• Carregando...
 |
| Foto:

A emissão do protocolo pelo governo chinês foi revelada à Expedição Safra Gazeta do Povo pelo adido agrícola Ese­­quiel Liuson, que atua há dois anos em Beijing. Numa viagem de dez dias, técnicos e jornalistas percorreram o centro de consumo da capital chinesa, além de regiões de produção de grãos, processamento e atividades portuárias. O levantamento de dados, que vai mostrar o potencial da demanda chinesa, bem como a logística de abastecimento interno e de importação, será tema de reportagem especial na próxima edição do caderno Agronegócio.

Segundo Liuson, a China mostra-se surpreendentemente interessada em garantir em breve a importação de milho do Brasil. A medida seria para prevenir a escassez do produto no gigante mercado interno, que cresceu da casa de 150 milhões para a de 200 milhões de toneladas anuais nas últimas cinco safras. A produção doméstica chinesa – uma das maiores do mundo, estimada pelo mercado internacional em 193 milhões de toneladas no ciclo 2012/13 – não é suficiente para satisfazer o consumo. As importações dificilmente chegavam a 1 milhão de toneladas até três anos atrás, mas atingiram 5 milhões na temporada passada e podem alcançar 7 milhões de toneladas no ciclo atual.

"Os chineses estão interessadíssimos em importar milho do Brasil. Eles vêm comprando atualmente dos Estados Uni­­dos, mas estão buscando alternativas na América do Sul. Normalmente, quem tenta acelerar o processo é o exportador. Porém, nesse caso, o governo chinês é que remeteu o protocolo fitossanitário antes do previsto", disse o adido agrícola. A mesma logística de importação de soja da China deve ser utilizada para a aquisição e o transporte do cereal sul-americano.

Beijing estabeleceu pro­­tocolo também com a Ar­­gentina, em fevereiro, depois de oito meses de negociações. As exportações iriam começar em abril, mas seguem em discussão. O governo chinês vai remeter representantes ao país vizinho durante junho para fazer averiguações e discutir sobre a suas preferências entre as variedades convencionais e transgênicas cultivadas no país latino, informa a imprensa chinesa.

Em relação ao Brasil, as negociações levaram cinco meses a menos (três meses) do que as estabelecidas entre Beijing e Buenos Aires. Mesmo assim, só devem ser aceitas variedades já aprovadas para consumo chinês. Conforme os analistas do setor, as discussões com a Argentina vão servir de parâmetro para o Brasil. Se os exportadores brasileiros ficarem atentos, saberão nos próximos dias quais espécies de grãos da região terão entrada livre na China.

Em fevereiro, os representantes do governo chinês estiveram também no Brasil. Uma segunda visita, como a prevista para a Argentina, pode ser dispensada.

O protocolo de abertura das importações não especifica variedade, nem volume ou prazo. Por outro lado, o governo chinês tem deixado claro que não pretende se tornar dependente da importação do cereal, como ocorre com a soja, em que 82% das 74 milhões de toneladas consumidas ao ano são trazidos do exterior. A meta do país é garantir 95% do abastecimento interno com a produção nacional.

O milho brasileiro tem qualidade e condições fitossanitárias para agradar aos chineses e ganhar espaço diante do cereal norte-americano, sustenta o presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). A notícia da abertura do mercado indica que o grão vai tornar um item importante na relação comercial entre Brasil e China, prevê. "Os Estados Unidos não tem milho suficiente para mandar para fora. A Argentina é grande exportador, mas também não dispõe de grande volume. A China deve levantar o mínimo de exigências possível, porque precisa repor seus estoques", avalia.

Colheita sem expansão

Com sua principal área de produção de milho e soja situada na mesma latitude do cinturão de grãos dos Estados Unidos, a China está em pleno plantio da safra 2012/13. Porém, o crescimento da demanda interna – atribuído à melhor condição de vida da população de mais de 1,3 bilhão de habitantes – não será acompanhado pela agricultura nesta temporada. Diferentemente do que ocorre nos campos norte-americanos, a produtividade chinesa não vem aumentando de forma expressiva e, nas regiões com clima favorável, não há mais terras disponíveis para expansão das lavouras.

O que ocorre é que o milho está tomando o lugar da soja porque, no mercado interno, a oleaginosa se tornou menos lucrativa, relatam cerealistas e empresários do setor na China. Os preços e as políticas do governo fazem com que o país busque um novo ponto de equilíbrio entre as duas culturas, mas a expectativa é de estabilidade no milho e decréscimo na produção de soja, afirma Bolang Touzi, responsável pela agência de dados sobre a safra e o mercado em Harbin, Nordeste da China, onde está concentrada a produção de grãos do país.

O aumento de 4% na área do milho (para 34 milhões de hectares) registrado nos últimos cinco anos foi acompanhado de elevação 16% na produção. Porém, as áreas novas são consideradas menos viáveis e podem fazer com que a produtividade média baixe a partir de agora, por estarem em regiões com maior risco de estiagem. No caso da soja, a redução no tamanho das lavouras teria sido de 17% no mesmo período (para 7,5 milhões de hectares), com diminuição de 15% na produção. Os números são do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) e convergem com avaliações chinesas privadas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]