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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A laranja é a principal fruta produzida no Brasil, com 17,5 milhões de toneladas por ano, e uma das mais consumidas no mundo, seja em forma de suco ou in natura. Nesse cenário, apesar de ser apenas o quinto estado em área plantada, o Paraná é campeão de produtividade, colhendo uma média anual de 36,2 mil kg/hectare. A expectativa do setor para os próximos anos é ampliar a área plantada, mesmo enfrentando ameaças como o greening – doença disseminada pelo psilídeo que altera o sabor da fruta e derruba os frutos precocemente.

Dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná mostram que a produtividade dos laranjais do estado está à frente do índice de São Paulo, principal produtor nacional da fruta, que colhe 33,1 mil kg/ha. Os dados são da safra 2017. No entanto, os paulistas possuem quase 403 mil hectares de pomares – diante de pouco mais de 24 mil hectares do Paraná. Minas Gerais e Goiás ficam com 3º e 4º lugares, respectivamente, no ranking da produtividade.

Norte e Noroeste

A citricultura paranaense se concentra no Norte e Noroeste do estado. Paranavaí responde por 46% da produção, Maringá (19%), Londrina (10%), Cornélio Procópio (10%) e Umuarama (7%). O ano-safra da laranja vai de julho a julho e a fruta é colhida ao longo de 9 meses. A maior parte é destinada à fabricação de suco concentrado, sendo que 98% do suco produzido é exportado à União Europeia.

“São Paulo neste ano deve enfrentar uma queda na produção, por causa do clima. A estimativa é de que caia 31% devido à estiagem. No Paraná teve estiagem também, mas a fase das laranjas estava mais adiantada e não afetou tanto”, explica Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral da área de fruticultura.

Segundo Andrade, o Norte e Noroeste do Paraná têm características peculiares que favorecem o cultivo da laranja. “É uma região quente, mas com variação térmica à noite, o que diferencia o fruto, que é mais alaranjado. O nosso suco, inclusive, serve para temperar o suco paulista, que é mais amarelado”, explica. Só 15% da produção dos laranjais vai para o mercado interno de fruta seca, de consumo direto. Mas esses 15% representam 42% do total de laranja encontrado nas 5 Ceasas do Paraná.

Orientação técnica

Na opinião do engenheiro agrônomo Robson Ferreira, coordenador técnico de culturas perenes da cooperativa Cocamar, com sede em Maringá, a eficiência paranaense está ligada à boa orientação técnica dos produtores – a maioria pequenos agricultores ligados a cooperativas, o que facilita o acesso deles a insumos, recursos, prazos maiores para pagamento e contratos de garantia de venda de longo prazo.

No caso da Cocamar, os contratos são de 10 anos. “Isso permite ao produtor se programar, ter garantias de onde vai entregar o produto e com um preço dentro da média do mercado, o que o protege de variações externas”, observa. A cooperativa reúne 290 citricultores, que juntos possuem 9 mil hectares de laranja plantados que produzem 7,5 milhões de caixas de laranja. A maior parte vai para a fabricação de suco concentrado para exportação.

Gilberto Pratinha, maior produtor de laranjas do Paraná e sócio da Citri e da Agro Pratinha, sediada em Paranavaí, conta que além do clima e solo favoráveis à citricultura, o estado possui uma logística de transporte mais vantajosa. Segundo ele, a citricultura paulista, por exemplo, está espalhada pelo estado, obrigando os agricultores a pagar por um frete médio de 160 km. Enquanto isso, no Paraná o frete é para 40 km, em média.

André Rodrigues

Mas o bom momento da laranja paranaense esconde as dificuldades enfrentadas em outros tempos pelo setor. Andrade conta que nos anos 1950, os laranjeiros, como eram conhecidos os produtores na época, sofreram muito com o ataque do cancro cítrico, doença que atingiu em cheio as plantações, tornando-se um enorme problema fitossanitário. O governo então proibiu o plantio de cítricos por 30 anos no estado e só no final dos anos 1970 iniciaram-se as pesquisas para tentar retomar a citricultura. Enquanto isso, São Paulo cresceu na produção.

A partir dos anos 1990, finalmente, o Paraná retomou o cultivo, participando do mercado nacional. E justamente por causa do problema do cancro cítrico, os novos pomares já cresceram dentro de um maior rigor fitossanitário e com a produção amparada por um melhor acompanhamento técnico e voltada para a industrialização, segundo Andrade.

Essas condições, deram ao estado uma vantagem para aumentar a produtividade. Segundo Gilberto Pratinha, nos últimos cinco anos o Paraná produziu, em média, mil caixas de laranja por hectare, enquanto São Paulo produziu de 850 a 900 caixas por hectare em média.

Menor área plantada

Entretanto, Pratinha lembra que na última década o Paraná perdeu muita área. “Temos cerca de 10 milhões de pés de laranja hoje em dia. Em 2010, tínhamos 13 milhões de pés. Por causa da crise econômica, crise do preço do suco lá fora e o problema do greening, o mercado ficou desabastecido”, explica. A doença, segundo o produtor, afetou mais o Paraná do que São Paulo. “Enquanto eles perderam 13% das árvores nós perdemos quase 30%”.

No entanto, as perspectivas hoje são boas. Os pomares paranaenses devem chegar ao final de 2019 com dois milhões de pés de laranja a mais do que este ano. Pratinha, que também cultiva mudas de laranjeira, diz que em 2018 sairão dos seus viveiros 800 mil mudas e outras 700 mil já estão contratadas para 2019.

Com preços bons no mercado externo e com dólar alto, os produtores se animaram a voltar a plantar. Mas, segundo Pratinha, o setor precisa de um controle maior sobre o greening e o governo, especialmente o do Paraná, precisa reduzir os impostos - que somam quase 40% - sobre a citricultura, o que deixa o produto final muito caro para o consumidor.

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