sede da fazenda dos Ferreira da Silva possui internet, o que auxilia em muito na administração do negócio. “Hoje a gente resolve quase tudo pelo telefone e internet, desde os serviços bancários até saber como estão as bolsas de valores”, exemplifica o produtor.

E por falar em internet, a esposa de Celso, Karine, e as três filhas é que pesquisam sobre café e buscam informações para Celso em sites e redes sociais ligadas ao assunto. As gêmeas Ana Lívia e Ana Luiza, de 17 anos, já se embrenham na lida da fazenda. Ana Lívia, por exemplo, faz curso de degustação e manejo de café, mesmo ainda estando no ensino médio. “Eu já falei com o meu pai que penso em fazer Agronomia mais para a frente, até porque já estou fazendo curso no Senar”, afirma.

Ana Luiza, por sua vez, ajuda o pai em atividades como mexer no terreiro de secagem dos grãos e até pilotar um dos tratores da família. “Sempre procuro ajudar meu pai e minha avó, e também gosto muito de Agronomia”, diz. “Os jovens dessa região têm uma participação efetiva no café. Eles têm orgulho de dizer que moram e trabalham na área rural. Em outros lugares o pessoal tem um certo acanhamento, mas aqui eles têm orgulho”, observa Edina Neves, coordenadora técnica regional da Emater-MG em Manhuaçu.

A filha mais velha de Celso e Karine, Maria Eduarda, 20, é a única que ainda está na dúvida entre ficar ou sair do campo. Ela ainda não decidiu qual faculdade quer fazer. Uma incógnita que ocorrem em diversas famílias de agricultores familiares. As gêmeas, no entanto, dizem não sentir falta da cidade. “Antes a gente tinha que ir muito a Manhuaçu para resolver as coisas. Hoje fazemos tudo pela internet. É muito mais fácil”, constata Ana Luiza.

Rodeadas por vizinhos, colegas da escola e familiares, as meninas estão em seu ambiente natural. “Eu acredito que esse processo [de saída dos jovens do campo] vai se inverter. Já tem muitos trabalhadores saindo da cidade e vindo para cá. Hoje o emprego que na cidade está difícil você encontra na área rural”, afirma Celso. “Eu vejo a área rural para mim é o paraíso. E se eu puder ter a minha família junto, melhor ainda.”

A sucessão se faz sozinha

Produtor de café premiado, Afonso Abreu de Lacerda, a esposa Altilina e o filho Augusto: sucessão familiar é algo natural entre os produtores de cafés da região do Caparaó, segundo eles. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo
Produtor de café premiado, Afonso Abreu de Lacerda, a esposa Altilina e o filho Augusto: sucessão familiar é algo natural entre os produtores de cafés da região do Caparaó, segundo eles. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

Em Dores do Rio Preto, no Espírito Santo, a sucessão familiar no campo também parece ser algo natural. Na região, produz-se alguns dos cafés mais premiados do país, além de a região agregar o turismo rural e ecológico. “A sucessão aqui se faz sozinha, porque o negócio é promissor. A propriedade remunera bem. Você não consegue nada melhor fora. E trabalhamos com cafés especiais, com maior valor agregado”, explica o produtor Afonso Abreu de Lacerda. Ele e a esposa, Altilina, têm um casal de filhos – o mais novo com 12 anos e a mais velha com 18.

Além de trabalharem na propriedade, os jovens estão se preparando para a realidade futura do setor, estudando idiomas e se qualificando profissionalmente para receber os turistas, inclusive os estrangeiros. O pai de Afonso, Onofre, teve oito filhos. Atualmente, seis plantam café e vivem na região, além dos filhos e netos, que representam a 4ª geração da família de cafeicultores.

Saiba mais sobre Agricultura Familiar no site agrifamiliar.com.br

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