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Estar 20 pontos porcentuais atrás do ano passado não significa que o plantio de soja esteja atrasado em Mato Grosso. O que atrasou foram as chuvas. Mas elas voltaram e o que está em jogo agora é a capacidade de recuperação dos produtores que, teoricamente, com alta tecnologia e topografia favorável, têm condições de tirar o atraso. Depois de um mês sem chuva ou com precipitação irregular e mal distribuída, o último relatório do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), de sexta-feira, revela que o plantio avançou para 31,1% da área prevista para o grão, contra mais de 50% no ano passado.

A Expedição Safra Gazeta do Povo, que encerrou ontem o roteiro pelo estado, acredita que, com as chuvas que começaram tímidas na sexta-feira e se intensificaram no final de semana, esse índice se aproxima ou então já supera os 40% da área, estimada entre 6,1 e 6,2 milhões de hectares. Nesse caso, "o que passa a preocupar é o plantio concentrado, devido à previsão de um mês chuvoso em janeiro", explica Maria Amélia Tirloni, analista do Imea. A umidade, que faltou no início, pode prejudicar a maturação e o rendimento do grão na fase final de desenvolvimento.

Clima e histórico de plantio deixam claro, então, que o problema não é a soja, até porque, a melhor época de implantação das lavouras segue até 20 de novembro, mas o milho de 2.ª safra, que vem depois. Para expressar todo o seu potencial produtivo, ele deve ser plantado, no máximo, até o final de fevereiro. E quanto mais tarde a soja é semeada, menor fica a janela para semear o cereal. No ano passado, as chuvas vieram mais cedo e, nesta mesma época, as lavouras de soja estavam entrando na fase final de implantação. O milho safrinha, que rendeu recorde ao estado, teve espaço com folga para semeadura.

"Apesar de esparsas e mal distribuídas, as chuvas estão chegando e o plantio está ganhando terreno. A semana promete umidade suficiente. De qualquer forma, para quem vinha plantando na poeira, qualquer chuva, em qualquer intensidade, é sempre bem-vinda", diz Tânia Moreira, analista da Fe­­deração da Agricultura do Paraná (Faep), que acompanhou a equipe da Ex­­pedição pelo Centro-Oeste. Ela destaca, ainda, que as indefinições em Mato Grosso podem vir a beneficiar o produtor e a produção do Paraná, seja por conta da redução da área ou da produtividade da soja e ou então do milho safrinha mato-grossense. Parte da área da oleaginosa pode migrar direto para o algodão e o cereal deve ter cultivo reduzido no estado.

A Cooaleste, com sede em Primavera do Leste e atuação em uma dezena de municípios, projeta área de milho 20% menor, destaca Paulo Dalla Corte, gerente comercial da cooperativa, que reúne 86 cooperados que cultivam perto de 250 mil hectares. Na semana passada, o plantio na jurisdição da Cooaleste havia atingido apenas 15% da área, contra 30% no exercício anterior. A diferença, no entanto, tem exceções, que revelam a distribuição irregular das chuvas. O produtor Adelino Guadagnin, por exemplo, na semana passada teve que interromper o plantio por falta de umidade, mas num momento em que 600 dos seus 1 mil hectares já estavam cultivados. A região de Primavera do Leste, no Sudeste do estado, tem uma participação entre 23% e 24% da produção estadual.

Nas regiões Oeste e Médio-Norte, que juntas respondem por 55% dos grãos produzidos em Mato Grosso, a realidade é um pouco diferente. Os produtores ouvidos pela Expedição relatam índices de plantio entre 60% e 85% da área. Cleto Webler, de Sapezal, está com 70% da lavoura implementada, contra 100% na mesma época do ano passado. O plantio tardio da soja, porém, não deve afetar os planos para o milho, que irá ocupar 1.800 hectares. Na última safra, ele plantou 2.500 hectares com o cereal. O recuo se deve à devolução de uma área arrendada.

No sábado, entre uma chuva e outra, Vitório Angelo Cella, produtor em Sorriso e Nova Mutum, ha­­via vencido 80% e 65% das áreas de soja e milho, respectivamente, de um total de 2.740 hectares. Privi­legiado pelas chuvas, ele conta que o índice de plantio está ligeiramente à frente do ano passado e que seu calendário é o ciclo de chuvas. Assim, ele prefere olhar para o histórico de precipitação do que usar como base o ano anterior, quando as chuvas chegaram mais cedo.

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