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A exportação de cachaça representa só 1% da produção nacional do produto. No entanto, isso rendeu US$ 15,8 milhões em negócios, o que dá quase R$ 65 milhões. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
A exportação de cachaça representa só 1% da produção nacional do produto. No entanto, isso rendeu US$ 15,8 milhões em negócios, o que dá quase R$ 65 milhões.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

A primeira coisa a saber sobre a cachaça é que ela não é aguardente. Cachaça, dizem os entendidos, é bebida premium, feita exclusivamente no Brasil a partir de cana-de-açúcar, sem qualquer mistura, e em alambique de cobre. Posteriormente, é envelhecida em tonéis de madeira num processo lento e quase artesanal, parecido com o dos melhores uísques norte-americanos ou tequilas mexicanas. Se não for assim, pode chamar tudo de aguardente.

A dica é dos produtores brasileiros da bebida, que celebram neste 13 de setembro o Dia Nacional da Cachaça. Para quem apostou na “branquinha” como produto refinado voltado ao mercado de exportação tem muito o que comemorar, pois trata-se de um setor com perspectiva de crescimento para os próximos anos, apesar das dificuldades enfrentadas, como a elevada tributação interna e a má fama da bebida.

De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), a capacidade instalada do país para a produção de cachaça é de 1,2 bilhão de litros ao ano, mas fabricamos entre 700 e 800 milhões de litros/ano. No ano passado, produzimos 520 milhões de litros – um mercado que movimenta cerca de R$ 10 bilhões.

Segundo Carlos Lima, diretor executivo do Ibrac, a maior parte da cachaça produzida no Brasil é consumida internamente (a bebida, inclusive, responde por 72% do mercado de destilados no país). A exportação, por sua vez, representa apenas 1% da produção. No entanto, esse pequeno volume rendeu US$ 15,8 milhões em negócios, o que dá quase R$ 65 milhões.

“A exportação tem grande potencial de crescimento para a cachaça brasileira. Hoje o grande volume de produção está nas mãos de grandes grupos, mas as exportações hoje são destaque das pequenas e médias empresas, quebrando o paradigma de que exportar é coisa de gente grande”, diz Lima.

Morretes

Um bom exemplo de quem viu essa janela de oportunidade no exterior foi o alambique Porto Morretes, que carrega no rótulo o nome da cidade litorânea do Paraná.

A cachaça da Porto Morretes é destilada em alambique de cobre, conforme manda o figurinoPorto Morretes/Divulgação

A marca, que começou a produzir em 2004, hoje fabrica 100 mil litros de cachaça orgânica anualmente, sendo que 80% são destinados à exportação. Em 2015, os atuais sócios da empresa – o engenheiro agrônomo Agenor Maccari, o engenheiro químico Fulgêncio Torres Viruel e o ex-jogador de futebol Mozart Santos Batista Júnior – resolveram se associar com um grupo norte-americano para incrementar a presença naquele país. Deu certo.

Atualmente, os EUA importam 70% da produção da cachaça Porto Morretes Premium, que por lá se chama Novo Fogo. Canadá, Alemanha e Holanda são outros destinos do produto, que até o final do ano deve chegar a mais países europeus.

De acordo com Torres, que é diretor da empresa, a ideia do alambique é resgatar a forma tradicional de fazer a bebida, mas adotando padrões técnicos de qualidade modernos. “Até os anos 1950, Morretes era muito forte com essa história da cachaça. Chegamos a ter uns 60 alambiques, antes mesmo de Minas Gerais aparecer [o estado hoje é o principal produtor de cachaça artesanal do país]. A gente quer fazer uma bebida que represente um pouco dessa história e do nome de Morretes, que é sinônimo de cachaça”, diz.

O processo de produção da cachaça artesanal não é rápido. Do plantio da cana até o envelhecimento da bebida em barris de carvalho, passando pela moagem, destilação e depois o envasamento para poder ser vendida, leva-se no mínimo dois anos. As cachaças premium ficam até 4 anos no barril. Mesmo com o ritmo lento, a meta é produzir daqui a cinco anos até 500 mil litros de cachaça ao ano.

A produção da Porto Morretes é feita no alambique principal, localizado aos pés do Pico do Marumbi, e em mais outros dois alambiques no Oeste do Paraná. A cana vem de 30 hectares plantados, metade em Morretes e a outra metade no Oeste. Tudo 100% orgânico, garante Torres. Esse cuidado garantiu ao produto o título de melhor cachaça do Brasil em 2016.

Tributos

A reclamação dos fabricantes, sejam grandes ou pequenos, é a mesma: tributos. Segundo Lima, do preço da cachaça no Brasil 82% são de impostos. É o produto mais taxado no país, de acordo com o Ibrac. Em 2015, o aumento do IPI sobre a cachaça afetou bastante os produtores e, apesar de medidas positivas do governo, como a inclusão de micro e pequenos alambiques no Simples, o setor ainda não se recuperou do baque.

No caso do Paraná, observa Torres, o estado cobra ainda ICMS e o ICMS-ST (substituto). Somando tudo, o imposto “bebe” 58% do valor da nota fiscal. “Acaba não valendo a pena vender no mercado interno”, resume.

Além disso, de acordo com Lima, outra barreira a ser rompida é a do preconceito de boa parte da sociedade com relação à cachaça. “É como se ela tivesse que carregar sozinha essa chaga que é o alcoolismo. Nos EUA, ela é vendida em locais sofisticados e a preços altíssimos. Nós é que temos esse complexo de vira lata aqui”, diz.

O diretor do Ibrac enaltece as características culturais do produto. “Você não está só consumindo uma bebida, mas também tradição e história”, pontua, observando que a bebida é produzida de Norte a Sul do país, trazendo as características de cada região. Enfim, um legítimo patrimônio nacional.

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