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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A operação de plantio, tratos culturais, colheita, moagem e processamento da cana de açúcar não para nunca nos 135 mil hectares da Usina São Martinho, em Pradópolis, interior de São Paulo.

São mais de cinco mil pessoas e milhares de máquinas em operação – entre tratores, colheitadeiras, plantadeiras, pulverizadores, caminhões, implementos e veículos de apoio. O diretor técnico da maior usina de cana do mundo, Mario Gandini, calcula que a quilometragem percorrida pelo maquinário todos os dias é de 87,2 mil quilômetros. “Isso equivale à distância de duas voltas ao redor da Terra. No período de abril a novembro, processamos 50 mil toneladas de cana por dia. A cada dois minutos chega um novo caminhão na balança. É uma logística ágil e nervosa, só interrompemos quando chove”, relata Gandini.

Toda a operação do maquinário é feita com piloto automático, a partir do mapeamento de cada centímetro de lavoura por satélite. Isso garante que, mesmo à noite, uma colheitadeira ou trator nunca irá errar o caminho e passar acidentalmente por cima da linha de plantas.

A usina, que já teve uma joint-venture com a Case New Holland para fabricação de máquinas (Brastoft), hoje funciona também como campo de experimentos do antigo sócio, com quem mantém parceria estratégica. Nas quatro unidades do Grupo São Martinho – há outras duas usinas em São Paulo e uma em Goiás – existem 704 maquinários da marca CNH.

A qualquer hora do dia, segundo Roberto Biasotto, diretor da CNH, há pelo menos quatro ou cinco máquinas em testes dentro da São Martinho para pesquisa conjunta. O principal foco da parceria, no momento, é desenvolver uma máquina que colha duas linhas de cana por vez. No modelo de linha única, a área da lavoura é dividida em 50% para trânsito dos pneus e 50% para plantas e raízes. Com o protótipo batizado de A-8800 Multisow, a área útil aumenta para 75%, reduzindo o pisoteio para apenas 25%.

Outro desafio constante para esses equipamentos pesos-pesados é aumentar a eficiência no uso de combustível, que representa 35% do custo de produção da cana – metade disso na operação de colheita. Os modelos 2018, segundo Biasotto, consomem 10% menos diesel por tonelada de cana colhida.

As colhedeiras de cana são “beberronas” – cerca de 45 litros de diesel por hora – porque fazem muito mais força do que as congêneres de grãos. Enquanto numa lavoura de milho são colhidas perto de 6 toneladas por hectare, em média, na cana esse número fica entre 75 e 100 toneladas, sem contar outras 15 a 20 toneladas de folhas picadas deixadas como matéria seca no solo.

Cana crua

O uso extensivo da mecanização para colher a “cana crua” tem apenas duas décadas no país. Até o final dos anos 90 predominava no Brasil o sistema de queimadas dos canaviais antes da colheita, o que facilitava a operação de corte, fosse pelo maquinário, fosse por boias-frias. Por exigências ambientais, as queimadas foram progressivamente abolidas.

De 2007 a 2018, segundo estudo do estado de São Paulo, a eliminação das queimadas evitou a emissão de 9,91 milhões de toneladas de CO2 e mais de 59 milhões de toneladas de poluentes atmosféricos, entre monóxido de carbono, material particulado e hidrocarbonetos.

“Isso equivale à emissão de 173 mil ônibus circulando durante um ano inteiro. Quanto ao sistema de produção, é todo um pedágio, uma transição que está sendo feita, e os produtores pagam o preço disso, porque diminui a produção em relação a décadas passadas. Mas são exigências da sociedade, que se não forem observadas, resta a opção de sair da atividade”, afirma Juliano Bortolotti, advogado da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste de São Paulo (Canaoeste).

A colheita da cana crua aumentou a dificuldade operacional, já que colocou no caminho das máquinas um enorme volume de biomassa que antes era queimado previamente. Isso criou oportunidades e desafios para os fabricantes de colheitadeiras. Até três ou quatro anos atrás, uma máquina colhia menos de 300 toneladas por dia. Hoje a média nacional já está em 500 toneladas. Na São Martinho, são 970 toneladas. “Para a indústria, são três grandes desafios: reduzir o impacto da mecanização na compactação do solo, diminuir os custos operacionais e aumentar a eficiência da colheita como um todo”, diz Roberto Biasotto.

Neste ano, a estiagem prolongada no período de crescimento da cana, entre outubro e janeiro, levou à diminuição da produtividade na região de São Paulo, que não deve passar de 85 toneladas por hectare, queda de mais de 10% em relação à safra passada.

Ricardo Gomes Pereira, de 37 anos, é filho de cortador de cana. Começou na Usina São Martinho há dez anos, fazendo trabalhos manuais de catar pedaços de cana e engatar tratores, passou a operador de máquina e hoje é líder de uma equipe de mais de 100 pessoas. Está cursando o primeiro ano de agronomia. “Temos vários funcionários com histórias parecidas com a do Ricardo, que saíram da operação de corte de cana e hoje comandam nossos maquinários de alta tecnologia”, sublinha Gandini.

* O jornalista viajou a convite da CNH.

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