Não é apenas no futebol que o ambiente de incertezas toma conta da Argentina. Talvez não tão oscilante quanto a seção alviceleste, a safra da soja caminha entre dúvidas. Atualmente, por conta do excesso de chuvas, o plantio está atrasado em relação ao ciclo 2015/16.
Até o momento, a semeadura está entre 10% e 15% do previsto em nível nacional, sendo que, nesta mesma época do ano passado, o índice era de aproximadamente 20%.
Na principal zona produtora, contudo, que responde por aproximadamente 40% de toda a soja colhida no país, o tempo colaborou nos últimos dias e o plantio avançou para 50%, próximo do que se observava na safra anterior. No entanto, as chuvas que vinham castigando a região devem voltar.
A isso, soma-se uma redução na área cultivada com a oleaginosa, que acabou perdendo espaço para outras culturas. O motivo é que a as “retenções”, como ficaram conhecidas as taxas sobre as exportações agrícolas argentinas, serão mantidas por mais tempo no caso da soja, na faixa de 30%, ao passo que para o milho e para o trigo, o governo de Maurício Macri zerou o tributo logo no início da gestão, no fim de 2015.
Com menos área e um mercado de preços mais baixos, a aposta é na produtividade para manter os ganhos. Mas tudo vai depender do clima, como aponta o economista argentino Guillermo Rossi, da Big River Consultoria. E por enquanto, o tempo não tem sido dos mais favoráveis por lá.
Agronegócio Gazeta do Povo – Qual o motivo exato para o atraso no plantio?
Guillermo Rossi: O plantio mostra certo atraso este ano principalmente nas áreas afetadas por alagamentos e excesso de chuvas. Ele avançou rapidamente nestes últimos dias, mas pode desacelerar novamente, pois neste domingo (13) volta a chover.
Agro GP – Como esse ritmo mais lento interfere no mercado? Isso deixa uma margem maior para incertezas quanto ao clima e à colheita?
GR: O impacto no mercado é pouco claro. Em princípio, um espaçamento maior na época de plantio atenua o risco climático, o que é favorável. Mas certo atraso pode alterar a produtividade e melhorar os teores de proteína nos grãos. De todo mundo, temos que observar como as chuvas vão se comportar nas próximas semanas. Em tese, as condições agora são melhores para o plantio.
Agro GP – Quais as previsões para a safra 2016/17 na Argentina?
GR: Para esta safra, espera-se uma colheita em torno de 56 a 58 milhões de toneladas. Alguns analistas acreditam que pode ser menos, mas, em minha opinião, eles subestimam o potencial produtivo. É certo que este ano plantamos menos, mas não se esperam as perdas que tivemos no ano passado.
Agro GP – A colheita recorde nos Estados Unidos pode compensar eventuais quebras na América do Sul e manter o preço no mesmo patamar?
GR: O preço pode se estabilizar, já que a colheita norte-americana resulta em amplos estoques em curto prazo e a produção brasileira vem bem encaminhada. De qualquer forma, espero alguma volatilidade entre dezembro e fevereiro, quando a safra é definida.