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Colheita da soja começou neste mês, nos Estados Unidos | Arquivo/Gazeta do Povo
Colheita da soja começou neste mês, nos Estados Unidos| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

O que até alguns meses atrás parecia inimaginável, agora se desenha como opção para os produtores americanos de soja: trocar o plantio da leguminosa por algum outro grão, provavelmente o trigo.

“É uma decisão previsível e fácil de tomar, ou seja, o retorno ao cultivo daquilo que eles já plantavam no passado”, diz Kevin McNew, economista-chefe do serviço de informação Farmers Business Network, que congrega cerca de 7 mil agricultores americanos.

A troca da soja pelo trigo é uma opção cada vez mais discutida entre produtores do estado de Dakota do Norte, que tradicionalmente produzia trigo, mas que nas últimas décadas aderiu em massa ao plantio da leguminosa.

Dentre os estados produtores de soja, Dakota é o que fica mais próximo dos portos do Oeste americano, o que coloca seus produtores em posição única para capitalizar com a disparada de demanda dos chineses, que usam vastas quantidades de soja para ração animal e óleo de cozinha. Contudo, apanhados em meio ao fogo cruzado da guerra comercial, os produtores estão vendo essa demanda desaparecer.

“A demanda foi crescendo, crescendo, crescendo e, agora, é como se alguém tivesse fechado a torneira”, diz Nancy Johnson, diretora executiva da Associação dos Produtores de Soja de Dakota do Norte.

Em julho, a China impôs uma sobretaxa de 25% à soja americana, o que fez as compras se reduzirem a um ritmo de conta-gotas. Mais de 70% dos grãos produzidos na Dakota do Norte foram enviados em 2017 para portos do norte do Pacífico e, de lá, muitos carregamentos desembocaram na China.

Quando a logística está sincronizada, a soja de Dakota pode chegar aos portos chineses em apenas duas semanas, segundo Frayne Olson, economista do Departamento de Extensão da Universidade Estadual de Dakota do Norte.

Preço em baixa

O cenário, contudo, é de drástica redução nas compras chinesas. A diferença entre a cotação futura da Bolsa de Chicago e os preços locais despencaram quase 2 dólares por bushel. É o dobro do desconto dado um ano atrás, segundo dados da Bloomberg.

A cotação da soja em Chicago já caiu 14% neste ano em meio às tensões da guerra comercial. Para piorar, os americanos começam a colher agora aquela que está prevista como a maior safra da história.

Os preços baixos atingem mais duramente regiões dependentes de exportação, como a Dakota do Norte. A guerra comercial tem tanto impacto na economia local que poderá afetar a acirrada disputa ao Senado. As exportações de soja costumam arrancar em outubro. A data de eleição é 6 de novembro.

O senador Heidi Heitkamp, da Dakota do Norte, criticou a guerra comercial contra a China em um tuíte de 17 de setembro, dizendo que o confronto deixou os agricultores do estado “sem nenhum pedido da China”, e apontou para um estudo da universidade estadual que alerta os produtores a se prepararem para estocar soja pelo menos até meados do verão de 2019.

O governo Trump reconhece o impacto das sobretaxas chinesas sobre produtos agrícolas e ofereceu ajuda financeira de US$ 12 bilhões aos produtores, que formam uma parcela do eleitorado que contribuiu decisivamente para vitória dos republicanos nas eleições de 2016.

Quando a colheita avançar próximo de dois terminais de grãos da Berthold Farmers, na Dakota do Norte, a empresa só aceitará soja que já foi contratada para entrega – segundo o diretor geral Dan Mostad. A companhia também não irá ofertar a opção de estocagem de grãos a serem precificados mais adiante na temporada.

“Essas opções não estão disponíveis agora por causa do risco associado às cotações”, diz Mostad. “Não tem sido fácil administrar o impacto (da disputa comercial) sobre toda a cadeia da soja. Estamos navegando em águas desconhecidas”.

Os produtores da região de Dakota estão tentando vender os estoques de canola, linhaça e ervilhas para abrir espaço para a soja que será colhida.

“Estamos fazendo tudo o que é possível para abrir espaço para esses grãos depreciados”, diz Todd Erickson, diretor da Finley Farmers Grain. A empresa tem buscado despachar trigo e milho dos armazéns para liberar espaço para a soja, que será “mais necessário do que nunca”.

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