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Os crescentes preços da soja em grãos, que não são acompanhados pelas cotações do farelo de soja, estão reduzindo as margens de indústrias brasileiras de esmagamento e, pelo menos em alguns casos, reduzindo a produção.

Do início de maio até o fim de junho, os preços da soja subiram 8%, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa do porto de Paranaguá, em meio a uma forte demanda para exportação. No mesmo período, o preço do farelo -- principal subproduto do esmagamento da soja-- caiu 3,3% em Campinas, relevante praça de referência.

Na EG Log, uma empresa de São Paulo que processa 120 mil toneladas de soja por ano, o esmagamento está praticamente parado. "De maio para frente, a margem está negativa. Hoje estou quase parando a operação de esmagamento", revela o gerente comercial da empresa, Eduardo Fogaça, revelando que a empresa está trabalhando neste momento com a compra e revenda de óleo de soja bruto e com o comércio de milho.

Cada empresa tem margens diferentes, que dependem de sua localização, acordos comerciais e eficiência operacional, e esses números não são divulgados, tampouco estimados pelas consultorias do setor.

Segundo Fogaça, se a EG Log estivesse esmagando soja atualmente, a margem líquida seria 8% negativa, sem colocar na equação alguns créditos fiscais que acabam abatendo parte dos custos.

O supervisor de compras de uma indústria de carne suína do Rio Grande do Sul, que tem relação muito próxima às esmagadoras devido às aquisições de insumos para ração, relata que as margens de soja processada estão próximas a zero neste momento. "Algumas indústrias já estão com produção reduzida", disse ele, sem se identificar.

As estatísticas mais recentes do setor de soja mostram que a produção de farelo no Brasil em maio foi a menor para o mês desde 2006, apesar de uma projeção de processamento de soja recorde para este ano, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Uma tonelada de soja produz, em média, 190 quilos de óleo e 780 quilos de farelo, com 30 quilos de perdas. Por isso, o preço do farelo é determinante para as margens da indústria. "O preço de farelo tem reagido nos últimos dias, porém não na mesma intensidade que o preço da soja. As indústrias não têm conseguido competir com o mercado de exportação de soja em grãos", destacou o analista Adelson Gasparin, da corretora de grãos XPF Agro, de Passo Fundo (RS).

Segundo ele, o setor de carnes, principal consumidor de farelo de soja no país, perdeu fôlego no segundo trimestre. "Estamos em meio a uma crise, inflação, menor poder de consumo da população. Isso atrapalha o mercado de carnes", disse.

Na avaliação do analista Lucílio Alves, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Universidade de São Paulo, a situação de margens mais estreitas para o farelo deverá mudar no segundo semestre. Ele lembra que a América do Sul acaba de realizar uma colheita recorde de soja e que os Estados Unidos estão no meio do desenvolvimento de uma safra também bastante grande.

"Ainda há uma oferta muito grande de soja, com perspectiva de que isso permaneça, estabilizando os preços do grão", afirmou ele. Além disso, as economias internacionais estão se recuperando e as vendas de proteína animal seguem firmes, avaliou o analista do Cepea, o que deverá sustentar as cotações do farelo.

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