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Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP)

Daqui a uma semana, líderes do mundo inteiro estarão reunidos no Rio de Janeiro para definir as estratégias, os compromissos e os desafios de cada país no desenvolvimento sustentável do planeta. Para analisar a participação do agronegócio nesse importante evento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Agronegócio Gazeta do Povo ouviu Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura durante o governo Lula e atual coordenador do centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp-Jaboticabal.

A sanção do Código Flo­­restal do Brasil pode ter alguma interferência na Rio+20?

Sim. Mas não considero, porém, que o código represente nenhum tipo de problema e tampouco vantagem para o Brasil. Já nas discussões não-oficiais, que ocorrerão paralelamente, poderá representar uma desvantagem, sobretudo pelo tratamento não-científico, sem muito embasamento técnico, como foi tratado o assunto Toda a numerologia definida pelo código foi arbitrada.

O que o país precisa fazer sobre esse assunto?

A sustentabilidade passa por um código agroambiental, que esteja ligado ao zoneamento e a vocação de cada região produtora. Isso demanda tempo e é muito caro, mas é o que não só o Brasil precisa, mas sim todos os países que produzem. O Brasil tem importantes troféus, mas precisa saber exibí-los, diante de um momento em que reuniões paralelas promovidas por concorrentes do agronegócio tentarão achovalhar a nossa imagem, usando dados já superados, como o desmatamento, por exemplo.

Que argumentos pesam a favor e contra o agronegócio brasileiro?

A evolução da produtividade e da tecnologia agrícola brasileira nos dá uma condição notável. A área de grãos cresceu 37% nos últimos 20 anos, mas a produção saltou 170%. Ou seja, preservamos 53 milhões de hectares. Esses números não fazem parte de promessa ou compromisso assumido pelo Brasil. É um dado real, feito consistentemente e nos dá a liderança planetária no que diz respeito à preservação da natureza.Além disso, somos o maior país do mundo a adotar o plantio direto na palha. Temos mais de 6 milhões de hectares com florestas plantadas; somos pioneiros em integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e temos um programa de agricultura de redução de emissão de carbono que é único, o ABC. O problema é que falta estratégia para o Brasil. Passamos alguns anos vendendo a ideia de que a agroenergia seria uma alternativa para substituir o petróleo e hoje estamos importando etanol. O que nos falta é um horizonte estratégico definido.

Qual efeito prático que você espera da Rio+20?

Um dos temas que deveríamos tratar está ligado à área comercial. A rodada de Doha está travada. Acredito que os países que oferecem potencial de aumento da produção agrícola poderiam cobrar um desdobramento mais amplo na Organização Mundial do Comércio (OMC). Outro assunto relevante é o de políticas públicas que permitam a melhor organização do setor produtivo nos países emergentes. E o cooperativismo tem papel fundamental nisso. Aliás, o cooperativismo precisa ser considerado como um braço econômico e com definição clara. Espero que a Rio+20 implemente a rodada de Doha e que não seja apenas um protocolo de intenções, de caráter de boa vontade, mas sim de compromissos sólidos.

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