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No interior do Rio Grande do Sul, como em boa parte do Brasil, a predileção das pessoas é por ovos vermelhos. A proporção de consumo é de quase três para um em relação aos ovos brancos. “O pessoal acha que o ovo marrom, ou vermelho, é mais forte e nutritivo”, diz Joel Zulian, avicultor que mantém um plantel de 25 mil galinhas poedeiras – a maioria vermelha – em Erechim, no norte do Rio Grande do Sul.

Será que existe mesmo essa vantagem nutricional do ovo, facilmente distinguida pela cor com que ele se apresenta ao consumidor?

É fato que ovos vermelhos e brancos são produzidos a partir de raças diferentes de galinhas. No caso da granja Zulian, os vermelhos são de galinhas de genética selecionada das linhagens comerciais Isa Brown e Novogen Brown. “O custo de produção dessas galinhas vermelhas é mais alto, por que elas são um pouco mais caras para o produtor, são maiores e mais resistentes, e acabam comendo mais”, diz a médica veterinária Simone Dal Maso, que presta assistência técnica à granja.

Do ponto de vista nutricional, no entanto, o zootecnista Wagner Garcia de Araújo, da Cooperativa Coopeavi (ES), e Luiz Fernando Albino, professor da Universidade Federal de Viçosa (MG), sustentam, em trabalho de pesquisa conjunto, que “não há diferença entre ovos brancos e ovos vermelhos, ambos são igualmente ricos em proteínas, vitaminas e sais minerais e contêm por volta de 220 miligramas de colesterol”.

Paulo Roberto Zulian mostra parte da “coleção” de ovos vermelhos da granja da família em ErechimDaniel Caron/Gazeta do Povo

A professora do curso de Nutrição da PUC-PR, Gisele Pontaroli Raymundo, confirma que a cor não diz nada sobre o conteúdo. “É como ter cabelo loiro ou moreno. Nutricionalmente, os ovos são iguais”, afirma.

Sistema de criação

Se a galinha for criada da forma “caipira”, aí sim podem haver diferenças nutricionais, ainda que pequenas, em relação aos ovos de granja, porque neste sistema de criação as galinhas são de raças de crescimento mais lento, têm alimentação vegetal abundante, pastejam e ciscam livremente numa área maior – ou seja, podem expressar o que se chama de comportamento natural – o que não é possível na criação em gaiolas com alta densidade por metro quadrado.

Segundo José Eduardo dos Santos, diretor da Associação Gaúcha de Avicultura, o ovo caipira é diferente por que a galinha fica livre para comer o que quiser no pasto: “Ela come inseto, minhoca, outros grãos, o que der para ela. Então, com essa alimentação diferenciada o ovo vai ter também uma coloração diferente, com propriedades nutricionais mais acentuadas do que um ovo convencional”.

A diferença nutritiva do ovo de galinha caipira, no entanto, se limita à presença de mais betacaroteno, que dá cor intensa à gema do ovo. “As rações são elaboradas de forma a conter todos os nutrientes que a galinha precisa para botar ovos. A diferença está realmente na presença de mais betacaroteno, por causa dos vegetais que a galinha caipira come. Essa galinha criada solta segue o ciclo natural da vida, come milho e outros vegetais, então até o sabor é melhor”, afirma a nutricionista da PUC-PR.

Cuidados

Por ser uma criação de larga escala, o sistema de produção convencional de ovos exige cuidados adicionais, como lembra a veterinária Simone Dal Maso. “A ave em confinamento produz mais, mas tem mais riscos de infecção. Os desafios sanitários são maiores, é preciso utilizar prebióticos que eliminam as bactérias ruins do intestino e fazem proliferar bactérias que ajudam a absorver os nutrientes e cuidam do trato intestinal. As aves caipiras não apresentam tantos desafios, já que vivem soltas e sujeitas a menos estresse, gerando também menos pressão por infecções. Mas como produzem menos, o custo de manter uma ave caipira aumenta”.

A ração utilizada pela granja Zulian, nos dois sistemas de criação, aponta Dal Maso, é toda à base vegetal - milho de qualidade, farelo de soja, farelo de trigo, calcário calcítico e premix vitamínico-mineral.

Santos, da Asgav, assegura que os ovos convencionais são 100% seguros. “Damos uma atenção especial às medicações e vacinas que são aplicadas na atividade em larga escala. A gente tem a completa segurança de que isso é feito dentro dos padrões permitidos pela lei, ou seja, não afeta a saúde humana, simplesmente os planteis tem de ser protegidos por que são susceptíveis a enfermidades. Assim como nós precisamos tomar uma série de vacinas ao longo da vida, com as aves, numa população de larga escala, não é diferente, para protegê-las de diversos vetores de bactérias e vírus”.

No momento, a família Zulian faz reforma nos aviários e na propriedade para encontrar espaço mais adequado para mil galinhas caipiras, que botam entre 750 e 800 ovos por dia. Na região, os ovos caipiras alcançam um preço entre 20 e 30% maior do que os convencionais.

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