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| Foto: Marcos Tosi/Gazeta do Povo

Durante o Seminário Nacional da Cebola que acontece nesta semana em Campo Magro, região de Curitiba, os pequenos produtores levaram as mãos à cabeça, incrédulos, quando souberam que em Juazeiro, no norte da Bahia, alguns “concorrentes” estão produzindo até 140 toneladas de cebola por hectare. A média, no Paraná, no último ciclo, foi de 25 toneladas por hectare, ou seja, 5,6 vezes menor.

No caso do agricultor Leonardo Rzerzutko, de Quitandinha, a comparação é ainda mais desvantajosa. Ele colheu apenas 2 mil sacos num alqueire de terra (média de 16 toneladas por hectare). “Desde que nasci, meu pai já plantava cebola, mas esse ano não vou plantar”, avisa Rzerzutko, que reconverterá a área para milho.

Como centenas de outros produtores paranaenses que fazem cultivo manual e não recorrem à irrigação, Rzerzutko teve prejuízo no último ciclo por causa da estiagem que pegou a cultura “na arrancada” pós-plantio, entre agosto e setembro. Na Bahia, onde predomina o cultivo com maquinário, plantio direto e irrigação, esse risco climático não existe.

Leonardo Rzerzutko, produtor de QuitandinhaMarcos Tosi

Mas não é só o clima que explica a desvantagem paranaense. “Há muito ainda que se melhorar em tecnologia e produtividade. E isso é possível com irrigação e também com uso de variedades híbridas, mais produtivas, e com espaçamento correto. Só com ajuste no espaçamento já seria possível dobrar a produção”, afirma Iniberto Hammerschmidt, coordenador de OIericultura da Emater Paraná.

Enquanto a assistência técnica recomenda espaçamento de 20 cm entre linhas e 10 cm entre plantas, produtores como Otávio Micheski, de Agudos do Sul, “confessam” que ainda vêm plantando com 40 centímetros entre linhas, o que corta pela metade a população de plantas – e consequentemente – o volume da produção.

A situação dos plantadores de cebola no Paraná só não é pior porque o principal polo produtor da Bahia, Irecê, fica a 2 mil quilômetros de distância, encarecendo o frete e o preço final ao consumidor. Mesmo assim, neste mês de abril, com o fim da colheita paranaense, a cebola baiana encontra sua “janela” para entrar no mercado do sul.

Depender de cebola produzida tão longe têm seu preço. Enquanto no auge da safra paranaense o consumidor chegou a pagar R$ 1,00 o quilo, hoje o varejo já cobra R$ 5,99 e a projeção é que chegue perto dos R$ 7,00 até o dia 10 de maio. A partir desta data, o preço poderá cair pela metade, quando começam a chegar os primeiros carregamentos da safra de São Paulo e Minas Gerais. A cebola paulista e mineira desbancará então a cebola baiana, por força de um frete 50% mais barato (De R$ 300,00 a tonelada para R$ 150,00 a tonelada).

Funcionário de atacadista em Campo Magro faz a classificação da cebola, importanda da BahiaMarcos Tosi

Essa gangorra de preços, oferta e procura é uma realidade que possibilita a entrada no mercado nacional de cebola da Argentina e até da Holanda. Nesta entressafra a cebola holandesa está mais escassa por que a Camex (Câmara de Comércio Exterior) impôs uma sobretaxa antidumping de 25% – entendendo que, com subsídios, os produtores holandeses conseguiam colocar o produto no Brasil abaixo do custo de produção local. A cebola argentina paga tarifa externa comum, do Mercosul, de 10%.

O presidente da Associação Nacional da Cebola, Rafael Corsino, diz que existe, sim, o risco de os cebolicultores do Sul serem “engolidos” pelos do Nordeste. “A Bahia produz o ano inteiro e com uma capacidade fantástica de produtividade e de qualidade, que tem melhorado ano a ano. E o custo de produção é menor. Os produtores do Sul têm que pensar o que é possível fazer para ter mais eficiência. De repente, pesquisar qual tipo de irrigação é mais recomendado para a região, encontrar uma variedade que se adapte melhor ao clima, que tolere mais chuva e que permita mais adensamento para aumentar a produtividade. É um desafio que eles vão ter de enfrentar”, alerta Corsino.

O diretor-presidente da Emater, Rubens Niederheitmann, acredita que com maior disponibilidade de conhecimento e tecnologia, o produtor paranaense poderá dar o salto necessário para manter a produção de cebola no estado. Ele lembra que, como todas as hortaliças, a cebola é muito sensível à nutrição, à oferta de água, ao impacto de doenças e pragas. “É importante que os órgãos de pesquisa avancem para obter variedades de maior poder produtivo. Por outro lado, o produtor tem receio de investir muito, porque como a cultura é sensível, se tiver frustração ele perde muito. Mas é bom lembrar que saímos de uma produtividade de 4 toneladas por hectare para 25 toneladas e, em algumas regiões, até 50 toneladas. Isso mostra que ainda temos um potencial muito grande”, diz Niederheitmann.

Paulo Sérgio Zarpellon, de Irati: se plantar cebola de qualquer jeito, no final “ela faz o produtor chorar”Marcos Tosi/Gazeta do Povo

Segundo a Emater, o Paraná utiliza irrigação em apenas 20% dos 25 mil hectares cultivados com cebola. A região metropolitana de Curitiba (Contenda, Quitandinha, Lapa, Campo Magro, Almirante Tamandaré e Balsa Nova) concentra 65% dos 3800 cebolicultores do estado. Outros 25% estão na região de Irati, onde, com irrigação, a produtividade média é mais alta, chegando a 50 mil toneladas por hectare. Mesmo no auge da safra, a produção paranaense dá conta apenas de 85% do consumo local, que é complementado pela oferta de Santa Catarina.

Serviço:
XXX Seminário Nacional da Cebola
28º Encontro Estadual de Produtores de Cebola
1ª Festa da Cebola e Agricultura Familiar de Campo Magro
De 25 a 29 de abril de 2018, no Parque de Exposições Bortolo Casagrande
Campo Magro - Paraná

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