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Joel Zulian quer dobrar o alojamento de aves e a produção nos próximos três anos. | Daniel Caron/Gazeta do Povo
Joel Zulian quer dobrar o alojamento de aves e a produção nos próximos três anos.| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

A família Zulian, de Erechim (RS), dobrou a linha de produção de ovos nos últimos três anos e conta, atualmente, com 25 mil galinhas botando em média 18 mil ovos por dia. Os primos Paulo e Joel, que tocam a propriedade de 45 hectares, querem repetir o desempenho e projetam alcançar 50 mil aves alojadas nos próximos três anos.

“Pode ser que a gente consiga até triplicar. Temos que crescer para manter a rentabilidade. Até por que, se não ocuparmos o espaço, algum concorrente vai ocupar”, avalia Joel Zulian.

A boa fase da produção de ovos não está restrita ao mercado de 100 mil habitantes de Erechim, único lugar onde os Zulian podem comercializar, porque só têm selo de inspeção municipal. A atividade no País vem sendo impulsionada pelo aumento do consumo interno, abertura de exportações e a versatilidade do ovo em pó, cada vez mais utilizado em misturas industriais para bolos, massas e biscoitos. Isso tudo num momento de cenário de estagnação econômica e incertezas políticas, em que a prima-irmã, a avicultura de corte, sofre com fechamento de mercados para exportação.

Brasileiros de nenhuma outra região consomem tanto ovo como os gaúchos. São 227 ovos por pessoa, por ano, 35 a mais do que a média brasileira. No estado, o setor vem crescendo, em média, 1,5% ao ano. “Antigamente o setor de postura comercial era a parte mais vulnerável da avicultura, mas desde 2012 temos um sistema de marketing contínuo de incentivo ao consumo, que oferece também assistência técnica e capacitação aos produtores”, diz José Eduardo dos Santos, diretor da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).

Santos considera que ainda há espaço para expandir o consumo no País. “No México, cada cidadão consome 400 ovos por ano, no Japão e nos Estados Unidos, por volta de 280, enquanto no Brasil é de apenas 198. O ovo é uma boa alternativa de mercado, tanto para o produtor como para o consumidor, por que significa fácil acesso à proteína animal”, avalia.

Parecidos, mas diferentes

Tanto a avicultura de corte, como a avicultura de postura comercial, envolvem atenção e cuidado diuturnos com milhões de aves, criadas em galpões de pequenas propriedades no Sul do País. Além da moradia coletiva, a alimentação e a vigilância sanitária também são parecidas, mas as semelhanças terminam por aí.

Quando se olha para o mercado e o retorno financeiro, a criação de frangos para alimentação humana anda perdendo de goleada para as “fábricas de ovos” das galináceas. Na verdade, a criação de poedeiras dá lucro no momento em que a produção de frangos de corte opera no vermelho ou, no máximo, empata os investimentos. “Em abril, o frango teve o pior resultado desde maio de 2016. A rentabilidade foi negativa. O custo de produção superou o preço do animal vivo em 66 centavos de real”, afirma Juliana Ferraz, analista do mercado de frango do CEPEA/USP.

Se o cenário já era ruim, as coisas pioraram com a recente aplicação de embargos e sobretaxas que frearam a velocidade dos embarques do frango brasileiro para o exterior – caso da União Europeia, que vetou carne de 20 abatedouros, e da China, que impôs sobretaxas de até 38%. O resultado é uma inundação de oferta que o mercado interno não consegue absorver. Essa sobra de frango foi enxugada parcialmente, e à força, pela greve dos caminhoneiros que acarretou a morte e descarte de 70 milhões de aves e o atraso no alojamento de novos pintinhos.

Mas ainda tem muito frango nos galpões pelo País afora: 560 milhões. “Acredito que o ponto de equilíbrio deve ser um plantel de 450 milhões de aves. Com o acentuamento da crise, as agroindústrias e cooperativas aceleraram o ajuste (redução de plantel) que teria de ser feito”, observa Dirceu Bayer, presidente da Cooperativa Languiru, em Westflália, no Rio Grande do Sul.

A favor do ovo nessa disputa está o já conhecido fato de que, em tempos de crise econômica, os consumidores correm para a fonte de proteína mais barata. E o ovo ainda é um dos poucos produtos em que o preço da unidade ainda se conta em centavos (produtores gaúchos recebem R$ 100 por 30 dúzias, o que dá menos de 28 centavos por ovo). Somado a isso, está a redenção deste item na alimentação humana.

“O ovo ficou 50 anos como vilão da alimentação. Foi processado, julgado e incriminado. Mas hoje a reputação foi recuperada pelos médicos e nutricionistas”, aponta Joel Zulian. “O ovo agora é pop”, brinca o primo, Paulo.

Reestruturação

O salto que os primos Zulian pretendem dar nos negócios passa, obrigatoriamente, pela reestruturação e profissionalização do sistema de trabalho e produção. O galpão que está sendo ampliado, e que agregará mais 10 mil galinhas, terá coletada de ovos totalmente automatizada, permitindo a expansão sem perder o caráter de agricultura familiar. Os primos buscam também obter o selo SISBI-POA, federal, que permitirá que os ovos extrapolem os limites de Erechim.

A Granja Zulian conta ainda com assistência técnica presencial, e frequente, de uma veterinária que ajuda a deixar o negócio em conformidade com as regras da Instrução Normativa 56, do Ministério da Agricultura. A granja, por exemplo, já está toda cercada com tela de malha de 2 cm, conta com um livro-registro de qualquer visita à propriedade, e instalou um sistema de controle do desperdício de ração para evitar a presença de aves, moscas e roedores nas proximidades.

O prazo final para adequação à IN 56/2007, alterada pela IN 59/2009, que exige registro de todas as granjas do país, terminou no dia 03/03/2018.

“Estamos seguindo as normas oficiais, mas sempre levamos em conta que o amadorismo não tem mais espaço. Inclusive na parte da responsabilidade técnica, em que muitos responsáveis são omissos e só assinam, agora eles vão ter que atuar junto com a granja. Essa biosseguridade é para controlar os riscos, não deixar contaminações como a salmonela entrarem na granja e garantir um produto de qualidade. Já faz algum tempo que isso vinha sendo exigido, mas agora todas as granjas vão ter que se adequar”, diz Simone Dal Maso, responsável técnica da Granja Zulian.

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