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A roda, a catapulta e todas as outras invenções mecânicas ancestrais são fabulosas, mas as inovações culinárias, como pão, queijo e vinho, tiveram quase o mesmo impacto no mundo e, de quebra, ainda mudaram a fisiologia humana.

Pesquisadores de química revelaram na semana passada ter identificado o pedaço de queijo mais antigo já encontrado – um naco de 3.200 anos que estava junto à tumba de Ptahmes, alto funcionário egípcio que viveu no século 13 a.C. Usando a técnica de espectrometria de massa, uma equipe internacional de pesquisadores analisou a composição da proteína, concluindo se tratar de uma mistura de leite de ovelha e vaca, enrolada num pano.

Há, no entanto, motivos para acreditar que o queijo é milhares de anos ainda mais velho. Arqueólogos já encontraram potes de culinária de 7.000 anos que aparentam ter sido usados para produzir queijo. A produção de queijo e iogurte pode ajudar a explicar por que as pessoas começaram a criar gado há 10 mil anos, ainda que, à época, a condição padrão do ser humano fosse de intolerância à lactose. Alguns bravos pioneiros perceberam que o leite fermentado tem digestão muito mais fácil. Atualmente, sabemos que os micróbios digerem boa parte da lactose.

A fabricação de queijos introduziu os produtos lácteos na dieta humana; em seguida, dentre os criadores de gado, surgiram indivíduos tolerantes à lactose que puderam se beneficiar dos valores nutritivos dos lácteos. Estudos genéticos sugerem que os genes da tolerância à lactose se espalharam entre os pecuaristas da Ásia Central e do Oriente Médio, que, mais tarde, acabaram prevalecendo sobre os nativos europeus, extrativistas e caçadores, cerca de 7.000 anos atrás.

Os primeiros queijos podem ter surgido junto com os primeiros vinhos. Cientistas identificaram vestígios de vinho e cerveja em vasos de barro de 10.000 anos. Os genes que permitem às pessoas processar o álcool começaram a surgir entre nossos ancestrais primatas que, ao se mudarem da floresta para a savana, podem ter se deparado com muitos frutos caídos no chão e naturalmente fermentados.

O pão é ainda mais antigo, segundo estudo publicado no mês de julho. Pesquisadores encontraram o que acreditam ser migalhas de pão num sítio arqueológico de 14.000 anos, ou seja, 4.000 anos antes do início da agricultura. Os genes que aprimoraram a capacidade de digerir amido parecem ter se espalhado entre povos que integraram o trigo à sua dieta.

As dietas paleolíticas são válidas, se fazem você se sentir melhor ou perder peso, mas não pense que ao aderir a elas você estará se alimentando como os humanos primitivos. Sempre fomos inovadores e adaptáveis. Por muito tempo temos apreciado as coisas boas da vida, como vinho, queijo e pão.

* Faye Flam é geofísica formada pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia.

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